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Pergunta pro Jokura

Quais foram as maiores lambanças do esporte mundial?

O australiano Steven Bradbury celebra sua improvável vitória nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 - David Gray/Reuters
O australiano Steven Bradbury celebra sua improvável vitória nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002 Imagem: David Gray/Reuters

16/09/2019 04h00

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Fernando Henrique Ceolin, de Sinop (MT)

Caro FHC, quanto tempo. Esquece o 7 a 1, o "hoje não, hoje sim" do Barrichello, aquele gol contra mais absurdo que seu time já marcou ou qualquer outro vexame esportivo que você conheça. A lista a seguir tem exemplos das mais variadas modalidades, individuais e coletivas, em que um deslize (ou uma sucessão deles) resultou em derrotas improváveis e vitórias tão épicas quanto cômicas.

Antes de irmos para os piores momentos, já peço aos leitores que enviem outros casos nos comentários.

Ouro de tolo

A medalha de ouro mais fácil da história olímpica caiu no colo de um australiano sortudo chamado Steven Bradbury, que competiu na patinação de velocidade em pista curta nos Jogos de Inverno de 2002, disputados em Salt Lake City (EUA).

A famosa máxima "o importante é competir" nunca foi tão apropriada. Com desempenho técnico mínimo para disputar as provas, Steven foi mantendo-se em pé sobre os patins, sempre na rabeira do pelotão de adversários até chegar a uma improvável final olímpica.

Nas quartas-de-final, Steven chegou em terceiro, mas passou de fase graças à desclassificação do canadense Marc Gagnon. Nas semifinais, Steven ficou de ponta a ponta em último, mas uma queda coletiva na última curva valeu ao australiano o segundo lugar e a chance de disputar a medalha de ouro.

Na grande final, ele só acompanhou os rivais de longe até volta decisiva. Na última curva, ele assistiu de camarote a queda dos quatro competidores que estavam brigando palmo a palmo pelo ouro à sua frente. Os favoritos se enroscaram, tombaram e deslizaram no gelo até a linha de chegada.

Bradbury foi o único que sobrou em pé e desfilou com pista livre rumo ao ouro. O americano Apolo Ohno (prata) e o canadense Mathieu Turcotte (bronze) ainda tentaram se arrastar para cruzar a linha antes do azarão, mas sem sucesso - foi a primeira medalha de ouro para um país do hemisfério sul na história das Olimpíadas de Inverno.

Morrendo na praia

Dessa vez as australianas eram favoritas no campeonato mundial de natação de 2001, mas comemoraram antes da hora... As nadadoras Petria Thomas, Giaan Rooney, Linda Mackenzie e Elka Graham terminaram a final do revezamento 4 x 200 m nado livre em 1º lugar, mas curtiram o gostinho do ouro por poucos minutos. É que as meninas exageraram na festa e pularam na água para celebrar antes das outras competidoras terminarem a prova, desclassificando a Austrália.

O consolo veio na prova individual dos 200 m nado livre, com o ouro de Giaan Rooney, mas Elka Graham, uma das favoritas, decepcionou de novo e nem subiu ao pódio - se marcasse o mesmo tempo do revezamento, Elka roubaria o ouro de Rooney.

Metendo os pés pelas mãos

Na Copa do Mundo de 1990, o goleiro-artilheiro René Higuita foi brincar com os pés e ajudou Camarões a ser a primeira seleção africana a ficar entre as oito melhores do mundo.

O jogo entre Colômbia e Camarões era eliminatório: valia pelas oitavas de final do Mundial disputado na Itália. Aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, o folclórico goleiro colombiano Higuita, famoso por sair da área para jogar com os pés, tentou um drible na frente do veterano artilheiro camaronês Roger Milla, de 38 anos.

Não deu outra: Camarões marcou o gol, venceu por 2 a 1 e seguiu para disputar as quartas de final contra a Inglaterra, perdendo por 3 a 2.

Apesar do vacilo, Higuita seguiu a carreira e continuou insistindo em jogar com os pés. Com 41 gols marcados, é o quarto maior goleiro-artilheiro de todos os tempos.

Correndo da vitória

O piloto canadense Scott Goodyear ficou famoso por ter ficado muito perto da vitória nas 500 milhas de Indianápolis por três vezes. Em 1992, o cara largou na última posição (33º) e chegou em segundo lugar, apenas 43 milésimos de segundo atrás do vencedor Al Unser Jr.

Na corrida de 1995, sedento pela vitória, o piloto fez uma ultrapassagem proibida no finalzinho da prova: Scott liderava a dez voltas do final, puxando o desacelerado comboio de carros atrás do pace car, que entra na pista quando a bandeira amarela está acionada por causa de algum acidente. Na hora da relargada, Scott se precipitou e ultrapassou o pace car antes que ele entrasse nos boxes. Só que a manobra é proibida e, como punição, ele precisaria passar lentamente pelos boxes. Scott se negou a cumprir a pena e acabou a corrida em 14º.

Escaldado depois de dois vices numa das corridas mais tradicionais do mundo, o canadense foi cuidadoso demais em 1997 e perdeu a prova para Arie Luyendyk. Scott liderava a corrida tranquilo, de novo sob bandeira amarela - quando as ultrapassagens são proibidas, lembra? - e estava com a vitória nas mãos até que, na última volta, a direção da prova decidiu dar uma relargada mal sinalizada. Scott demorou para acelerar e ficou em 2º mais uma vez.

Uma jogada de Boston

O Boston Red Sox já estava há 68 anos sem ser campeão na liga de beisebol dos EUA - o último título fora em 1918. A grande chance de quebrar a escrita foi no jogo 6 da final de 1986. O Boston esteve perto de fechar a série por 4 a 2: vencia o sexto confronto com o New York Mets por 5 a 3, mas deixou os rivais empatarem no finalzinho. A partida ainda estava sob controle do Boston - bastava eliminar um jogador adversário para forçar mais uma prorrogação - e a chance veio com uma rebatida fraca.

O problema é que o técnico John McNamara decidiu colocar Bill Buckner no finalzinho da partida para que o veterano fosse campeão em campo. Buckner deixou a bola passar por entre as pernas e a partida terminou em vitória dos Mets por 6 a 5. No decisivo jogo 7, os Mets foram campeões e os Red Sox tiveram que esperar até 2004 para conquistar o campeonato e quebrar o jejum que durou 86 anos.

Deixando o time na (contra)mão

Em 1929, a Universidade da Califórnia disputava um dos jogos mais importantes do futebol americano universitário, o Rose Bowl, contra Georgia Tech. Ainda no primeiro tempo, Roy Riegels roubou uma bola do ataque de Georgia Tech e partiu em disparada para a linha de fundo adversária, a fim de abrir o placar com um touchdown.

Só que assim que roubou a bola, Riegels tomou uma trombada que o desorientou e o fez correr 64 jardas (mais de meio campo) na direção errada, para desespero geral. Com o retrocesso em campo, Georgia Tech aproveitou a jogada seguinte para derrubar um jogador da Universidade da Califórnia dentro da end zone - faixa final do campo, pintada com as cores dos times - e abrir 2 a 0 no placar.

Georgia Tech venceu por 8 a 7 e levou o caneco. De consolo, Riegels jogou um 2º tempo fantástico e entrou para o Hall da Fama do Rose Bowl, em 1991.

Zebra ou burrice?

Bill Shoemaker, um dos maiores jóqueis da história, comemorou cedo demais. Foi no Kentucky Derby, a prova mais famosa do turfe, de 1957.

Diz a lenda que, na manhã que antecedeu a prova, o proprietário do cavalo Gallant Man teria dito a Shoemaker que sonhara com sua derrota por não prestar atenção à linha de chegada. O jóquei nem deu bola e partiu para a corrida tranquilo.

No finalzinho do páreo, Shoemaker e Gallant Man saíram da última curva liderando. Ao passar pelo último poste antes do fim, o jóquei freou de leve, acreditando já ter cruzado a linha de chegada. Ao perceber o vacilo, tentou uma última arrancada, mas Bill Hartack conduziu Iron Liege à vitória com a ponta do focinho à frente de Gallant Man.

Shoemaker, que já tinha faturado um Kentucky Derby, ainda venceu a prova por mais três vezes - em 1986, tornou-se o jockey mais velho a conquistar a corrida, aos 54 anos.

Segurando o empate?

Essa vem dos playoffs do basquete americano em 1984: o Dallas Mavericks jogava em casa contra o poderoso Los Angeles Lakers e conseguiu manter o jogo equilibrado até o finalzinho. Com seis segundos de posse de bola para definir a partida, o calouro Derek Harper, do Dallas, ficou batendo a bola calmamente diante da marcação do craque Magic Johnson, do Lakers.

Quando a buzina tocou encerrando o jogo, Derek disparou comemorando sozinho até perceber que o time e a torcida estavam calados. O jovem armador achou que o Dallas liderava o placar, mas o jogo estava empatado em 108 a 108. Na prorrogação, os Lakers - que terminariam a temporada como vice - venceram por 122 a 115, abrindo uma vantagem de 3 a 1 na série.

História mal contada

O golfista argentino Roberto De Vicenzo deve ter matado muita aula de matemática na infância para praticar suas tacadas. Só isso explica sua habilidade para chegar à final do Masters de 1968, um dos torneios mais tradicionais do esporte, ao mesmo tempo em que uma lambança numérica lhe custou o título. No dia em que completava 45 anos, Roberto disputava o primeiro lugar da competição quando faturou o buraco 17 em três tacadas.

O aniversariante só não contava com a falha de cálculo do seu parceiro, o americano Tommy Aaron, que anotou quatro tacadas no cartão de pontos. Sem conferir, o argentino assinou o cartão e validou a pontuação no seu placar. Como as regras não permitiam apelação depois da assinatura do atleta, o vacilo custou a possibilidade de disputar uma prorrogação no 18º buraco contra o americano Bob Goalby, que vestiu a famosa jaqueta verde de campeão. Ao final da prova, Roberto declarou: "Como sou estúpido!"

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