Miniórgãos criados em laboratório

Como eles ajudam a entender a covid-19 e outras doenças

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Os efeitos da covid-19 no nosso organismo ainda não são totalmente conhecidos. Um estudo realizado no Neidl (sigla em inglês para Laboratório Nacional de Doenças Infecciosas Emergentes) em Boston (EUA) avançou nisso com a ajuda de "miniórgãos".
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A pesquisa usou "minipulmões", criados a partir de células-tronco reprogramadas. Eles têm estruturas e funções parecidas com as dos pulmões. Cientistas infectaram esses organoides com o novo coronavírus para entender seus efeitos.
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No estudo norte-americano, os minipulmões infectados com covid poderão ajudar a entender como, e com que velocidade, o vírus é capaz de matar os tecidos saudáveis. Bem mais seguro do que testar em humanos, certo?
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Quais os diferenciais?

Os pesquisadores dizem que os miniórgãos funcionam melhor do que estudos com simulações de computador ou vírus substitutos, nos quais conectam partes do covid-19 e as testam em células de macaco. Também evitaria questões éticas de testes em bichos.

Se você trabalha com a coisa real, obtém resultados reais. Se você estiver interessado na resposta do hospedeiro, os substitutos não têm utilidade

Elke Mühlberger
microbiologista do Neidl/Universidade de Boston
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Além de pulmões, já fizeram versões mini dos rins, do intestino e do coração. Os de rim ajudaram a entender a perda de função renal em pacientes de covid. Os de intestino sugeriram que o órgão é um local de intensa multiplicação do vírus.
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Vale dizer que o Brasil está na dianteira nisso. Ganhou grande destaque em 2016 por usar uma técnica semelhante à da pesquisa norte-americana para estudar o vírus Zika a partir de "minicérebros".
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O estudo com os organoides cerebrais ajudou a determinar a relação entre o Zika e a microcefalia. Células da pele humana ou da urina de voluntários foram usadas em laboratório para que voltassem ao estágio de células-tronco.

Usamos organoides cerebrais para estudar a formação do sistema nervoso, o potencial terapêutico de substâncias psicodélicas e também a consequência de infecções virais sobre o cérebro humano

Stevens Rehen
Neurocientista especializado em organoides cerebrais
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O formato dos "minicérebros" é assim:

Em 2019, minicérebros da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) ganharam "olhos", isto é, células de retina. No mesmo ano, foram ao espaço. Segundo a pesquisa do brasileiro Alysson Muotri, os miniórgãos produziram ondas cerebrais na microgravidade.
Nasa

Apesar de isso estar escrito em um monte de livro de ficção e as pessoas assumirem que é algo normal, ninguém tinha estudado

Alysson Muotri
biólogo da Universidade da Califórnia em San Diego
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O futuro desses estudos envolve...

Compreender como diferentes doenças agem no organismo humano e avançar em pesquisas com remédios e tratamentos mais efetivos. Não se pode testar vários em uma mesma pessoa, mas se pode usá-los nos miniórgãos para descobrir os mais adequados.
Os miniórgãos trazem muitas promessas para a medicina, como o estudo do desenvolvimento humano, a modelagem de doenças em laboratório, a produção de novos remédios, tratamentos personalizados e medicina regenerativa. Nada mal.
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Publicado em 17 de agosto de 2020.
Texto: Bruna Souza Cruz
Edição de arte: Carol Malavolta
Edição: Márcio Padrão