Você não deve, mas vai contar segredos ao 'círculo azul da IA' no WhatsApp
(Esta é a versão online da newsletter de Tilt enviada hoje. Quer receber a newsletter completa, apenas para inscritos, na semana que vem? Clique aqui e se cadastre)
A Meta IA, aquele círculo azul que invadiu seu WhatsApp, é mais do que um botão inconveniente entre o grupo da família, uma conversa profissional importante e um eventual desenrolo com o contatinho da vez.
Já expliquei em outra coluna os quatro objetivos da Meta com a novidade. Uma delas, porém, está tão ligada ao que nos acostumamos fazer no WhatsApp que vale o aprofundamento: é a obtenção de informação sobre você.
Mas não aquelas migalhas de dados que você costuma deixar por onde quer quer passa no mundo online —e são prontamente sugadas pelo "aspirador-robô digital" das Big Techs.
São as informações que só circulam na sua cabeça e raramente escapam para outro lugar, é a "imaginação criativa das pessoas", como classificou o Alex Winetzki, diretor de pesquisa e desenvolvimento global da Stefanini.
Intuitivamente, as pessoas até sabem disso, mas uma boa lida nos documentos da Meta AI reforçam a impressão: você não deve contar segredo algum à IA do Mark Zuckerberg.
Apesar do aviso, você vai.
O que rolou
A Meta IA chegou ao WhatsApp dos brasileiros e, em breve, inundará também Instagram e Facebook. A nova função deixou muita gente com dúvidas —inclusive dentro da Meta—, mas o que dá para saber é o seguinte:
- As conversas no WhatsApp são criptografadas de ponta a ponta para mensagens pessoais, enviadas a grupos, mas...
- ... A camada de proteção é suspensa na interações com a Meta IA (seja quando você a aciona dentro de uma conversa em andamento ou no chat diretamente com ela). Isso por que...
- ... A Meta lê, armazena e processa todas as mensagens enviadas à IA, seja para treinar o modelo por trás da tecnologia, seja para aprender mais sobre você. E...
- ... Essa memória da IA da Meta sobre você vai ficar mais evidente com o tempo, conforme ela for provocada a cumprir tarefas que dependam de conhecimento prévio a seu respeito.
O diálogo abaixo foi gerado a partir de um meme, mas mostram um pouco a capacidade do robô lembrar:
Newsletter
Um boletim com as novidades e lançamentos da semana e um papo sobre novas tecnologias. Toda sexta.
Quero receber- Outro detalhe extraído da documentação da própria Meta: a IA tentará não usar suas infos em conversas com outros usuários, mas não garante que isso não vá acontecer. Parece...
- ... O histórico da busca do Google, que reabastece o algoritmo da pesquisa online da empresa ao mesmo tempo que informa a empresa sobre suas intenções quando você pesquisa algo. A diferença é que isso ocorre dentro de um ambiente privado como o das mensagens instantâneas, em que você já está mais a vontade, e não em um espaço aberto como as buscas online.
Por que é importante
Um dos objetivos da Meta com a IA em suas plataformas é manter você nelas por mais minutos. E está funcionando.
Segundo Zuckerberg, as interações com a IA já elevaram em 8% o tempo que as pessoas passam no Facebook e em 6% no Instagram.
Como ele falou isso na última conferência para comentar os resultados da empresa, não devia dispor dos dados a respeito do WhatsApp. Os norte-americanos, que tiveram acesso a essa IA antes, não são grandes fãs do app de mensagens.
Muito diferente de nós, brasileiros. Por aqui, conforme as pessoas perceberem que dá para fazer uma infinidade de coisas sem sair do WhatsApp, a permanência no app tende a explodir.
Uma das possibilidades é a mais evidente: usar a IA da Meta para driblar o fim do pacote de dados dos planos de banda larga móvel que possuem WhatsApp ilimitado.
O cálculo é simples: quando os megabit acabarem, bastará recorrer à IA para continuar navegando na internet sem necessariamente navegar na internet. Tudo só base da conversa com a IA da Meta. Você pede e ela busca na internet para você. Isso é possível por meio das parcerias por trás da IA com Google, Microsoft, Finnhub e Wolfram permitem usar serviços presentes na internet sem sair do aplicativo.
Não é bem assim, mas está quase lá
Já preocupada com todas as consequências desencadeadas pela apresentação de uma IA em seu app favorito, muita gente tem buscado meios de desabilitar o robô. Não dá, por ora. É possível pedir apenas para a Meta não usar seus dados.
Essa preocupação, aliás, gerou uma fake news curiosa nos EUA: a de que postar 'Goodbaye Meta AI' no Instagram faria tudo desaparecer. É mentira. Mas pegou celebridades como James MacAvoy e Tom Brady.
O ex-jogador de futebol americano ter caído nessa me pegou. Ele foi um dos rostos famosos que se uniram à Meta quando a empresa lançou em novembro de 2023 uma série de IAs personalizadas. A ideia é que esses chatbots teriam a personalidade de celebridades como Brady, Chris Paul, Naomi Osaka e Snop Dogg. Não vingou, e a ideia foi suspensa em julho deste ano.
Para Alex, da Stefanini, é só questão de tempo até Zuckerberg reviver a ideia. E, para ele, você não vai ligar de contar segredos para esses antes. Afinal, serão seus amigos. E, conhecendo o comportamento digital das pessoas, é difícil discordar dele.
Um dos próximos passos é você vai começar a criar avatares, como no Réplica, em que você vai pode programar as características pessoais e talvez criar seus próprios amigos. É isso: a Meta está lendo, sim, as conversas, ela sabe o que você fala e eu diria que duvido que as pessoas se importem
Alex Winetzki, diretor de pesquisa e desenvolvimento global da Stefanini
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.