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Letícia Piccolotto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

De Pix a rede social de criptomoedas: qual será o futuro do dinheiro?

jcomp/Freepik
Imagem: jcomp/Freepik

26/06/2021 04h00Atualizada em 26/06/2021 15h39

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Uma verdadeira revolução financeira teve início em novembro de 2020. O Banco Central lançou no Brasil o Pix, uma solução tecnológica que tem transformado o presente e também o futuro do dinheiro.

Há grandes chances de que você já conheça e tenha utilizado o Pix. E você não está sozinha(o): segundo dados do Banco Central, até maio de 2021, em torno de 253,5 milhões de chaves já haviam sido criadas e 87,6 milhões de cadastro feitos.

O Pix não só facilitou como ampliou o acesso a serviços financeiros. Vale lembrar: com ele, as transferências ou compras são instantâneas, estão disponíveis a qualquer dia e horário, e a compensação ocorre em até 10 segundos.

Ele também se mostrou uma solução potencial para enfrentar desafios bastante antigos e conhecidos de nosso país, como a ausência de uma identidade digital, como discuti aqui.

Ascensão das fintechs

As fintechs, startups que atuam no setor financeiro, crescem de maneira exponencial e os números são surpreendentes. Segundo a base de dados Crunchbase, uma verdadeira referência no universo de startups e empreendedorismo, há mais de 16 mil empresas no ramo das fintechs.

O setor também é altamente desenvolvido no Brasil. De acordo com a Associação Brasileira de Startups, há pelo menos 800 empresas atuando no setor financeiro.

O Brasil também é lar de fintechs unicórnio, as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão, como Nubank, Ebanx e C6 Bank. Respeitadas as especificidades de cada produto, em comum, todas elas apostam na utilização da tecnologia como o grande trunfo para produzir serviços que sejam mais acessíveis, baratos e bem-avaliados pelos clientes.

O caso Pix exemplifica muito bem como o setor financeiro é um verdadeiro laboratório para o surgimento de soluções inovadoras e tecnológicas, especialmente a partir do trabalho das fintechs.

As soluções estão crescendo rapidamente e são cada vez mais disruptivas e, em alguns casos, distópicas, como é o caso do BitClout.

O futuro (e morte) do dinheiro?

Muitas das soluções tecnológicas desenvolvidas podem ser classificadas no grupo de crowdfunding. A ideia é simples e intuitiva: buscar financiamento coletivo para uma ideia ou causa junto a pessoas dispostas a aplicar recursos no projeto.

algumas nuances no termo, muitas delas relacionadas às condições em que o dinheiro é utilizado:

  • doações, quando não há nenhuma contrapartida para os investidores;
  • recompensas, muito similares a um modelo de "compra antecipada";
  • equity crowdfunding, quando há interesse em retornar o investimento adquirindo títulos futuros da organização;
  • e, por fim, o lending base, também chamado de P2P (peer-to-peer), em que os contribuintes recebem juros pelo empréstimo do dinheiro.

A Kickstarter, conhecida como a maior plataforma de crowdfunding do mundo, arrecadou mais de US$ 20 milhões para um só projeto: o pebble time, um relógio inteligente. No Brasil, a Catarse é uma referência em crowdfunding e foi responsável pelo recorde de financiamento coletivo latinoamericano.

Mas os exemplos não param aí: para os que desejam investir em boas ideias, a StartmeUp apresenta um portfólio de startups selecionadas; para os que desejam doar, a plataforma Benfeitoria apresenta uma seleção de iniciativas por tema de interesse; ou se você está interessado em apoiar um negócio na modalidade de compra antecipada, pode explorar as oportunidades do Kickante.

E com a ampliação do uso de bytes no lugar de notas ou centavos, há também um oceano vasto para as aplicações de inteligência artificial (IA) no universo financeiro.

A Weel desenvolveu um algoritmo próprio e oferece um serviço de análise de crédito utilizado por empresas privadas e já foi responsável por processar mais de R$ 1 bilhão em financiamentos.

Outras soluções, por sua vez, buscam contribuir com a educação financeira, como é o caso de Olivia, assistente financeira virtual que usa IA e insights da economia comportamental para entender os hábitos de consumo das pessoas, auxiliando no planejamento de gastos pessoais. Ou a Terra Magna, empresa que oferece uma série de serviços financeiros para o setor de agronegócio.

E no universo das govtechs existem muitas oportunidades também para as fintechs. Exemplo disso é a recente aquisição da startup Refinaria de Dados, acelerada pelo BrazilLAB em 2017 pelo banco ModalMais.

Mas precisamos também considerar os efeitos práticos em meio a tanta disrupção.

Nas últimas semanas, especialistas em tecnologia têm se dedicado a analisar o impacto do BitClout, uma cripto rede social. É isso mesmo: uma rede social, similar a um Twitter, na qual usuários podem publicar conteúdo, mas também comprar e vender criptomoedas com base nos perfis publicados, apostando na influência que eles terão ao longo do tempo. Até a conclusão deste artigo (em 25 de junho), um Bitclout custava US$ 122, valor que oscila diariamente.

Ainda não sei qual será o impacto do Bitclout, mas já não há dúvidas de que os influenciadores digitais passam a ter um novo nível de importância.

E daqui para frente?

Não há limite para as soluções desenvolvidas no universo das fintechs. E, por mais disruptivas que elas possam parecer, estamos só no começo do desenvolvimento de novas possibilidades nesse setor.

Restam, no entanto, dois grandes desafios: transpor as soluções desenvolvidas no universo das fintechs para outras áreas que possam se beneficiar dessas tecnologias - como discuti em minhas redes sociais. E, principalmente, democratizar o acesso à tecnologia para todas e todos: de nada adiantará termos soluções inovadoras se elas não puderem transformar a vida do maior número de pessoas possível.