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Efeitos do aumento do nível do mar aparecem sob seus pés e longe das praias

Spencer Selover/ Pexels
Imagem: Spencer Selover/ Pexels

Uma das consequências mais discutidas do aquecimento global é o aumento do nível do mar. A imagem que nos vem à mente quando pensamos no assunto é de ondas gigantes engolindo praias e ameaçando prédios, e é fácil ter uma falsa noção de segurança quando vamos à praia e vemos que continua tudo lá como sempre esteve.

Isso porque a discussão gira em torno dos efeitos costeiros diretos, ou seja, erosão e enchentes marinhas. Esses efeitos de fato ocorrem (embora um fim de semana na praia não seja o suficiente para observá-los), mas o aumento do nível do mar traz também outros impactos menos óbvios, como a diminuição da profundidade dos aquíferos subterrâneos.

Os aquíferos subterrâneos são compostos por água doce que preenche os pequenos espaços entre os grãos de areia e solo.

Nas áreas costeiras, esses reservatórios são geralmente rasos, localizados a poucos metros dos nossos pés, e podem misturar água doce com a água salgada dos oceanos. Essa mistura ocorre pois há troca de água e de sal no solo que divide a área continental e o oceano.

Com o aumento do nível do mar, aumenta a pressão da água marinha em direção ao continente, e a tendência é que mais água salina seja "empurrada" para os reservatórios subterrâneos terrestres. Com mais água, o nível dos reservatórios sobe e se torna mais próximo da superfície.

Esse processo leva a diversos problemas. Por exemplo, contaminantes que estavam enterrados podem subir também com a água do reservatório.

Outra consequência é que infraestrutura subterrânea como canos de esgoto e água, linhas de energia e telecomunicação que estavam acima dos reservatórios podem encharcar e se corroer, requerendo operações complicadas e caras de reparo e prevenção de danos futuros.

No Havaí, por exemplo, água salgada nos aquíferos subterrâneos corroeu canos que levam água potável à capital Honolulu, e foi necessário bombear 330 mil litros de água contaminada do solo para consertá-los.

Um terceiro problema custoso de ter reservatórios de água mais rasos é que há menos solo disponível para absorver água da chuva entre a superfície e os aquíferos, aumentando a frequência de enchentes.

Em suma, o aumento do nível do mar não é necessariamente uma onda gigante nos perseguindo, pode ser o nível da água subindo lentamente sob nossos pés.

Recentemente, um outro fenômeno ligado ao aumento do nível do mar que chamou a atenção no sudeste dos EUA foi a expansão das chamadas florestas fantasmas, que são áreas que até recentemente eram ocupadas por florestas e hoje são repletas de árvores mortas cercadas por pântanos.

Apesar de algumas dessas áreas estarem localizadas a dezenas de quilômetros da costa, a morte da vegetação ocorre devido ao excesso de água e sal no solo. Além do dano à biodiversidade, parte das áreas afetadas são zonas rurais, o que leva também a um prejuízo econômico.

A principal causa do aumento do nível do mar é o derretimento de geleiras por conta do aumento da temperatura média do planeta, que leva água que antes estava armazenada sobre a terra para o mar.

Nas altas latitudes do hemisfério norte (Ártico) esse derretimento é mais acelerado, o que não quer dizer que não ocorra no hemisfério sul. Na península Antártica, por exemplo, mais de 80% das geleiras estão derretendo, e de forma cada vez mais acelerada.

Outra causa é o derretimento do gelo marinho. Apesar do gelo marinho não contribuir diretamente para o aumento do nível do mar, já que é formado por água que já estava no oceano, o gelo formado na interface entre o continente e o oceano funciona como uma tampa, que impede que o gelo terrestre acabe no mar.

Sem o gelo marinho para "segurar", as geleiras fluem mais livremente para o oceano, como pode ser visto aqui:

Diferentes regiões do mundo vão ser afetadas de maneira diferente pelo aumento do nível do mar, já que a quantidade de gelo derretida é grande o suficiente para redistribuir a massa do planeta, alterando a atração gravitacional entre o oceano e a terra.

Mundialmente, no entanto, estima-se que até o fim do século entre 176 e 287 milhões de pessoas vão ser diretamente afetadas pelo aumento do nível do mar e enchentes costeiras, comprometendo entre 12 e 20% do PIB mundial.

Entender quando, onde e o quanto o nível do mar vai aumentar, portanto, é crucial para traçar planos eficientes para lidar com esse problema.