Salve, pessoal. Eu sou Helton Simões Gomes e esta aqui é a newsletter do Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas. Toda semana, eu e Diogo Cortiz conversamos sobre como a tecnologia afeta a pecinha mais importante de todas: nós. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, em Deu Tilt, o cardápio é o seguinte: Idade certa para IA; China estuda na escola do Piauí; Lucrando com dados; China vem para guerra tech. Bora para o papo? A China começou em 2025 a implantar uma política nacional para ensinar inteligência artificial a crianças a partir dos 6 anos. Desta vez, o país está atrasado. O Piauí já dá aulas de IA nas escolas estaduais desde o começo de 2024. O projeto brasileiro virou referência internacional ao ensinar IA de forma adaptada à realidade local. No estado brasileiro, a metodologia mistura computadores e métodos tradicionais, como lousa e cartolina. A China tá estudando na escola em que o Piauí, o estado brasileiro lá do Nordeste, tá dando aula, cara. A gente fala muito da China aqui e sobre como ela tem injetado na veia a ideia de inovação, inclusive levado para dentro das escolas o ensino de inteligência artificial, mas o Piauí começou isso há mais de um ano. Helton Simões Gomes VEJA AQUI O VÍDEO SOBRE ENSINO DE IA NO PIAUÍ O movimento chinês chama atenção pelo alcance: o objetivo não é formar programadores mirins, mas educar cidadãos críticos, capazes de entender como e quando usar a tecnologia. Atiçou a atenção do cenário global de educação essa nova política e estratégia da China de inserção de inteligência artificial na educação, porque eles fizeram um grande plano para ensinar inteligência artificial a partir dos 6 anos. Diogo Cortiz Desde pequenas, as crianças são orientadas a entender os limites e possibilidades da tecnologia, evitando enxergar a IA como um oráculo infalível. O programa Piauí Inteligência Artificial, criado pelo Estado em parceria com o Instituto Federal Farroupilha e as universidades federais do Pampa (Unipampa) e do Rio Grande do Sul (UFRGS), leva conceitos como o funcionamento de algoritmos para alunos a partir do 9º ano do Ensino Fundamental. Para entender como tudo funciona, Deu Tilt conversou com Amanda de Souza, professora do CETI (Centro de Ensino de Tempo Integral) Paulo Freire, de Guaribas, cidade a 653 km da capital Teresina. Amanda dá aulas de biologia, mas desde o ano passado assumiu também o ensino de IA. Ela conta que ensina conceitos técnicos usando aspectos da realidade dos alunos. Para que compreendessem o que é árvore de decisão, um dos mecanismos por trás das escolhas da IA, ela pediu para classificarem os animais da caatinga conforme suas características físicas. A atividade usou cartolina, tesoura e cola, porque, como conta a professora, nem tudo requer o uso de equipamentos para ser ensinado. Todos os professores vão para as salas já com um plano B, caso a internet não funcione, diz ela. Na escola dela, porém, há um laboratório equipado, com computadores e internet. O desafio é o número de máquinas —há uma turma com 42 anos para 25 PCs. Ao todo, ela ensina 235 estudantes. A IA é algo que não dá para fugir e cabe a nós nos adaptarmos. Principalmente essa geração de nativos digitais. Aí cabe ao professor alcançar essa onda. Tem muitos colegas que pensam que a IA pode nos substituir. Não vejo dessa forma. Vejo a IA como aliada para por exemplo construir um plano de aula, para me poupar horas e horas. Amanda Souza, professora da rede estadual de ensino do Piauí O programa do Piauí se apoia em dois pilares: - pensar com IA, usando criticamente as ferramentas;
- pensar sobre IA, refletindo sobre impactos éticos do que é feito.
Os professores lidam com esses dois temas. Pensar com o IA é, de alguma forma, interagir com a ferramenta e pensar em que momentos do aprendizado aquele serviço pode entrar sem comprometer a formação de conhecimento. O pensar sobre IA é como você vê os impactos positivos e negativos da IA e tem um pensamento crítico, que é mais ou menos o que a China está fazendo Helton Simões Gomes O projeto do Piauí já alcançou 90 mil alunos em 540 escolas. Devido ao alcance e ineditismo, foi premiado pela Unesco como uma das principais iniciativas de transformação tecnológica na educação. Para Diogo, o reconhecimento internacional mostra o potencial de modelos adaptados à realidade local e pode inspirar outros países. É uma iniciativa tão importante que foi reconhecida inclusive com o Prêmio Global da própria Unesco, que entre 86 iniciativas de diferentes países, escolheu essa do Piauí como uma das vencedoras, justamente por esse processo de transformação a partir da tecnologia. Diogo Cortiz |