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Pedro e Paulo Markun

REPORTAGEM

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Óculos e guinada do Facebook: as principais notícias do ano sobre metaverso

Avatares no Horizon Worlds, a plataforma de rede social em realidade virtual da Meta (ex-Facebook) - Divulgação/Meta
Avatares no Horizon Worlds, a plataforma de rede social em realidade virtual da Meta (ex-Facebook) Imagem: Divulgação/Meta

Colunistas do UOL

26/12/2021 04h00

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Esta coluna tem menos de três meses, mas na última edição do ano, resolvemos fazer um rápido balanço dos principais fatos e temas que dominaram o território aqui abordado em 2021.

Nossa ideia é de que, no futuro, quando forem contar a história desse começo de século, os pesquisadores irão identificar este ano como sendo o ponto de virada para uma nova situação, em que as relações humanas deixaram de estar obrigatoriamente atadas no espaço e no tempo.

Óculos de realidade virtual e guinada do Facebook

No campo da realidade virtual, o avanço mais notório - os Oculus Quest 2 — foi lançado em setembro de 2020. Ele deu aos usuários mais imersão e menos desconforto. Ainda é pesado e caro, mas foi o produto mais vendido na última Black Friday.

Segundo todas as contas, a Meta (novo nome do Facebook) vendeu cerca de 2 milhões a mais de Quest 2 do que a Microsoft Xbox Series X | S combinada - 10 milhões contra 8 milhões. Ainda perde para o Playstation 5 por 3,4 milhões, mas deixou de ser um brinquedinho de meia dúzia de iniciados.

Óculos de realidade virtual Quest 2 - Divulgação - Divulgação
Óculos de realidade virtual Quest 2
Imagem: Divulgação

Mas nada superou o gesto simbólico de Mark Zuckerberg de trocar o nome de sua empresa para Meta - ainda que no balanço de final de ano, Bill Gates tenha previsto que em dois ou três anos a maioria das reuniões virtuais será em algum tipo de metaverso, apoiada em aparatos de realidade virtual.

Outro passo importante para que o metaverso se popularize e ganhe escala e força foi a multiplicação de negócios envolvendo os NFTs - esse certificado de autenticidade que cria escassez e que garantiu a venda de uma colagem jpeg (isso mesmo, uma imagem digital) do artista americano Beeple por US$ 69,3 milhões de dólares em março de 2021. Foi o prenúncio de uma série de leilões em que produtos e terrenos digitais alcançaram valores estratosféricos.

Em agosto, o Facebook já havia lançado o Horizon Workroom, seu ambiente de trabalho em VR (realidade virtual), em setembro, anunciou a parceria com a RayBan para criar óculos de sol que permitem filmar, fotografar e "ler" dispositivos de realidade aumentada.

Também em setembro, a banda inglesa Muse colocou no ar na plataforma Stageverse um show gravado com 16 câmeras 360, em que os fãs, devidamente paramentados com seus Oculus com avatares customizados (e caros) podem acompanhar de vários pontos do palco e da plateia.

Games e moda no metaverso

Por falar em avatares, a Epic Games, desenvolvedora do popular jogo Fortnite, lançou um aplicativo chamado MetaHuman Creator que permite a qualquer pessoa criar pessoas digitais com traços bem realistas, em questão de minutos.

Velhos de todo mundo, uni-vos: nada tendes a perder, exceto suas faces rosadas e lisinhas, em seus avatares. No Fortnite, os jogadores também podem comprar tênis e bolsas da grife Balenciaga para seus avatares.

Grife de luxo Balenciaga lançou itens para o Fortnite - Divulgação - Divulgação
Grife de luxo Balenciaga lançou itens para o Fortnite
Imagem: Divulgação

Mas nessa pré-história, não há um único metaverso - mas vários. O Roblox, uma plataforma que abriu o capital em dez de março e onde desenvolvedores independentes criam jogos populares com crianças, pode ser visto como uma espécie de pré-metaverso, ainda que não demande os Oculus Quest, nem ofereça a imersão total da VR.

O que essa plataforma esbanja são números impressionantes: só no primeiro trimestre de 2021, mais de 42 milhões de pessoas conectadas diariamente resultaram num total de quase 10 bilhões de horas empenhadas no jogo.

Essa turma gastou o correspondente a 652 milhões de dólares na moeda virtual do site, o Robux, comprando chapéus, armas, balões de ar quente e outros badulaques digitais para seus personagens. Depois de abrir o capital em 10 de março, a avaliação da empresa disparou e chegou a 50 bilhões de dólares neste fim de ano.

Adesão de grandes marcas

Em novembro, a Nike apresentou seu novo mundo virtual, dentro do Roblox. Na Nikeland haverá estádios e arena para que os jogadores possam disputar diversos jogos virtuais - de preferência, devidamente paramentados com produtos digitais à venda na loja virtual do território.

Metaverso da Nike no jogo Roblox - Divulgação - Divulgação
Metaverso da Nike no jogo Roblox
Imagem: Divulgação

Especialistas do BCG Henderson Institute, um think tank de estratégia do Boston Consulting Group, vinculam a sobrevivência de plataformas como Fortnite, Roblox, Decentraland, Discord ou Topia à inserção de marcas fortes no mundo real, para reforçar a geração de receitas. E lembram que embora mais de 150 milhões de pessoas joguem Roblox todos os meses, em 2020 o prejuízo da companhia passou dos 250 milhões de dólares.

Uma das mais conhecidas marcas em todo mundo, a Coca-Cola, entendeu a mensagem e leiloou recentemente uma caixa com três NFTs no Decentraland: uma jaqueta personalizada da Coca-Cola; um visualizador de som que apresenta clipes de áudio enquanto você bebe ou derrama Coca virtual; e um Cartão da Amizade, com obras de arte da grife feitas na década de 1940. E o vencedor do leilão recebeu um cooler de verdade cheio de latas de Coca para beber no mundo real.

Outra marca pioneira é a Hyundai. Em outubro, a companhia coreana lançou o Hyundai Mobility Adventure, um espaço virtual compartilhado no Roblox no qual avatares podem experimentar as ofertas se comunicarem entre si. Eles podem testar os novos veículos e soluções de transporte da Hyundai; operar veículos robóticos e dispositivos de mobilidade aérea urbana; e participar de diversas atividades e experiências sociais.

A referência à maior fábrica de automóveis do mundo permite olhar mais para trás, em busca de parâmetros e metáforas. As bolas de cristal nunca tiveram sua eficácia comprovada, mas talvez valha lembrar que, em outubro de 1908, quando Henry Ford lançou o protótipo do primeiro carro popular da história, o Modelo T, os Estados Unidos tinham menos de 30 mil quilômetros de estradas pavimentadas. No começo dos anos 20, mais da metade dos veículos registrados em todo mundo eram Fords - só do Modelo T foram fabricadas e vendidas 15 milhões de unidades.

O metaverso pode ser um novo Modelo T? Ninguém tem a resposta precisa, mas é muito evidente a disposição de grandes nomes do mundo digital, como Zuckerberg e Gates estarem apostando suas fichas nesse lance.