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Voyager 2 envia dados sobre o espaço interestelar e pode viver mais 5 anos

Voyager 2 - NASA
Voyager 2 Imagem: NASA

Da AFP, em Paris

04/11/2019 19h08

Uma sonda lançada pela Nasa quatro dias após a morte de Elvis proporcionou um verdadeiro tesouro de dados além da "bolha solar" que envolve a Terra e nossos planetas vizinhos, relataram cientistas nesta segunda-feira.

Mas para cada mistério que a Voyager 2 resolveu sobre os ventos solares, campos magnéticos e raios cósmicos que golpeiam a fronteira entre o espaço interestelar e a esfera de influência do Sol, surgiu um novo.

A Voyager 2 deixou a órbita da Terra em 1977, um mês antes da sua gêmea Voyager 1, mas levou sete anos a mais para atingir o limite externo da heliosfera, a cerca de 18 bilhões de quilômetros de distância.

A heliosfera é formada pelo campo magnético do Sol e por ventos solares que podem atingir velocidades de três milhões de quilômetros por hora.

Ela pode ser comparada a um superpetroleiro cósmico atravessando o espaço, disse Edward Stone, professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia e principal autor de um dos cinco artigos publicados na revista Nature Astronomy.

"À medida que se move pelo meio interestelar, há uma onda na frente, assim como com a proa de um navio", disse Stone a jornalistas por telefone.

Os cientistas esperavam responder a uma série de perguntas comparando os dados enviados pelas duas sondas, que perfuravam a bolha protetora do Sol em diferentes ângulos e locais.

"Não tínhamos nenhum dado quantitativo bom sobre quão grande é essa bolha que o Sol cria ao seu redor com vento solar supersônico e plasma ionizado acelerando em todas as direções", disse Stone.

"Vazamento" de partículas

A Voyager 2 confirmou, por exemplo, a existência de uma "barreira magnética" na borda externa da heliosfera, que havia sido prevista pela teoria e observada pela Voyager 1.

"Mas, ao contrário de todas as expectativas e previsões, a direção do campo magnético não mudou quando a Voyager 2 cruzou a heliopausa", disse à AFP Leonard Burlaga, cientista do Centro de Voo Espacial Goddard da Nasa e principal pesquisador de um dos estudos.

A chamada heliopausa é a fronteira de contato relativamente fina, onde o vento solar de partículas carregadas e o vento interestelar colidem.

Os cientistas também ficaram surpresos com o fato de que levou 80 dias para a Voyager 2 atravessar essa barreira magnética, enquanto sua sonda irmã o fez em menos de um dia.

E há também o enigma do vazamento.

Quando a Voyager 1 cruzou o limiar da heliosfera, detectou partículas do espaço sideral - notadamente raios cósmicos - correndo na direção oposta.

"Na Voyager 2, foi exatamente o contrário", disse Stone. "Depois que saímos da heliosfera, continuamos vendo partículas vazando de dentro para fora".

Em pelo menos um caso, foi uma semelhança entre as duas missões que foi desconcertante.

Johnny B. Goode

"Isso é muito estranho", disse Tom Krimigis, cientista do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins e autor sênior de um estudo que relata medições de partículas carregadas.

"Um cruzamento (da heliopausa) ocorreu no mínimo solar, quando a atividade solar é a menor, e o outro no máximo solar", disse a jornalistas.

"Se considerarmos nossos modelos pelo valor nominal, esperamos que haja uma diferença maior".

A atividade do Sol aumenta e diminui em ciclos de 11 anos.

Construídas para durar uma dúzia de anos, Voyager 1 e Voyager 2 partiram para explorar os planetas exteriores do sistema solar, não para se tornarem os primeiros objetos feitos pelo homem a sondar as profundezas do espaço interestelar.

Depois de 42 anos em ação, elas continuam fortes, embora ambas ficarão sem energia e silenciosas dentro de cinco anos, segundo os cientistas.

Mas isso não significa que elas desaparecerão, disse Bill Kurth, pesquisador da Universidade de Iowa e coautor do estudo focado nas ondas de plasma.

"Elas vão durar mais que a Terra", disse. "Estão em suas próprias órbitas em torno da galáxia por cinco bilhões de anos ou mais, e a probabilidade de elas esbarrarem em algo é quase zero".

Se a vida inteligente em um canto distante da Via Láctea encontrar alguma das sondas um dia, um "disco dourado" incluindo o desenho de um homem e de uma mulher nus, o som de pássaros e de baleias e "Johnny B. Goode", de Chuck Berry, estarão a bordo.