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Thiago Gonçalves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O dinheiro em órbita: a quem serve a privatização da exploração espacial?

Elon Musk, eleito personalidade do ano pela revista Time, lidera a empresa SpaceX - Win McNamee/Getty Images
Elon Musk, eleito personalidade do ano pela revista Time, lidera a empresa SpaceX Imagem: Win McNamee/Getty Images

16/12/2021 04h00

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O bilionário Elon Musk, atualmente o homem mais rico do mundo com uma fortuna estimada em US$ 278 bilhões, foi eleito a personalidade do ano pela revista americana Time.

Quais foram os motivos da escolha? Certamente, Musk é um homem em evidência, com participação constante nas redes sociais e projetos arrojados de tecnologia, como os carros elétricos da Tesla.

Também é uma figura controversa, devido a alegações de ambientes de trabalho hostis em suas fábricas e casos como o Starlink, com um forte impacto negativo sobre a pesquisa astronômica no futuro.

Independente da opinião pessoal de cada leitor, é inegável que o prêmio dado a Musk coloca em evidência uma questão atual: a privatização da exploração espacial, liderada pela empresa SpaceX, da qual é CEO.

Claro, ele não está sozinho. Podemos também citar a Virgin Galactic, do britânico Richard Branson, e a Blue Origin, do líder da Amazon Jeff Bezos. É a corrida dos bilionários pela supremacia interplanetária.

Muitos aplaudem as conquistas de cada um, que são inegáveis. Recentemente, todos realizaram voos tripulados com civis a bordo, incluindo o ator William Shatner, conhecido como o capitão Kirk da série Jornada nas Estrelas original.

A SpaceX, em particular, também chama a atenção com seus foguetes, capazes de aterrissar verticalmente no retorno à Terra e barateando os custos do transporte de carga para o espaço.

No entanto, é importante examinar os avanços com cuidado.

Sobretudo, devemos refletir: a quem serve a exploração interplanetária privada? Afinal, embora a corrida seja financiada por alguns dos homens mais ricos do mundo, grande parte da empreitada é promovida com fundos públicos.

A SpaceX, por exemplo, conseguiu em outubro um contrato de quase US$ 3 bilhões com a Nasa para construir um sistema de alunissagem. A empresa americana recebeu US$ 140 milhões da agência espacial para construir um módulo de habitação luxuoso na Estação Espacial Internacional.

E você, pode participar dessa aventura? Pode, claro — se puder pagar o custo da viagem. Bilhetes antecipados custam a bagatela de US$ 250 mil, mas as filas de espera já são longas.

É importante frisar que não sou contra a existência de parcerias público-privadas. A SpaceX, em particular, conseguiu um avanço tecnológico que diminui os custos de lançamentos de foguetes, o que facilita por exemplo o desenvolvimento de observatórios astronômicos no espaço.

Mas é fundamental termos consciência do que serve como benefício real para o público e o que as companhias estão buscando.

Levar o homem a Marte, por exemplo, é um sonho de longa data, e os seriados de televisão promovendo a ideia capitalizam em cima do fascínio humano pelo espaço.

No entanto, não estamos falando de atividades filantrópicas, mas de empresas que estão buscando lucro para si ou seus acionistas.

Por trás dos vídeos no YouTube mostrando astronautas sorridentes, temos contratos de valores estratosféricos (com o perdão da palavra) com o Departamento de Defesa para o desenvolvimento de tecnologias militares.

Devemos então parar o progresso, fechar as novas empresas espaciais? Não, longe disso. Mas nossa responsabilidade é refletir, pensando na aplicação de verbas públicas e na responsabilidade inerente ao processo. Afinal, se construirmos um hotel de luxo no espaço, quem poderá se hospedar ali?