Topo

Alessandra Montini

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Foi neste ano que dados finalmente passaram a influenciar nosso cotidiano

Tima Miroshnichenko/ Pexels
Imagem: Tima Miroshnichenko/ Pexels

12/12/2021 04h00

Uma das principais obras do jornalista e escritor Zuenir Ventura é o livro "1968: o ano que não terminou". Nele, o autor detalha os acontecimentos que marcaram o icônico ano e suas consequências décadas depois. Bem, se alguém escrever um livro ou se debruçar sobre o papel e a influência dos dados na sociedade em 2021, certamente pode se inspirar no mesmo título.

Os impactos da aceleração digital irão perdurar por muito tempo e os dados exercerão posição de destaque nos negócios, relações sociais, política, entretenimento, entre outros setores. A partir de agora, é inimaginável um mundo sem a análise e gestão de informações. Como se vê, 2021 realmente vai ser o ano que jamais terminará para essa área.

A Pesquisa Global de Gestão de Dados 2021, realizada pela Experian, mostra que quase três quartos dos profissionais (72%) admitiram estar mais dependentes de dados e dos seus insights no ambiente corporativo. Somente aqui no Brasil, quase dois terços (62%) confirmam que é preciso melhorar a qualidade dessas informações.

Afinal, sem elas é impossível viver em um cenário de transformação digital e evolução tecnológica. Da melhor experiência de compra no e-commerce às indicações de filmes no Netflix, passando por ferramentas de produtividade, sistemas financeiros e soluções corporativas, tudo demanda a análise acurada de dados.

Não é de hoje, evidentemente que os dados possuem grande importância —já foram chamados, inclusive, de "novo petróleo". Então, por que 2021 se revelou tão importante para a expansão e consolidação do analytics na esfera social?

Como era de se esperar, a resposta começa justamente com a pandemia de covid-19.

Em 2020, as empresas, a sociedade civil e o poder público basicamente tiveram que reagir às pressas diante dos desafios impostos pelo avanço da doença. Todas as transformações ocorridas foram impostas e pouco pensadas.

Foi apenas nesse ano que as organizações e pessoas puderam se debruçar sobre o que, de fato, está acontecendo no mundo e as mudanças ocorridas.

Dessa forma, olhando retrospectivamente, é possível perceber alguns movimentos que colocaram a análise de informações em evidência.

Foi durante o ano de 2021 que os dados finalmente se tornaram operacionais, ou seja, passaram a fazer parte do dia a dia de empresas, pessoas e organizações.

Se antes contar com uma análise de informações era o diferencial estratégico, hoje tornou-se um fator de sobrevivência.

Qualquer decisão, por menor que seja, precisa ser tomada mediante os insights que os dados têm a oferecer sobre a situação em si. O avanço das ferramentas tecnológicas ajuda nesse sentido, permitindo que as informações estejam disponíveis praticamente em tempo real.

Os dados finalmente assumiram o papel de commodities.

Essa maior presença em todos os aspectos de nossas vidas leva ao segundo fator que explica o crescimento nesse ano: a cultura data driven, isto é, iniciativas e processos que são orientados por —e para— dados.

Agora, reconhecemos a importância que estes ativos possuem no desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços. A Lei Geral de Proteção aos Dados Pessoais (LGPD), promulgada em 2020, mas que começou a impor sanções em 2021, foi um elemento importante nisso ao despertar nossa atenção para os dados que concedemos praticamente em todos os serviços.

Por fim, se reconhecemos a importância e utilizamos os dados em nosso dia a dia, logo o terceiro fator de consolidação consiste na maior necessidade de proteção dessas informações digitais.

Como nossas vidas são guiadas a partir da análise e dos insights gerados por eles, é preciso ter maior segurança na hora de utilizá-los —ninguém anda por aí com dinheiro à mostra, não é mesmo?

Foi em 2021 que grandes vazamentos de informações e ataques cibernéticos despertaram a atenção de todos, como a exposição de mais de 220 milhões de CPFs no início do ano e violações em corporações como Renner, CVC e Porto Seguro.

As transformações ocorridas ao longo dos últimos 11 meses irão reverberar por muito tempo na sociedade.

Se antes a pessoa conseguia manter distância do digital, em 2021 ela precisou aceitar que não dá mais para se esconder. Seja para trabalho, compras ou diversão, as relações sociais estão se integrando cada vez mais ao ambiente virtual.

A chegada do 5G, prevista para acontecer nas capitais estaduais em julho de 2022, só vai reforçar ainda mais esse período de transformação, a ponto de, daqui alguns anos, olharmos para trás e percebermos que 2021 ainda continua impactando nossas vidas.