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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

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Composição estranha: exoplaneta tem rochas diferentes de tudo que já vimos

Impressão artística dos detritos de rocha ao redor de uma anã branca - NOIRLab/ NSF/ AURA/ J. da Silva
Impressão artística dos detritos de rocha ao redor de uma anã branca Imagem: NOIRLab/ NSF/ AURA/ J. da Silva

04/11/2021 04h00

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De que são feitos os planetas ao redor de estrelas? A maneira mais simples de responder essa pergunta deve ser simplesmente examinando a composição química de planetas no Sistema Solar. Afinal, hoje podemos recolher amostras do solo marciano e examiná-las em laboratório.

Mas e se a composição de outros sistemas planetários for muito diferente? Essa foi a pergunta feita pelo geólogo Keith Putirka, da Universidade do Estado da Califórnia, e Siyi Xu, do Laboratório Nacional de Pesquisa Astronômica dos Estados Unidos. No entanto, a metodologia aí é muito mais complexa: como podemos determinar a composição química de planetas a centenas de anos-luz de distância?

A solução encontrada foi utilizar os detritos de anãs brancas. Estes objetos são o resultado de estrelas semelhantes ao Sol que morreram há muito tempo. Nesse processo, a estrela cresce muito e depois diminui rapidamente, atingindo um tamanho semelhante à Terra e muitas vezes levando consigo grande parte do material dos planetas mais próximos.

Essas "anãs brancas poluídas" apresentam então uma grande quantidade de elementos que não são encontrados em nenhuma outra estrela.

A conclusão é que esse material deve ter se originado nos planetas que as orbitavam antes de sua morte.

A grande surpresa veio quando os cientistas analisaram os resultados.

A abundância de elementos como o magnésio e o silício não se assemelhava a nada que conhecemos no nosso próprio Sistema Solar.

A composição é tão estranha que os autores tiveram de inventar novos nomes para as rochas que devem haver existido nesses planetas, como o "piroxenito de quartzo".

Outro resultado importante foi a origem do material.

Pesquisadores pensavam que essa poluição viria sobretudo da crosta planetária, mas Putirka e Xu argumentam que os materiais devem ter vindo do manto, a camada dominante no interior do planeta.

"Se rochas da crosta existirem nesses casos, somos incapazes de enxergá-las, provavelmente porque ela representa uma fração pequena da massa de todos os componentes planetários", diz Putirka.

Isso significa que o problema está resolvido? Não necessariamente.

Segundo Diana Andrade, astrônoma da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a determinação de abundâncias químicas em exoplanetas é um enorme desafio. Mais ainda se estamos usando métodos secundários como os detritos encontrados na superfície de anãs brancas.

A única solução é continuar investigando, e buscar resultados independentes que possam confirmar (ou talvez contradizer) as conclusões deste trabalho. A ciência não para nunca.