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Água anima cientistas sobre possibilidade de vida em planeta a 111 anos-luz da Terra

Até 50% da atmosfera do planeta K2-18b pode ser composta por água - ESA/UCL
Até 50% da atmosfera do planeta K2-18b pode ser composta por água Imagem: ESA/UCL

Pallab Ghosh - BBC News

12/09/2019 13h45

Em 10 anos, novos telescópios espaciais podem ser capazes determinar se a atmosfera do K2-18b contém gases que podem ser produzidos por organismos vivos.

Astrônomos encontraram água, pela primeira vez, na atmosfera de um planeta que orbita a "zona habitável" de uma estrela distante.

A descoberta faz do planeta - chamado K2-18b - um candidato plausível na busca por vida extraterrestre.

Dentro de 10 anos, novos telescópios espaciais serão capazes determinar se a atmosfera do K2-18b contém gases que podem ser produzidos por organismos vivos.

Os detalhes foram publicados na revista científica Nature Astronomy.

A cientista Giovanna Tinetti, da University College London (UCL), descreveu a descoberta como "surpreendente".

"Esta é a primeira vez que detectamos água em um planeta na zona habitável ao redor de uma estrela onde a temperatura é potencialmente compatível com a presença de vida", disse ela.

A zona habitável é a região ao redor de uma estrela onde as temperaturas são suficientemente favoráveis para que a água exista na forma líquida na superfície de um planeta.

O K2-18b está a 111 anos-luz de distância, longe demais para o envio de uma sonda - para efeito de comparação, nosso Sol está a 0,00001581 ano-luz da Terra.

Por isso, a única opção é esperar o lançamento da próxima geração de telescópios espaciais, na década de 2020, e procurar gases na atmosfera do planeta que só possam ser produzidos por organismos vivos, segundo Ingo Waldmann, da University College London.

"Essa é uma das maiores questões da ciência e sempre nos perguntamos se estamos sozinhos no universo", disse Waldmann. "Nos próximos 10 anos, saberemos se lá existe produção química compatível com vida."

O que é um exoplaneta?

  • Planetas fora do nosso Sistema Solar são chamados exoplanetas;
  • O primeiro exoplaneta foi descoberto em 1992, orbitando um pulsar (estrela de nêutrons que emite radiação eletromagnética);
  • Mais de 4 mil foram detectados até hoje, usando várias técnicas;
  • Muitos são grandes planetas que se assemelham a Júpiter ou Netuno;
  • Muitos planetas gigantes foram encontrados orbitando muito perto de suas estrelas.

A equipe responsável pela descoberta examinou os planetas descobertos pelo telescópio espacial Hubble entre 2016 e 2017.

Os pesquisadores determinaram alguns dos produtos químicos na atmosfera dos planetas ao estudar as mudanças na luz das estrelas durante as órbitas dos planetas. A luz filtrada pelas atmosferas dos planetas foi sutilmente alterada pela composição da atmosfera.

Somente o planeta K2-18b revelou a molécula da água, que é um ingrediente imprescindível para a vida na Terra. A modelagem computacional dos dados sugeriu que até 50% de sua atmosfera poderia ser água.

O novo planeta tem pouco mais que o dobro do tamanho da Terra e tem uma temperatura fria o suficiente para ter água líquida, entre zero e 40°C.

Angelos Tsiaras, membro da equipe de cientistas, disse que encontrar água na atmosfera de um exoplaneta potencialmente habitável é "incrivelmente emocionante".

"Isso nos aproxima de responder à pergunta fundamental: a Terra é única?", afirmou.

Longo caminho

Uma dificuldade em relação a essa abordagem, porém, é que os astrônomos não conseguem chegar a um consenso sobre quais gases seriam indícios de vida. Esse será um longo caminho.

É provável que isso exija um levantamento da composição química de centenas de planetas e uma compreensão de como é essa evolução, de acordo com o professor Tinetti.

"A Terra realmente se destaca em nosso próprio sistema solar. Tem oxigênio, água e ozônio. Mas se encontrarmos tudo isso em torno de um planeta em torno de uma estrela distante, teremos de ser cautelosos ao dizer que isso sustenta a vida", afirmou.

"É por isso que precisamos entender não apenas alguns de planetas na galáxia, mas centenas deles. E o que esperamos é que os planetas habitáveis -se destaquem, que veremos uma grande diferença entre os planetas habitáveis- e os aqueles que não são."

A missão Ariel, da ESA, poderia ajudar a verificar a presença de vida em outros planetas - ESA/STFC RAL Space/UCL/Europlanet-Science Office - ESA/STFC RAL Space/UCL/Europlanet-Science Office
A missão Ariel, da ESA, poderia ajudar a verificar a presença de vida em outros planetas
Imagem: ESA/STFC RAL Space/UCL/Europlanet-Science Office

Beth Biller, do Instituto de Astronomia da Universidade de Edimburgo, diz acreditar que evidências de vida em um planeta ao redor de uma estrela distante eventualmente serão descobertas.

"Isso seria uma mudança de paradigma para toda a humanidade", disse ela à BBC News.

"Não será necessariamente um 'E.T. telefonando para casa', mas provavelmente micróbios ou alguma outra forma de vida simples. Mesmo assim, quando isso acontecer, será uma descoberta enorme."

O lançamento do Telescópio Espacial James Webb (JWST) da Nasa, previsto para 2021, e a missão Ariel da Agência Espacial Europeia sete anos depois, permitirão que os astrônomos estudem em detalhes as atmosferas dos diversos planetas que foram detectados até agora.

A água foi identificada em outros planetas, mas eles eram muito grandes ou muito quentes para sustentar a vida. Planetas menores e mais frios são muito mais difíceis de detectar.

A equipe da UCL conseguiu fazer isso desenvolvendo algoritmos capazes de identificar a composição química das atmosferas de planetas potencialmente habitáveis.

O K2-18b foi descoberto em 2015 e é uma das centenas de super-Terras - planetas com massa entre a Terra e Netuno - encontradas pela sonda Kepler da Nasa. Espera-se que a missão Tess da Nasa detecte mais centenas nos próximos anos.

A pesquisa foi financiada pelo Conselho Europeu de Pesquisa e pelo Conselho de Instalações de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, que faz parte da Agência de Pesquisa e Inovação do Reino Unido (UKRI).