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A Terra não será salva sem a contribuição da Índia

20/04/2021 09h51

Nova Délhi, 20 Abr 2021 (AFP) - Os esforços no combate às mudanças climáticas para manter a Terra apta à vida serão insuficientes se a Índia, terceira maior emissora de gás carbônico do mundo, não contribuir significativamente, alertam os especialistas.

"Todos os caminhos que levam ao sucesso da transição para energias limpas em nível global passam pela Índia", ressaltou a Agência Internacional de Energia (AIE), em relatório recente.

E para acrescentar: "As apostas não podiam ser maiores, para a Índia e para o mundo".

O vasto país asiático, que tem 1,3 bilhão de habitantes, deve se tornar a nação mais populosa do planeta até meados da década, segundo as Nações Unidas.

De acordo com a AIE, sua população urbana deverá aumentar para 270 milhões de pessoas até 2040, um tamanho significativo para sua pegada de dióxido de carbono.

Todos esses moradores da cidade precisarão de moradia, veículos, bens de consumo, energia e ar condicionado para sobreviver aos escaldantes verões indianos.

- Carvão mais barato - Esses dados dão o que pensar antes da cúpula virtual sobre o clima convocada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, esta semana, e da COP26 em Glasgow, em novembro.

Mas a Índia não pretende receber lições do Ocidente, alertaram as autoridades indianas sem rodeios.

Como o ministro do Meio Ambiente, Prakash Javadekar, que lembrou na semana passada ao ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, da "responsabilidade histórica" do Ocidente em termos de emissões de gases de efeito estufa.

"E agora nos dizem para não usar carvão. As tecnologias alternativas deveriam ser muito mais baratas do que o carvão, para haver um abandono do carvão", declarou.

No entanto, "a Índia é uma nação responsável", acrescentou. "Fará o que for preciso para lidar com as mudanças climáticas".

A Índia já sofre as consequências das mudanças climáticas com o derretimento das geleiras do Himalaia, crise da água, aumento das temperaturas e o aumento da frequência de ciclones.

A poluição do ar por veículos, indústria, geração de energia e agricultura foi responsável por mais de um milhão de mortes prematuras no país em 2019.

Ao contrário de muitos outros países, a Índia está no caminho de superar as metas voluntárias que estabeleceu para si mesma no Acordo de Paris.

Isso inclui o aumento da participação de combustíveis não fósseis na produção de eletricidade para 60% até 2030, contra uma meta inicial de 40%.

- 450 gigawatts em energias renováveis -A Índia também estabeleceu para si mesma a ambiciosa meta de atingir 450 gigawatts de capacidade de energia renovável até lá.

A energia solar representa atualmente menos de 4% de sua produção de eletricidade e o carvão 70%. Até 2040, a energia solar e o carvão deverão representar, cada um, cerca de 30% da produção, de acordo com a AIE.

Mas as emissões de carbono provavelmente aumentarão em mais 50% até 2040, o que compensaria a queda esperada nas emissões na Europa no mesmo período.

É possível reduzir as emissões modernizando a infraestrutura de eletricidade da Índia.

Mas a principal fonte de emissões de CO2 continua a ser a indústria e o transporte, com 25 milhões de caminhões adicionais esperados nas estradas até 2040.

A produção de carvão da Índia é de 700 milhões de toneladas por ano, atrás apenas da China.

"A Índia deveria fazer mais, mas também deveria ganhar o apoio da comunidade internacional", disse Harjeet Singh, da Action Aid Climate, à AFP.

As mudanças necessárias são muito profundas para que o país anuncie uma data para zerar as emissões líquidas, como os Estados Unidos, a União Europeia e a China.

De acordo com um estudo do think tank Council on Energy, Environment and Water (CEEW), a quota de carvão, petróleo e gás teria de passar de 73% em 2015 para 5% para chegar a zero emissões líquidas até 2050.

Usar as tecnologias existentes para reduzir as emissões seria mais realista, mas um custo adicional de US$ 1,4 bilhão teria de ser arcado pelas nações mais ricas, de acordo com a AIE.

Para o ministro Javadekar, a contribuição financeira prometida pelos países desenvolvidos não foi realizada. "Onde está o dinheiro?" , perguntou.

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