Armas e Android: Google desce para o playground da disputa EUA x China

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Depois de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, avisar que está fechado com o governo dos Estados Unidos, encerrar a checagem de fatos por lá e liberar de moderação automática posts ofensivos sobre gênero e raça, chegou a vez do Google dar aquela piscada de olho para o governo de Donald Trump.
De quebra, a empresa foi convidada a ingressar no playground da disputa comercial entre EUA e China.
É cedo para avaliar, mas, se as ações desta semana escalarem, veremos uma das maiores empresas de tecnologia do mundo fornecer inteligência artificial para armas autônomas —sim, aquela que atira primeiro, não pergunta depois e dispensa humanos para apertar o gatilho— e ter contestado seu reinado no mercado chinês de celulares, o maior do mundo. Tudo isso em um momento sensível, em que o Google é pressionado para dar mais retorno já que investiu bilhões em IA e tem seu domínio contestado dentro de casa.
O que rolou?

Se Zuckerberg aproveitou o anúncio de mudanças na moderação de Facebook, Threads e Instagram para mandar recado aos países da América Latina e Europa, o Google foi menos evidente.
- Ok, antes disso, teve a foto do Sundar Pichai, CEO da Alphabet (mãe do Google), junto a outros chefões das Big Tech na posse do novo presidente dos EUA. A foto é uma mensagem e tanto, mas o que conta são as ações e...
- ... Na esteira do efeito Trump, o Google descontinuou sua iniciativa de diversidade e inclusão: destinar 30% de sua liderança minorias até este ano. Isso porque...
- ... O presidente editou um decreto instruindo fornecedores de serviços federais, caso do Google, a não manter programas de diversidade e inclusão, coisa que ele considera "discriminação ilegal". Só que...
- ... Em 2024, negros eram 5,7% da força de trabalho no Google e latinos, 7,5%. Em 2020, era 3,7% e 5,9% respectivamente. Estar ao lado de Trump tem suas desvantagens, pois...
- ... Na segunda (3), dias após os EUA anunciar tarifas de 10% para produtos chineses, a China incluiu o Google no pacote de retaliação, já que...
- ... O governo chinês abriu investigação por monopólio contra a líder mundial em buscas. Como...
- ... Há poucas informações sobre o que é investigado e o Google já não oferece na China seus serviços online --da busca ao maps, passando por YouTube e a nuvem--, sobra um suspeito isolado, o Android, já que...
- ... Com exceção dos aparelhos da Huawei, excluída pelo embargo norte-americano, o sistema operacional equipa todos os smartphones chineses, e seus fabricantes reclamam desde sempre das taxas do Google. Por outro lado...
- ... O Google revogou restrições internas ao fornecimento de IA para armas autônomas e serviços de vigilância.
Por que é importante?
Não é de hoje que o Google está pressionado por investidores. Muito dinheiro investido em IA. Pouco retorno. Até aí, todas as Big Tech estavam. Até surgir o DeepSeek. Agora está xeque a forma de criação da IA, baseada em código fechado e aumento da capacidade com mais chips. Nessa só a Meta se salvou. A paciência do mercado ficou mais curta esta semana, quando o Google apresentou resultados abaixo da expectativa para 2024.
A nuvem é a culpada pela queda das ações do Google (...) Os resultados decepcionantes da nuvem sugerem que o momento impulsionado pela IA pode estar começando a diminuir à medida que a estratégia de modelo fechado do Google é questionada pela DeepSeek
Evelyn Mitchell-Wolf, analista do Emarketer
Em meio a esse cenário, vai ser difícil dizer "não" quando surgirem contratos militares aparecerem baterem à porta. Já aconteceu. O Google trabalhou com o Pentágono até 2018, quando só encerrou o contrato após pressão de funcionários. Na época, mais de 3.000 deles assinaram uma carta de repúdio.
Nós acreditamos que o Google não deveria estar no negócio da guerra
Nesta semana, em comunicado assinado por James Manyika, vice-presidente sênior, e Demis Hassabis, CEO da DeepMind e ganhador do Prêmio Nobel, o Google fala em "segurança nacional" e "liderança" em IA num cenário geopolítico cada vez mais complexo.
James Manyika e Demis Hassabis, Vice-presidente sênior e CEO da DeepMind
Não é bem assim, mas tá quase lá

Enquanto abre uma nova frente de negócios, é bom lembrar que, dentro de casa, o Google ainda enfrenta um processo judicial movido pelo governo dos EUA que pede a divisão da empresa para remediar um monopólio. Trump na Casa Branca pode reverter o curso das ações.
Já a investigação na China pode minar uma das fortalezas do Google, a busca. O inquérito deve mirar o Android, que não é uma fonte direta de receita, mas uma vitrine gigante para o motor da receita da empresa. A pesquisa online não funciona na China, mas, sim, no restante do mundo, inundado por celulares chineses equipados com o sistema.
Movimentos norte-americanos na guerra comercial com a China criaram as condições para surgir o DeepSeek e para a Huawei criar seu próprio sistema operacional, o HarmonyOS. O contra-ataque chinês pode, de um lado, minar o domínio do Google e, por outro, balançar o mundo dos celulares como nunca vimos ao abrir espaço para novos sistemas operacionais.
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