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Bye, futebol! 96% dos jovens de comunidades querem ser jogador de Free Fire

Free Fire, skin da camisa da Seleção Brasileira de Futebol  - Reprodução/Garena
Free Fire, skin da camisa da Seleção Brasileira de Futebol Imagem: Reprodução/Garena

Por Edilana Damasceno, do data_labe

Colaboração para o START

07/10/2021 04h00

Chuteiras, dribles e gols são trocados por abates, kills e guildas. Quando a banda Skank cantou "quem não sonhou em ser um jogador de futebol?", provavelmente não imaginou que um jogo trazido ao Brasil pela empresa de games asiática Garena, em 2017, tomaria o lugar deste sonho. Hoje, quatro anos depois da estreia de Free Fire no país, a molecada das quebradas brasileiras sonha em se tornar "pró players", campeões nacionais, ou até mesmo ganhar fama como streamer.

Gabriel Silva tinha 17 anos e tentava a carreira de youtuber quando o battle royale chegou ao Brasil. O jovem passou a jogá-lo a pedido de seus seguidores. Morador da periferia de Codó, município do interior do Maranhão, ele não imaginava que iria encontrar uma paixão. Conta que, apesar de já ter desejado ser jogador de futebol, não tinha a habilidade necessária. E diz que, mesmo não sendo um dos melhores jogadores de Free Fire, seu carisma nas lives que produzia possibilitou o sucesso com o público, formado majoritariamente por crianças.

Apoiado por mais de 96% de players

Assim como Gabriel, diversos jovens periféricos sonham em viver de eSports. Segundo um estudo realizado pelo Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva Pesquisa e Estratégia e a Cufa (Central Única das Favelas), 96% dos jovens moradores de comunidades do Brasil gostariam de ser gamers profissionais.

Como Free Fire é um jogo muito leve, que roda bem em praticamente todos os celulares, ele foi um sucesso imediato nas classes C e D. Nessa mesma pesquisa do Instituto Data Favela, o título da Garena foi citado como favorito de 96% dos entrevistados. Entre os participantes de até 15 anos, esse índice chegou a 100%. Simplesmente nenhum outro jogo foi lembrado.

(Vale ressaltar que, dos 1190 entrevistados, 662 haviam participado da última edição da Taça das Favelas Free Fire, em setembro.)

Para Gabriel, o game se tornou um refúgio para os momentos em que sua saúde mental estava abalada. "Estava sempre ali no jogo até porque era um meio de eu fugir do desespero, da questão da depressão e da ansiedade. Porque ali encontrava pessoas que me faziam dar risada, pessoas que hoje eu conheço e tenho contato", explica.

Gabriel também conta que na área onde mora, as oportunidades de emprego são escassas e que o caminho do crime é bem mais acessível. Ele, que desde criança trabalhou com a família e já chegou a ser ajudante de pedreiro, hoje tem a oportunidade de crescer como streamer e se dedicar apenas às suas lives e jogos, mesmo que esse não tenha sido o desejo inicial de sua família. "Minha mãe sempre falou 'meu filho, sai desse jogo, vai procurar fazer um um curso, vai estudar', mas pessoas que eu conheci me deram apoio e me inspiraram a investir no jogo e querer me aprofundar mais", conta.

É um discurso comum entre mães de streamers e jogadores. O pro player Peuzada e sua mãe, Adriana Landim, relembraram um diálogo parecido em entrevista ao Start. Hoje, Adriana estimula mães a apoiarem a carreira dos filhos.

Assim como Peuzada, Gabriel apostou na paixão pelo jogo à despeito da família, e atualmente consegue obter sua renda através da internet. Seu canal no YouTube chegou a bater 15 mil seguidores e, desde maio de 2021, o streamer faz parte da equipe profissional de e-sports Lyons.

"Eu sou um motivador"

Apesar do perfil no YouTube estar inativo, Gabriel tem comandado um canal secundário com quase três mil inscritos e se dedicado às lives que acontecem todos os dias, das 22h às 4h da manhã: "Tem uma frase que um seguidor meu falou e que eu vou guardar pra sempre. Ele disse que eu não sou só um influenciador de Free Fire, eu sou um motivador".

Para Richard Nathan, de 12 anos, as ranqueadas (partidas valendo pontos e títulos) são a melhor parte do jogo. Morador de uma comunidade em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Richard é apaixonado pelo Vasco da Gama e sempre sonhou em ser jogador de futebol.

Mas Free Fire acabou conquistando um espaço no seu coração e sua meta agora é conseguir se tornar um profissional. Segundo a pesquisa do Instituto Locomotiva, 74% dos jovens de menos de 15 anos acreditam que há possibilidade de se tornarem jogadores profissionais. Para Richard e diversos outros meninos das favelas e periferias brasileiras, sonhar não é difícil e o Free Fire tornou o sonho ainda mais fácil.

Essa reportagem foi produzida em parceria com o data_labe, uma organização de mídia e pesquisa com sede na favela da Maré - Rio de Janeiro, e contou com a participação de Edilana Damasceno (reportagem) e Fred Di Giacomo (edição)

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