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Akin Abaz

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em novembro, empresas que nos excluem pedem trabalho de graça para negros

Pexels
Imagem: Pexels

Colunista do UOL*

11/11/2021 04h00

Para quem é negro e empreendedor, produtor de conteúdo ou influencer, chegou o mês que para nós é importante. Ter um Dia da Consciência Negra e um mês denominado novembro negro é necessário para reforçar o combate ao racismo e todas as explorações e desigualdades diárias que sofremos.

Por mais que seja um dia ou mês onde nossa negritude e nossas raízes são exaltadas na sociedade brasileira, durante os outros 11 meses do ano a população negra passa por todo tido de necessidades básicas.

É a mesma população que sofre com o extermínio da nossa juventude, com a violência urbana, que tem as maiores taxas de feminicídio, desemprego, analfabetismo….

Para nós, enaltecer a nossa beleza física, a nossa inteligência e contribuição para diferentes áreas, os nossos ancestrais e origens, é algo que estamos fazendo constantemente.

Entendemos a importância disso para a formação das nossas crianças e jovens, de como a identidade negra e toda essa reconstrução do que nos foi e continua sendo roubada é importante.

E reconhecer a nossa história é também uma forma de fortalecimento enquanto povo, que nos ajuda a lidar diariamente com tantas dificuldades.

Por isso, o intuito desse texto não é abordar a importância do novembro negro para nós ou para a sociedade, muitos já sabem disso, mas sim levantar o questionamento e trazer à luz sobre como nós, negros, somos tratados durante esses 30 dias.

Empresas que excluem a nossa existência até esse mês, agora nos chamam para produzir conteúdo, aparecer em eventos e dar palestras sobre conscientização em suas empresas.

O que por si só já é algo cansativo e estarrecedor, piora quando essas mesmas empresas ainda querem nossas presenças e trabalhos de forma gratuita, já que nossos trabalhos não importam para elas e muitas ainda alegam que não têm condições (mesmo pagando a pessoas brancas para exercerem as mesmas funções ou desempenharem os mesmos trabalhos durante o ano todo), ou que devemos fazer em prol da causa, do ato de conscientizar a sociedade.

A cada dia que passa, somos mais conscientes de locais e pessoas que só querem nosso "black money" —vulgo a nossa renda—, mas não querem a nossa presença em seus espaços ou querem apenas quando convém.

Por isso, entendo que a verdadeira transformação na sociedade começa quando ocupamos ou criamos os nossos próprios espaços, onde podemos crescer, capacitar os nossos, construir novas e melhores realidades. Assim como continuo sonhando e materializando através da minha empresa.

E, para as pessoas brancas ou não negras que estão lendo este texto e querem de forma verdadeira e significativa construir novas narrativas e contribuir para uma sociedade mais igualitária, o primeiro passo é reconhecer os seus infinitos privilégios.

O segundo passo é buscar literatura sobre racismo estrutural, desigualdade social e assuntos relacionados.

O terceiro passo (que não é o último), é inserir o povo negro em suas empresas, ambientes de trabalho, em cargos de chefia ou onde possam ser agentes ativos da transformação.

Até porque, não existe liberdade sem planejamento e independência financeira. A Lei Áurea está aí para provar isso.

* Colaborou Gabriela Bispo, jornalista, planner e redatora da InfoPreta