Topo

Congresso Mundial da Natureza começa esta semana após previsões climáticas alarmistas

30/08/2021 07h02

Paris, 30 Ago 2021 (AFP) - O Congresso Mundial da Natureza, o evento mais importante para a proteção do meio ambiente, começa na sexta-feira (3) na cidade francesa de Marselha após a divulgação de novas previsões alarmistas da ONU sobre o futuro do planeta.

O encontro reúne em pé de igualdade governos e organizações não governamentais, algo incomum em fóruns internacionais e uma situação que os ecologistas querem aproveitar para divulgar um novo grito de alerta.

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN, fundada em 1948), que organiza o congresso, "é realmente única porque reúne governos e ONGs (...) sejam grandes ou pequenas", explica à AFP Susan Lieberman, vice-presidente da Wildlife Conservation Society (WCS).

O aquecimento global é pior e mais rápido que muitos temiam, segundo o relatório mais recente divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, aprovado há menos de um mês por 195 países. O mundo pode alcançar em 2030 o limite de +1,5ºC, 10 anos antes do previsto, segundo os especialistas.

O impacto nos animais e nas planas de um aumento da temperatura desta magnitude é desconhecido e alguns cientistas chegam a mencionar uma sexta extinção de espécies.

Atualmente, mais de 37.400 espécies estão ameaçadas de extinção, quase 28% de todas as conhecidas pelo ser humano, segundo a Lista Vermelha elaborada pela UICN desde 1964.

"Certamente eu diria que estamos à beira de uma sexta extinção em massa de espécies", declarou Craig Hilton-Taylor, responsável por elaborar a lista, à AFP.

- Direito de voto de organizações indígenas - As metas dos países ricos e dos ecologistas esbarram nos interesses de muitos países em desenvolvimento, como a Índia, e o que antecipa debates acirrados em novembro, durante a conferência sobre mudança climática (COP26) de Glasgow, que foi adiada no ano passado por causa da covid-19.

Neste contexto, o congresso de Marselha não tem poder de decisão real, mas é um fórum de debates para orientar políticas e pressionar os governos.

A ferramenta científica de pressão mais conhecida da UICN é a Lista Vermelha, que será atualizada novamente esta semana.

A pandemia também provocou o adiamento deste congresso, que este ano apresenta como novidade o direito de voto das organizações de povos autóctone, como a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA).

Esta aliança deseja propor aos mais de 1.400 membros da UICN uma moção para proteger 80% da vasta bacia do Amazonas até 2025, incluindo as demandas de terras que estão pendentes para as tribos indígenas com os nove governos da região.

"Não há financiamento realmente para os que conservam as florestas" criticou José Gregorio Díaz Mirabal, coordenador da COICA.

Um estudo da ONU publicado em março ressaltou que as terras habitadas pelos povos originários da América Latina são as que menos sofrem desmatamento.

"Não faz sentido que consultores, empresas, cheguem para ensinar aos indígenas o que devem fazer para proteger, que é o que sempre fizemos", declarou Díaz Mirabal. "Isso tem que ser um investimento direto, que nunca chega".

A UICN tem conseguido preservar o delicado equilíbrio entre governos e ONGs, entre cientistas, ativistas e empresários, graças à livre participação e expressão de todas as partes, e à diplomacia nos bastidores, afirmam analistas

"A UICN prefigura o que poderia ser uma cooperação entre entidades governamentais e não governamentais em outros setores do direito internacional", explica Juliette Olivier, do Centro de Estudos e Pesquisas Políticas, da universidade Paul Cézanne, em Aix-Marseille.

jz/es/fp