Apesar de o WhatsApp ter sido comprado pelo Facebook há quase sete anos, a grande maioria do seu público até hoje não tinha muita ideia de que são dois aplicativos sob as ordens do mesmo chefe. E quando esse chefe chama-se Mark Zuckerberg, você tem que saber, cedo ou tarde, que sua privacidade é um valor negociável. Isso ficou mais evidente para muita gente nos últimos dias, quando apareceu na tela do celular de geral uma mensagem esquisita dizendo que "os termos e a política de privacidade do WhatsApp serão atualizados". Mas o que isso queria dizer? O que rolou?Para entender melhor o contexto, precisamos voltar um pouco no tempo. Depois que o Facebook comprou o inovador app de mensagens criado em 2009 por Brian Acton e Jan Koum, Zuckerberg tinha um objetivo: torná-lo lucrativo. Afinal, uma comprinha de US$ 16 bilhões (R$ 83 bilhões na cotação atual) precisa se reverter em mais dinheiro, não é? Então acompanhe: - Desde 2014, os cofundadores do WhatsApp continuaram à frente do aplicativo, mas internamente sempre houve muita pressão interna para que os dois deixassem de lado alguns princípios do seu "bebê". Afinal...
- ... Enquanto o "Zap" não tem nenhum anúncio e se norteava pela privacidade, o Facebook era quase o oposto; a rede social foi pródiga ao usar dados das pessoas para gerar publicidade segmentada. Então...
- ... Após muitas conversas, Koun, Acton e Zuckerberg nunca chegaram a um ponto de equilíbrio sobre o futuro comercial do WhatsApp. O que culminou na saída dos fundadores da empresa em 2017 e 2018. Daí...
- ... Zuckerberg ficou livre para mudar, em 2016, a política de privacidade do app. Na época, todo mundo precisou escolher se aceitava ou não compartilhar alguns de seus dados com as plataformas Facebook e Instagram, como por exemplo...
- ... Seu número de telefone e o tempo que passam no aplicativo. O objetivo? Personalizar mais os serviços do grupo de Zuckerberg, e claro, criar publicidade segmentada. Passados quatro anos...
- ... Desta vez o aviso da empresa tem um objetivo maior: turbinar o poder comercial do WhatsApp Business, outra iniciativa ligada ao app para ganhar dinheiro.
Por que é importante?Após 8 de fevereiro, você deverá aceitar os novos termos de uso para continuar usando o WhatsApp. Ou você aceita ou estará fora do aplicativo. E o que dizem esses novos termos? Dizem que as empresas poderão em breve "trocar figurinhas" entre seus clientes no WhatsApp Business e suas contas corporativas no Facebook. As tais figurinhas são alguns dados e metadados nossos, como nomes, números de telefone, aparelho utilizado e dados de transações e pagamentos. Pode ser bom para os negócios da empresa, mas isso significa uma nova brecha na famosa privacidade, outrora principal valor do WhatsApp. Pelo menos as conversas, mensagens, fotos, vídeos e áudios continuarão criptografados de ponta a ponta. Não é bem assim, mas está quase láComo esperado, muita gente que acreditou na proteção de dados do WhatsApp por anos ficou nervosa com o anúncio —não por acaso, os mensageiros rivais Signal e Telegram tiveram alta de downloads após a novidade. A empresa jura que em muitos aspectos práticos o app continua o mesmo. Mas quem garante, dado o recente histórico de mudanças na natureza do app, que isso continuará por muito tempo? Afinal, não custa lembrar que o Instagram, outra compra cara do Facebook lááá em 2012, também sofreu muitas metamorfoses de lá para cá, enchendo-se de recursos da concorrência, muitos anúncios e até ganhando lojinha própria. A julgar pelos acontecimentos dos últimos anos, o WhatsApp deve ir pelo mesmo caminho. A nós, resta dar aquela instaladinha no Telegram ou Signal e repensar se vale a pena o trabalho de mudar de aplicativo de novo. Ou fazer alguma pressão, como o Procon-SP já está fazendo. |