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Ricardo Cavallini

Coronavírus: italiano tenta ajudar hospitais imprimindo peça de UTI em 3D

Peça hospitalar criada em impressora 3D é usada em equipamentos de UTI na Itália - Rperodução/ Facebook/ Massimo Temporelli
Peça hospitalar criada em impressora 3D é usada em equipamentos de UTI na Itália Imagem: Rperodução/ Facebook/ Massimo Temporelli

16/03/2020 13h51

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Assim como aconteceu em outros lugares pelo mundo, um hospital italiano da cidade de Brescia ficou sem equipamentos médicos durante a pandemia de coronavírus.

Um dos problemas mais graves era uma pequena válvula de plástico de um equipamento de terapia intensiva. Foi quando entraram em contato com Massimo Temporelli, fundador de um espaço maker da cidade com o seguinte desafio: seria possível produzir essa válvula em impressoras 3D baratas e acessíveis?

Depois de vários telefonemas, Massimo encontrou o engenheiro Christian Fracassi, que levou uma impressora para o hospital e em poucas horas desenhou e começou a produzir as válvulas teste. Em pouco tempo, os testes se mostraram bem-sucedidos e dez pacientes passaram a usar o sistema com as válvulas novas.

O sucesso da iniciativa chamou muita atenção e vários hospitais pelo mundo poderiam usar a mesma solução. Pelo processo tradicional, produzir e entregar peças novas pode levar semanas. Sem contar que a China —que produz quase tudo que é feito no mundo— ainda enfrenta problemas graves de produção.

Houve relatos que a empresa fabricante não quis liberar o modelo 3D da peça. Se o que protegia sua propriedade era um arquivo 3D, isso não impediu que a peça fosse produzida em poucas horas. Caso isso tenha realmente acontecido, a empresa agiu errado ou estava apenas defendendo sua propriedade intelectual? Foi uma atitude imoral, antiética ou apenas mais um exemplo da burocracia que grandes empresas sofrem?

Quando se trata de vida e morte, existem outros pontos que a discussão acalorada não permite. E se a empresa estivesse preocupada com sua responsabilidade legal? Essas peças produzidas pela impressora 3D não são certificadas. A produção não é certificada. O material não é certificado. Por questões óbvias, os procedimentos da saúde são extremamente regulados.

Não é a primeira vez que makers se juntam para criar equipamentos médicos. Em 2015, o médico humanitário Tarek Loubani criou um projeto aberto (que pode ser copiado ou alterado sem pagamento de direitos) para criar um estetoscópio barato, produzido com materiais simples e uma impressora 3D. Sua solução custa cerca de US$ 3 e tem performance superior a concorrentes de US$ 200 produzidos por grandes corporações.

Existem outros exemplos. A importância desses produtos criados por makers está no fato de serem acessíveis, não apenas no valor, mas em disponibilidade, produzidos localmente e de forma rápida.

Além das consequências óbvias e terríveis do coronavírus (como mortes e prejuízos de empresas paradas), a pandemia deve gerar discussões importantes para o futuro. Com tantas mudanças e desafios que temos pela frente, muitas regras corporativas não fazem sentido ou precisam ser atualizadas.

Regras sem sentido raramente são contestadas. Com tanta notícia ruim, se podemos tentar extrair algum impacto positivo no coronavírus será revisarmos parte dessas regras. Do mais básico, que é a ditadura do horário e a aversão ao trabalho remoto, a questões mais sérias, como o suporte a vida.

Enquanto isso, neste momento temos vários aviões voando pelo mundo vazios, pois as companhias aéreas precisam cumprir regras e cotas para não pagarem multas, perderem licença ou espaço em aeroportos. Não faz sentido para você? Não faz sentido para ninguém. Bem-vindo ao mundo corporativo.

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