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Reportagem

Google cria central de agentes de IA com rivais e robôs capazes de ligar

O Google lançou um novo pacote de ferramentas para dar a empresas a capacidade de construir, comprar e permitir a qualquer funcionário criar seu próprio agente de inteligência artificial.

Esses robôs são tratados como a próxima fronteira da IA, porque são feitos para tomar decisões de forma autônoma, ainda que a tarefa exija transações financeiras ou requeira interação com outras máquinas e seres humanos.

Munidos com informações de uma empresa, eles podem executar de processos internos, como avaliar currículos em busca de candidatos com habilidades específicas, a atividades externas, como atender clientes pelo telefone ou gerar campanhas de marketing.

O Google aposta no Gemini Enterprise para sair na frente das rivais na era dos agentes de IA. E faz isso com uma estratégia raramente usada por grandes empresas, principalmente aquelas que já contam com grandes ecossistemas de serviços. Em vez de focar nas muitas habilidades de suas IAs, a big tech aposta na integração de sua plataforma com os serviços de concorrentes. Na prática, empresta dos rivais os superpoderes de suas IAs para tornar o próprio serviço mais capaz. Isso inclui os agentes criados por outras empresas, como a Microsoft.

Você pode conectar qualquer outro sistema que tenha, porque reconhecemos a necessidade de abertura quando você trabalha em um contexto empresarial
Thomas Kurian, CEO do Google Cloud

A coluna viu uma demonstração de como o Gemini Enterprise funciona. A interface é a de um chat, o que leva as pessoas a interagir por meio de texto, áudio ou envio de imagem, bem parecido com outras ferramentas de IA. Ainda que o propósito não seja só usá-lo para buscar informação online ou criar conteúdo, é possível ter acesso a diversos modelos de IA do Google, como Veo3 (geração de vídeo), Nano Banana (criação de imagens), Vids (transforma um formato de conteúdo em outro).

O objetivo da plataforma, por outro lado, é conectar o funcionário de uma empresa a agentes de IA, disponíveis de três formas diferentes:

  • O próprio indivíduo pode criar algo que automatize uma ou várias tarefas de seu dia a dia;
  • A empresa em que ele trabalha pode disponibilizar agentes feitos internamente para as mais variadas funções;
  • Por meio de uma loja, chamada "AI agent finder", é possível encontrar alguns robôs criados por parceiros do Google, como PWC, Deloitte, Kyndryl e box. Eles são especializados em tarefas relacionadas a uma determinada área empresarial, como recursos humanos, marketing, TI, contabilidade, jurídico --alguns são gratuitos e outros, pagos.

O Google promete que construção desses agentes seja fácil, já que:

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  • Não é preciso saber programar para criar uma dessas ferramentas de automação;
  • É possível construir não só agentes de IA internos, que lidam com a retaguarda de uma companhia em processos invisíveis ao público, mas também aqueles que interajam com clientes, de carne e osso;
  • Essa interação pode acontecer por telefone, canais da internet, celular, email ou chat;

Só que dá para complicar, porque o Google também incluiu no Enterprise dois recursos voltados a profissionais técnicos:

  • Data Scientist Agent: permite a transformação de dados bagunçados em algo organizado e a canalização deles para um ambiente de trabalho onde podem ser explorados;
  • Gemini CLI: um agente que permite a interação com o Gemini a partir de um terminal de programação.

A premissa dos agentes de IA é entender o funcionamento da empresa a tal ponto que consigam fazer algo em nome dela. Isso exige ter acesso a dados relevantes, sejam organogramas e fluxos de trabalho de diversas áreas, sejam contratos e documentação sobre as interações de setores entre si, com os clientes e os negócios realizados pela companhia.

Alguns agentes precisam buscar informações em determinados documentos mantidos em uma aplicação, checar emails e ficar de olho em sistemas internos de chat.

Em algumas empresas, esse tipo de atividade está espalhado não só em diversos sistemas, mas que são feitos por fabricantes diferentes, o que pode ser um problema na hora de fazer um dado conversar com outro.

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É nesse ponto que o Google quer abrir as portas do Gemini Enterprise para os concorrentes e permitir integrações para tornar esse processo, em tese, menos traumático.

O novo pacote corporativo do Google não só permite que fluam para os agentes de IA dados produzidos e armazenados em sua própria suíte de produtividade, o Workspace (Docs, Sheets, Gmail), mas também da de rivais, a exemplo do Microsoft 365 (Microsoft Teams, Word, Excel, PowerPoint, Outlook, OneDrive), e de aplicações como Salesforce e SAP. Segundo a companhia, são sistemas de mais de 100 mil empresas.

Ainda que o Enterprise permita conexão com o Workspace, a empresa interessada em fazer isso terá de assinar os dois serviços individualmente. No Brasil, o Enterprise no Brasil custará para cada usuário R$ 80 (versão FLW), R$ 140 (Business), R$ 190 (versão tradicional) e R$ 330 (Enterprise plus).

A versão corporativa do Workspace possui mensalidades que vão de R$ 32,72 a R$ 128,40 por usuário —o preço varia conforme a capacidade de armazenamento e ao nível de acesso a alguns serviços como NotebookLM.

O Google diz que o Gemini Enterprise mantém as diretrizes de governança definidas pela empresa para o serviço a ser plugado. Ou seja, se há uma certa restrição de compartilhar documentos criados em uma determinada plataforma, essa barreira é mantida no Gemini.

Além da integração aos sistemas de companhias rivais, outro argumento do Google para companhias abraçarem o novo pacote é dispensar a montagem de um quebra-cabeça com serviços produzidos por diversos fabricantes na hora de criar uma central de gerenciamento de ferramentas de IA. Desde o processador (TPU) até os modelos de IA (Gemini), tudo é desenvolvido pelo Google.

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O Gemini Enterprise é a integração de todas estas peças numa plataforma super fácil de usar para cada funcionário em cada empresa, não importa quão pequena ou quão grande
Thomas Kurian

Os agentes do Enterprise também poderão conversar com os robôs autônomos criados com outras plataformas, como o Copilot, da Microsoft, e fazer transações em dinheiro via cartão de crédito, carteiras digitais e até com criptomoedas. Tudo graças a dois protocolos de interação entre sistemas, que acabaram de ser desenhados por um conjunto de empresas.

Para quem já conhece o ecossistema do Google, a chegada do Gemini Enterprise, na prática, toma o lugar do AgentSpace enquanto solução única. Na verdade, o Enterprise é uma repaginada turbinada da agora plataforma aposentada -ela permitia apenas criar agentes de IA e orquestrá-los para interagir entre si e com dados submetidos pela empresa cliente à plataforma.

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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