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Ricardo Cavallini

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

"Por que a criação não pode criar?": IA já registra patente de sua invenção

Gerd Altmann/ Pixabay
Imagem: Gerd Altmann/ Pixabay

03/08/2021 04h00Atualizada em 03/08/2021 19h33

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Acho que todos já entendemos que os limites do que a inteligência artificial pode fazer estão sempre sendo atualizados. Pelo menos quem costuma ler meus artigos sabe disso.

Já escrevi artigos por aqui sobre inteligência artificial roubando empregos, sobre IA criando obras de arte que foram vendidas por centenas de milhares de dólares nas mais tradicionais casas de leilão. Também falei dela pilotando caças de guerra melhor que pilotos humanos, ajudando a humanos a programar sem código e outras coisas mais.

Se para alguns ainda é estranho tudo o que está sendo possível produzir com IA, como permitir fazer filmes com pessoas que já morreram, acredito que para a maioria de nós, quando entramos no campo intelectual, fica ainda mais esquisito.

Acredito que a sensação da tecnologia poder substituir até mesmo as tarefas consideradas mais humanas deve incomodar muita gente.

Agora demos mais um passo nessa direção. Em 30 de julho de 2021, a justiça australiana reconheceu direitos autorais para a inteligência artificial. O que que dizer isso? Quer dizer que uma IA poderá criar e patentear suas ideias.

Seu experimento criou duas invenções.

Um sistema de luzes de advertência de perigo. Uma luz que pisca em um ritmo e um padrão específico que, segundo a IA, imita a atividade neural humana. Em resumo, um dispositivo e um método para atrair atenção de seres humanos.

Sistema Dabus cria dispositivo e método para atrair mais atenção - Reprodução/ Registro de Patente Europeu - Reprodução/ Registro de Patente Europeu
Sistema Dabus cria dispositivo e método para atrair mais atenção
Imagem: Reprodução/ Registro de Patente Europeu

E um novo tipo de recipiente de bebidas, cujo formato fractal pode trazer uma série de benefícios como facilidade de manuseio por robôs, transporte e transferência de calor.

Registro de Patente Europeu EP3564144 - Recipiente de comida, inventada pelo sistema Dabus - Reprodução/ Registro de Patente Europeu - Reprodução/ Registro de Patente Europeu
Recipiente de comida, inventada pelo sistema Dabus
Imagem: Reprodução/ Registro de Patente Europeu

A ação foi orquestrada por Ryan Abbott, um professor do Reino Unido, que pediu a patente em diversos países do mundo, justamente para provocar essa discussão.

Apesar do pedido negado em muitos países, inclusive na Austrália, ele foi concedido posteriormente por um juiz federal.

Segundo Abbott, "o fato de a IA ter criado invenções dignas de patente é mais uma evidência de que o sistema 'anda e fala' exatamente como um cérebro humano consciente.

Ele também afirma que não seria correto um engenheiro humano alegar ser o inventor visto que não contribuíram para a invenção. Seria inclusive criminoso em alguns países, como os EUA.

Abbott quer fomentar "um sistema de patentes que incentive adequadamente as pessoas a fazer IA que desenvolva inovações socialmente valiosas".

Para acalmar seus pensamentos, você pode pensar que, por trás dessa IA existe uma pessoa física ou jurídica que criou a IA e é dona dela, mas esquece que nos dias de hoje, podemos também ter soluções descentralizadas e abertas.

Assim como o bitcoin, poderíamos ter sistemas de inteligência artificial sem donos, criando e patenteando novas ideias.

Em sua sentença, o juiz Jonathan Beach perguntou: "por que nossas próprias criações também não podem criar?"

A provocação é pertinente, só resta saber se estamos dando um passo para a evolução humana ou apenas abrindo a caixa de Pandora.