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Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Governo chinês lança NFT; e big techs correm atrás (com cautela)

Público em museu de Pequim aprecia obra de arte digital de Beeple, que registrou seu trabalho como NFT - ZSBFZ Press Center
Público em museu de Pequim aprecia obra de arte digital de Beeple, que registrou seu trabalho como NFT Imagem: ZSBFZ Press Center

08/04/2022 04h00

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O vertiginoso ritmo de inovação digital na China e a necessária fartura de capital de risco para financiar projetos —com o perdão da redundância— arriscados sofreram um duro golpe ao longo de 2021. Afinal, no último ano, captar dinheiro no exterior soou como pecado antipatriótico e investir em áreas não reguladas, um desafio à lei e à ordem.

O resultado do "cavalo de pau" regulatório operado pelo governo da China, que partiu de uma realidade "tudo pode em nome de nosso progresso tech" para "nada pode, se colocar sob risco nosso controle social", foi um freio dramático no ímpeto criativo e inovador dos empreendedores digitais chineses.

Não à toa, o mercado referência de inteligência artificial (AI, na sigla em inglês), do mobile payment e do new retail passou a ser um retardatário do Ocidente em temas mais atuais, como NFT, criptomoedas e metaverso.

Esta semana, porém, o Blockchain Services Network (BSN), uma entidade parcialmente estatal e que regula o modo como as soluções baseadas em blockchain são usadas na China, realizou um "soft launch" de uma estrutura para compra e venda de itens digitais únicos colecionáveis, os NFTs.

Em muitos mercados do Ocidente, Brasil incluso, os tokens NFT são uma febre e se tornaram uma opção relativamente popular de investimento. Há quem considere um tanto ridículo investir um item "exclusivo" digital, uma vez que uma imagem jpg ou gif, ainda que devidamente certificada, não é mais que... uma imagem jpg ou um gif.

Pelas normas do BSN, os tokens criados na China só podem ser comercializados em moeda local e para outros cidadãos chineses.

Há cuidados para que os NFTs não se tornem uma tecnologia usada para lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e, em última análise, desestabilização do sistema financeiro local.

Argumentos similares foram usados, no passado, para proibir o comércio de criptomoedas no país, que pouco depois, passou a contar com sua própria criptomoeda, está garantida pela autoridade monetária central, o e-RMB.

Definidas as regras do jogo, duas estatais, as empresas de mídia Shandong TV e Xinhua lançaram seus primeiros NFTs, no caso, fotos de sítios arqueológicos e belezas da herança cultural e arquitetônica de cidades antigas da China. Nestes dois casos, os NFTs não foram vendidos, mas "presenteados" a cidadãos comuns, por meio de sorteios online.

O fato de empresas públicas darem o pontapé inicial nesta iniciativa tem, no fundo, o desejo de transmitir um recado: se companhias do governo estão fazendo isso, então o governo não é contra isso.

Na esteira das iniciativas públicas, algumas big techs como a Tencent, o Baidu e o Alibaba lançaram, modestamente, suas iniciativas em NFT, como quem vai testando os limites do mercado —e da regulação.

No novo cenário tech chinês, todos parecem se mover com muita cautela para evitar cometer infrações. E a autoridade central, com igual cautela, procura encontrar um ponto de equilíbrio, em que permita que suas empresas privadas voltem a experimentar projetos de risco e não permitam que a China perca a vanguarda tecnológica arduamente conquistada em diferentes setores da economia digital global.