'TikTok está indo melhor que nós', reconhece Zuckerberg em tribunal
O Instagram teria tido "muita dificuldade" para crescer sem o Facebook, e o WhatsApp "não tinha ambição o suficiente", afirmou nesta quarta-feira Mark Zuckerberg em um tribunal de Washington, ao defender a decisão do grupo Meta de adquirir esses dois aplicativos.
Zuckerberg compareceu pelo terceiro dia consecutivo perante o tribunal, em um caso no qual os Estados Unidos acusam a gigante das redes sociais de ter comprado Instagram e WhatsApp há mais de dez anos para evitar a concorrência contra Facebook e Messenger.
Se o juiz do tribunal federal decidir em favor da agência de defesa do consumidor, a FTC, a Meta pode ser obrigada a se desfazer das duas plataformas.
O executivo afirma que os dois serviços não teriam atingido tanto sucesso entre os usuários sem os investimentos de sua companhia. "É muito difícil chegar a esse tamanho. Temos que inovar e resolver muitos problemas técnicos, organizacionais e jurídicos", argumentou sobre o Instagram, que tem 2 bilhões de usuários no mundo.
Isso teria sido impossível sem a empresa californiana? "Impossível, certamente não, mas provável? Na verdade, não", respondeu.
Sobre o aplicativo de mensagens WhatsApp, ele era "tecnicamente impressionante", segundo o bilionário, mas seus fundadores "careciam de ambição".
Sheryl Sandberg, ex-diretora de operações da Meta, depôs após Zuckerberg e repetiu grande parte do que ele disse no tribunal. Segundo ela, o grupo teve que enfrentar uma série de rivais, incluindo o Google, à medida que a concorrência na internet aumentava.
"Cada vez que você entra no seu computador ou celular, tem a opção de escolher a que dedicar o seu tempo. É por isso que todos esses produtores competem, pelo seu tempo e pela sua atenção", ressaltou Sheryl.
Criar ou comprar
O julgamento começou na última segunda-feira, cinco anos depois da denúncia apresentada durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump, e espera-se que dure oito semanas.
Para a FTC, a Meta (então Facebook) adquiriu o Instagram em 2012 por 1 bilhão de dólares (R$ 5,8 bilhões, na cotação atual) e o WhatsApp em 2014 por 19 bilhões de dólares (R$ 111 bilhões, na cotação atual) com o objetivo de "eliminar as ameaças imediatas".
Zuckerberg, entretanto, voltou a rechaçar essa interpretação. "Estávamos interessados na perícia [do Instagram] em fotografia e no intercâmbio de imagens, mas não víamos o aplicativo como uma rede real que competisse com o que estávamos fazendo naquele momento", assegurou.
O Facebook trabalhava em sua própria ferramenta de fotografia à época, e suas equipes avaliaram os prós e contras entre um desenvolvimento interno ou a aquisição. "A intenção nunca foi deixar de oferecer o Instagram a seus usuários ou torná-lo pior", disse.
Além de defender os interesses dos consumidores, o julgamento se desenvolverá sobre a definição do mercado.
A FTC diz que os serviços de Meta são parte das "redes sociais pessoais", que permitem às pessoas manter contato com familiares e amigos, e que a experiência piorou para os usuários, que são obrigados a tolerar muitos anúncios, por exemplo.
'Melhores do que nós'
A companhia de Menlo Park (Vale do Silício) garante que enfrenta uma concorrência feroz de outras plataformas populares.
Diante da ascensão meteórica do TikTok, "vimos que nosso crescimento desacelerou drasticamente", detalhou Zuckerberg nesta quarta-feira.
Seu grupo respondeu com o "Reels", vídeos curtos com o mesmo formato que deu ao aplicativo chinês seu tremendo sucesso.
"Mas o TikTok continua sendo maior que Facebook ou Instagram, e não me agrada que nossos competidores estejam melhores que nós", acrescentou.
O YouTube é o outro grande rival da Meta em termos de usuários, mas também na atração de criadores de conteúdo, que se tornaram imprescindíveis para todas as redes sociais, segundo o executivo.
"Especialmente nos últimos 10 anos, o vídeo se tornou o principal meio para expressar e consumir conteúdo online", argumentou.
"O YouTube tem um sistema muito bem desenhado para os criadores, é um competidor importante para nós", concluiu.
Zuckerberg fez de tudo para ganhar a simpatia do presidente Donald Trump e tentar resolver o caso fora dos tribunais, mas a FTC, inclusive sob a presidência republicana, parece decidida a continuar com uma das ações antimonopólio mais importantes dos últimos anos no setor tecnológico.
Em agosto, o Google foi declarado culpado de abusar da sua posição dominante no mercado de buscas on-line. Apple e Amazon também enfrentam processos.
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