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Em momento de catástrofes naturais, especialistas da ONU preparam relatório crucial sobre clima

23/07/2021 07h25

Paris, 23 Jul 2021 (AFP) - Representantes de quase 200 países se reúnem a partir de segunda-feira (26), durante duas semanas, para adotar o novo relatório dos especialistas sobre o clima da ONU, um texto de referência que será publicado em 9 de agosto, 10 dias antes de uma conferência crucial para o futuro da humanidade, afetada por uma série de catástrofes naturais.

Desde o último relatório de avaliação dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em 2014, o mundo mudou consideravelmente.

O Acordo de Paris de dezembro de 2015 estabeleceu como objetivo limitar o aquecimento global "muito abaixo" de +2°C na comparação com a era pré-industrial e, se possível, de +1,5°C.

Milhões de jovens têm ido às ruas desde então para exigir uma ação dos governantes. E nunca houve tantos sinais de que a mudança climática é uma realidade.

Nas últimas semanas, o planeta registrou uma onda de calor sem precedentes no Canadá, incêndios no oeste dos Estados Unidos, inundações catastróficas na Alemanha e na Bélgica e chuvas torrenciais na China.

"Os sinais de alerta estavam aí, mas imagino que as pessoas pensem que acontecerá com os outros, em outro lugar, mais tarde", comenta Kaisa Kosonen, do Greenpeace.

Até alguns cientistas foram pegos desprevenidos.

"O clima mudou mais rápido do que se esperava", declarou Tim Lenton, da Universidade de Exeter, para quem a forma de atuação do IPCC, por consenso, levou-o a "moderar" sua mensagem no passado.

- Antes de 30 anos - O planeta ganhou aproximadamente 1,1°C desde a Revolução Industrial. E cada décimo adicional de grau conta, porque acarreta fenômenos extremos.

Agora, a pergunta é: seremos capazes de conter o aquecimento a +1,5°C para limitar os danos?

O IPCC revelará seus prognósticos em 9 de agosto, após duas semanas de reunião virtual dos 195 Estados-membros. O encontro começa nesta segunda-feira, 26 de julho.

As pesquisas que devem basear o documento apresentam indícios claros.

"Se não reduzirmos nossas emissões na próxima década, não vamos conseguir. O mais provável é que (a meta de) +1,5°C seja alcançada entre 2030 e 2040. Esta é a melhor estimativa que temos hoje", disse à AFP o climatologista Robert Vautard, um dos autores da primeira parte da avaliação do IPCC.

Os outros capítulos serão divulgados em 2022. A parte que inclui os impactos, da qual a AFP obteve uma versão preliminar, mostra que a vida na Terra mudará em 30 anos, ou mesmo antes. Estes efeitos serão divulgados depois da COP26, a conferência do clima da ONU prevista para acontecer em novembro, em Glasgow.

Muitos esperam que o relatório a ser apresentado em agosto pressione os governos para que apliquem as políticas necessárias.

"Estamos enfrentando diariamente a destruição e o sofrimento (...). É importante reconhecer que falamos do futuro do planeta. Não podemos brincar com isto", insistiu esta semana Patricia Espinosa, um dos principais nomes da ONU para questões climáticas.

- Seguir lutando-Neste contexto, a presidência britânica da COP26 reunirá ministros de quase 40 países no domingo (25) e na segunda-feira (26) para "estimular" as negociações.

Para conter o aquecimento a +1,5°C, seria necessário reduzir as emissões, a cada ano, em 7,6% de média entre 2020 e 2030, segundo a ONU. Em 2020, foi registrada uma queda, devido à pandemia, mas a expectativa é de alta este ano.

Com base no pequeno nível de medidas para energias limpas, a Agência Internacional de Energia (AIE) prevê, inclusive, um recorde de emissões em 2023.

Para inverter a tendência, é necessário "reduzir rápida e drasticamente as emissões de gases do efeito estufa, abandonar o uso de carvão, petróleo e gás e proteger os sumidouros de carbono", insiste Stephen Cornelius, da WWF.

A Organização Meteorológica Mundial calcula em 40% a probabilidade de que as temperaturas subam mais de 1,5°C por ano até 2025.

Por isto, a humanidade precisa continuar lutando, afirmam os especialistas.

Se superarmos +1,5°C, "esta não é uma razão para dizer 'já aconteceu, nos damos por vencidos'", disse à AFP o cientista Peter Thorne, um dos autores do relatório.

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