Diogo Cortiz

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Opinião

A Inteligência Artificial Geral está chegando? É difícil ter certeza

Nesta semana foi publicada pelo The NY Times uma entrevista que deixou a área de IA agitada. Com o título "O Governo sabe que a AGI está chegando", o episódio do podcast de Ezra Klein conversou com Ben Buchanan, assessor especial de IA da Casa Branca durante o governo Biden.

Buchanan começou a entrevista afirmando que acredita que a AGI está próxima. Que a tecnologia pode chegar nos próximos anos, ainda durante o mandato do Trump e que as consequências são imprevisíveis. A afirmação é forte porque ele o faz a partir de informações e conversas privilegiadas durante seu trabalho no governo americano.

Antes de aprofundar nas consequências da possível chegada de uma AGI, é importante separar a realidade da ficção, mas para isso é importante entendermos do que se trata.

O que é AGI?

AGI é a sigla para Artificial General Intelligence (Inteligência Artificial Geral). Embora seja a grande promessa dos principais laboratórios e empresas de IA, não existe uma definição consensual e cientificamente específica. Uma definição no senso comum trata a AGI como uma IA altamente capaz para desenvolver qualquer tarefa cognitiva do humano.

É uma definição abstrata que significa muitas coisas e desafios enormes para saber se estamos perto ou longe dela. Hoje, para entendermos as capacidades de uma IA, usamos diferentes testes que avaliam o desempenho do modelo em muitas tarefas.

Há avaliações específicas para medir o desempenho de uma IA em perguntas e respostas sobre áreas especializadas do conhecimento, sua habilidade na criação de códigos de computador, sua capacidade em solucionar problemas matemáticos, seu nível de raciocínio abstrato, entre diversas outras competências.

Alguém pode argumentar: se juntar tudo isso parece até uma avaliação neuropsicológica da IA.

Sim e não. A dificuldade é que muitos desses conjuntos de avaliações ainda são limitados. À medida em que uma nova IA aparece e gabarita o teste, os pesquisadores correm para identificar as possíveis falhas e propor uma nova versão, mais difícil e ousada.

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Vou dar um exemplo. Existe um teste chamado BIG-Bench (Beyond the Imitation Game Benchmark) que ficou rapidamente superado com o lançamento das últimas versões de IA. Pesquisadores do Google então correram para criar uma nova versão: BIG-Bench Extra Hard.

Também existem esforços coletivos de acadêmicos para criar testes específicos para avaliar o potencial de uma AGI. Um deles é o ARC-AGI, que tenta medir o raciocínio abstrato da máquina. Ou então o "Último Exame da Humanidade" que reúne cientistas do mundo todo para criar as perguntas mais difíceis para suas áreas. Ainda assim, não são testes livres de limitações.

Podemos garantir que a AGI vai chegar?

Saber se uma AGI está próxima é uma tarefa complicada. Primeiro porque não sabemos exatamente como defini-la. Segundo, porque tentamos medi-la como um alvo em movimento. Quem poderá, então, cravar que uma AGI chegou?

E o imaginário popular traz ainda mais confusão. Muitas pessoas confundem o conceito de AGI como uma IA senciente, como se fosse necessária uma máquina com consciência para alcançarmos a AGI. Mas não podemos confundir as duas coisas.

O que eu quero dizer é que a chegada da AGI talvez não seja o despertar, de um dia para o outro, de um novo ente superinteligente, mas um processo que acontece silenciosamente. E que pode, inclusive, já estar acontecendo.

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É inegável que a IA está evoluindo num ritmo impressionante. Embora com limitações evidentes, os modelos estão ficando mais capazes de solucionar problemas em diferentes casos de uso. E a introdução de novas funcionalidades, como modelos de raciocínio e pesquisa profunda, criam possibilidades inéditas.

O Google lançou a IA "Co-scientist" com foco em pesquisa científica. A IA conseguiu resolver em apenas dois dias um problema complexo sobre superbactérias que os microbiologistas levaram quase uma década. Em entrevista à BBC, o professor José R. Penadés, do Imperial College, disse que ficou chocado porque a IA chegou no mesmo resultado de um artigo seu ainda não publicado.

O que a AGI pode mudar na minha vida?

Na entrevista ao NY Times, Buchanan cita diferentes desafios que a chegada da AGI pode causar: impacto no mercado de trabalho, disrupções para a área de defesa e cibersegurança, vigilância, descontrole da IA e até mesmo o acirramento da competição com a China.

Nesta semana, o ex-CEO do Google Eric Schmidt, o CEO da Scale AI CEO e o Diretor do Center for AI Safety publicaram um novo policy paper alertando que os Estados Unidos não devem perseguir uma iniciativa no estilo "Projeto Manhattan" para desenvolver uma AGI.

O texto argumenta que uma tentativa mais forte dos EUA de controlar exclusivamente uma AGI poderia provocar uma resposta mais dura da China, na forma de um ataque cibernético ou outras medidas, o que poderia desestabilizar as relações internacionais.

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Isso evidencia que a corrida pela AGI traz implicações muito além da tecnologia, chegando à esfera geopolítica. Ainda não podemos afirmar com certeza quando ou se uma AGI surgirá, mas uma coisa é certa: a IA que temos hoje é a pior que veremos daqui em diante.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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