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Ricardo Cavallini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Óculos Ray-ban + Facebook é quase um celular na cara, mas queremos isso?

Facebook lança óculos inteligentes em parceria com a Ray-Ban -
Facebook lança óculos inteligentes em parceria com a Ray-Ban

10/09/2021 09h20

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O Facebook acaba de anunciar e já botou à venda seus óculos inteligentes em parceria com a Ray-Ban. Apesar das expectativas para uns óculos de realidade aumentada, o Ray-Ban Stories é diferente de outras iniciativas como o Google Glass. Ele não projeta nada para o usuário, sendo usado para gravar imagens (fotos e vídeo) e para escutar música.

A parceria com a Ray-Ban resolveu um dos problemas de iniciativas similares como o Spectacles da Snap. O produto poderá ser usado em 5 opções de cores, lentes e 20 modelos, inclusive alguns dos mais icônicos da marca como o Wayfarer.

Ninguém vai se sentir ridículo usando o produto, muito pelo contrário.

Com preço nos EUA a partir US$ 299, custando mais caro para lentes polarizadas ou com prescrição, não é um produto barato. Mas se pensar que é um óculos de sol com fone de ouvido Bluetooth e uma câmera, o preço é interessante para algumas pessoas, mais ainda quando lembrarmos que um AirPods da Apple custa US$ 199.

Por enquanto a novidade está disponível nos EUA, Austrália, Canadá, Irlanda, Itália e Reino Unido e não tem previsão nem preço para o Brasil.

Queremos uma câmera no rosto?

A grande discussão que o lançamento deveria trazer não é relacionada ao produto em si, mas a sua categoria. Apesar de ter um LED para avisar quando está gravando e botão de liga e desliga, o óculos traz de volta a antiga mas tão atual discussão sobre privacidade.

Primeiro porque é muito fácil tampar esse LED, segundo que o Facebook não é exatamente a empresa que mais inspira confiança quando o assunto é privacidade.

Apesar de não parecer diferente de um smartphone neste aspecto (que também tem microfone e câmera), o fato de estar no seu rosto potencializa o problema, principalmente para ambientes que não permitem gravação, como vestiários ou alguns espaços empresariais.

Avança no design, falha como gadget

Em relação ao produto em si, apesar do avanço significativo do design, ainda deixa muito a desejar como gadget.

Para começar, não foi projetado para entrar em contato com a água, nem para receber respingos. Smartphones topo de linha já são bastante resistentes a água, inclusive imersão. Não se trata de comparar maçã com banana, para uns óculos de sol, isso pode ser um problema.

Como esperado, a bateria também não é uma maravilha. Uma carga permite escutar 1 hora de áudio, 30 minutos de chamadas, 10 fotos e 10 vídeos capturados e importados. Na mesma linha de outros gadgets vestíveis, o estojo também funciona como carregador, ajuda, mas não resolve.

Claro que não deveríamos esperar fotos e vídeos com a mesma qualidade que um celular topo de linha. Por isso uma câmera com 5 MP é bastante razoável. Vídeos de até 30 segundos também não me incomodam, são até perfeitos para gravar, obviamente, Stories para o Instagram. Porém, vídeos em formato quadrado (1184 px X 1184 px) me parecem um pouco limitados.

Outro ponto negativo, o produto não funciona acima de 35ºC, compreensível para um gadget, mas para óculos de sol pode não ser exatamente aceitável.

Porém, com todos esses pontos negativos, não podemos esquecer que se trata da primeira versão. O iPhone quando foi lançado não tinha uma série de funções consideradas básicas para os smartphones da época.

Ricardo Justus, CEO da Arvore, empresa que ganhou um Primetime Emmy com seu curta em realidade virtual, concorda: "é sem dúvida um primeiro passo deles para normalizar um futuro onde óculos inteligentes fazem parte do nosso cotidiano. Nesse ponto, o Facebook está declaradamente apostando que alguma versão desse tipo de dispositivo vai ser o futuro da computação, para substituir os smartphones."

Agora é esperar para ver a reação dos primeiros usuários. Será útil? Será divertido? Só usando pra saber. Eliza Flores, designer e pioneira no uso de tecnologia imersiva e interativa para marcas alerta que "só pode ter uma visão crítica e construtiva quem conhece a experiência de fato. E experiências como esta são difíceis de se descrever. Precisa ser vivida para ser compreendida, de forma ativa e muito bem informada."

E você? Ficou curioso? Gostaria de ter um?