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Helton Simões Gomes

Formado pela Faculdade Cásper Líbero e com especialização em economia e mercado financeiro, foi repórter do jornal Folha de S.Paulo e do portal G1. No UOL desde 2017, foi repórter de Tilt e editor do núcleo de diversidade. Ganhou os prêmios CNI de Jornalismo, Diversidade e Respeito do Conselho Nacional do Ministério Público e o Prêmio UOL - 2021, na categoria iniciativa inovadora. Atualmente, é editor de Tilt.

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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dados roubados do Facebook já não valem nada; e isso é preocupante

Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Colunista do UOL

11/04/2021 04h00

Dono de uma site acessado por 2,8 bilhões de usuários de todo mundo, o Facebook descobriu nesta semana que os dados de 553 milhões de seus membros estão sendo oferecidos na internet.

Com esse tamanho gigantesco, o dobro da população da China, a rede social vira e mexe protagoniza eventos de grandes proporções. Estranhamente, a exposição de informações de quase 20% de indivíduos com conta no Facebook não tirou o sono dos executivos da empresa. Mas o chocante mesmo é que esse volume gigantesco de dados era ofertado de graça. E, no mundo hacker, isso significa muita coisa.

O vazamento não é novidade, mas indica como funciona a economia da exploração da privacidade online. Tudo começou quando:

  • O pesquisador de segurança Alon Gal descobriu o pacote em um fórum na internet. Dentro dele...
  • ... Havia nove tipos de dados, como número de telefone, status de relacionamento e data de nascimento para usuários de 106 países, dos quais os mais atingidos foram...
  • ... Egito (44 mi), EUA (32 mi), Colômbia (17,9 mi), Argélia (11,5 mi), Reino Unido (11 mi), Espanha (10 mi) e Brasil (8 mi). Diante disso...
  • ... A reação do Facebook foi informar que os registros são fruto de um vazamento antigo, de 2019. Além disso...
  • ... Mike Clark, diretor de gerenciamento de produtos da rede social, afastou a ideia de os sistemas terem sido hackeados. O que aconteceu, disse, foi um roubo por meio de raspagem de dados. Para tranquilizar...
  • ... Clark acrescentou que a brecha usada para surrupiar as informações já não existe mais e não há no pacote "informações financeiras, de saúde ou senhas".

Não é a primeira vez que dados de usuários do Facebook são oferecidos. E provavelmente não será a última. A frequência com que isso ocorre, porém, pode ter acelerado a dinâmica da venda na internet de informações roubadas da rede social.

Na vitrine do mercado clandestino do submundo online, há desde brechas em sistemas conectados até dados roubados após essas falhas serem exploradas. No primeiro caso, o valor é mais alto se a lacuna for inédita. No segundo, sobe se informações forem frescas.

Como admitiu o Facebook, os dados dos mais de 553 milhões de perfis são antigos. E, ao que tudo indica, já foram até oferecidos antes. Só que, da primeira vez, alguém estava cobrando por eles. Em janeiro, hackers criaram até um robô no Telegram para agilizar o negócio: por US$ 20, obtinha-se um número de telefone. Por US$ 5 mil, 10 mil. Bastava pagar e informar o nome de um usuário.

Em dois meses, no entanto, os dados roubados passaram a ser oferecidos de graça.

Essa desvalorização até é um movimento natural no mundo hacker. O motivo varia. Pode ocorrer porque os dados ficam desatualizados — fácil de ocorrer com o status de relacionamento; razoável, mas não tão comum com o número de telefone; e impossível no caso da data de nascimento. Outra razão é que, nesse meio, compradores podem se tornar vendedores. Com isso, o preço cai paulatinamente, já que a oferta aumenta. Se o valor vai a zero, pode significar que o acesso ao dado é massificado.

Se for este o caso, é um péssimo sinal para o Facebook, afinal a empresa assenta sua máquina de publicidade sobre a capacidade de usar um grande volume de dados para entender as preferências de seus usuários.

Da última vez que alguém recorreu a dados roubados do Facebook para oferecer um serviço por fora das redes sociais, o mundo topou com a Cambridge Analytica e seu serviço de influenciar a opinião de eleitores que ajudou a eleger Donald Trump nos EUA e a aprovar o Brexit no Reino Unido. O que virá desta vez?

Este texto foi distribuído na newsletter de Tilt. Assine aqui e conheça as outras do UOL