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Felipe Zmoginski

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Com investimento pesado, cleantechs tentam despoluir a China com tecnologia

Lixeira usa câmera de reconhecimento facial para receber lixo de moradora em condomínio de Pequim, na China - Reprodução/ Youtube/  South China Morning Post
Lixeira usa câmera de reconhecimento facial para receber lixo de moradora em condomínio de Pequim, na China Imagem: Reprodução/ Youtube/ South China Morning Post

03/03/2021 04h00

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Para abastecer o mundo com produtos industrializados e permitir a ascensão à classe média de mais de 700 milhões de pessoas no mercado doméstico, a China tornou-se o maior poluidor do planeta. Muitos rios do país tornaram-se insalubres, aterros sanitários ficam lotados antes do previsto e o ar, em cidades como Pequim, pode carregar 100 vezes mais partículas tóxicas do que o aceitável.

Um dos pilares dos famosos "planos quinquenais" da China, porém, é o combate à poluição. É uma política de Estado "tornar as cidades limpas e o campo verde e livre de poluentes", conforme texto oficial. A meta estipulada é de reduzir em 40% a emissão de dióxido de carbono, no país, até 2040, data em que o saldo líquido de CO2 deverá ser zero, já que mecanismo de compensação e captação de carbono serão criados.

A decisão em (tentar) evitar a catástrofe do clima tornou-se uma oportunidade trilionária para as empresas que desenvolvem soluções baseadas em tecnologia limpa, as chamadas "cleantechs". Segundo a prestigiosa universidade Tsinghua, a China deverá investir US$ 15 trilhões no setor, nas próximas duas décadas, para cumprir seus objetivos.

Uma das startups beneficiadas por este fluxo de investimentos é a Dog (ou Xiaohuanggou, em chinês) que espalha máquinas de separação e reciclagem de lixo em 41 mil pontos do país. Nestas máquinas, moradores de condomínios podem (devem, na verdade) depositar plástico, papel e vidro em locais separados.

Cada morador (e seus respectivos sacos de lixo) é identificado por QR code, lido pelas máquinas. O cidadão que recicla com mais eficiência ganha medalha da prefeitura e, melhor parte, descontos progressivos no imposto local, o equivalente ao IPTU.

Aplicativos onipresentes na sociedade chinesa, como o AliPay, do grupo Alibaba, integram miniapps como o da Dog e oferece recompensas, em dinheiro, a quem levar seu lixo para pontos de reciclarem recomendados pela aplicação.

Além da produção de lixo nas megacidades chinesas, é um desafio prioritário reduzir os poluentes emitidos pela frota de carros. Neste aspecto, a China detém a liderança mundial já que é o país com mais carros elétricos rodando em todo mundo.

Um gargalo para a disseminação desta tecnologia —as estações para recarga- - está mais avançado lá que em qualquer outro lugar: são 807 mil estações de energia espalhadas pelo país.

A fabricante de carros elétricos Nio, por exemplo, oferece em grandes cidades como Pequim e Xangai um engenhoso sistema de "troca da bateria". Você para seu carro em um ponto de troca, um elevador o levanta e em 5 minutos a bateria descarregada de seu carro é substituída por outra, cheinha.

O país é também o que mais usa energia solar em sua matriz energética e o maior fabricante mundial de painéis que captam o calor do sol e o transformam em eletricidade.

Gráfico da consultoria Goldman Sachs aponta quais indústrias devem receber a maior parte dos US$ 16 trilhões em investimentos - Reprodução de relatório da Goldman Sachs - Reprodução de relatório da Goldman Sachs
Gráfico da consultoria Goldman Sachs aponta quais indústrias devem receber a maior parte dos US$ 16 trilhões em investimentos
Imagem: Reprodução de relatório da Goldman Sachs

De acordo com relatório do Banco Mundial, a adesão da China à implementação de tecnologias limpas de geração de energia e processamento de lixo é essencial para conter o avanço do aquecimento global, já que se trata de um país com forte impacto sobre a economia global.

O estudo afirma, no entanto, que apesar dos bons esforços em mobilidade e tratamento de resíduos sólidos, a China anda devagar, quase parando, na recuperação de suas florestas, devastadas nas décadas de ascensão mais acelerada para dar espaço à agricultura e produção de carvão.