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Watch Dogs Legion não estava preparado para meu grupo de vovós hackers

É possível formar um um grupo de hackers da terceira idade no jogo - Reprodução/START
É possível formar um um grupo de hackers da terceira idade no jogo Imagem: Reprodução/START

Bruno Izidro

Do START, em São Paulo

08/12/2020 04h00

As vovós estão ON em Watch Dogs: Legion, um jogo que, apesar do nome, não tem nenhum cachorro, e sim muitos hackers. Literalmente todo mundo pode ser um anonymous em potencial, e esse é o grande chamativo do terceiro game da série da Ubisoft.

Se é possível recrutar qualquer um para formar o grupo hackativista DedSec e salvar Londres, por que não fazer isso só com pessoas da terceira idade? Afinal, ninguém suspeitaria de uma senhora, sem saber que ela tem um drone-aranha escondido na bolsa pronto para derrubar os servidores de uma megacorporação.

Legião de Helen

Watch Dogs Legion game hacker - Reprodução - Reprodução
Helen, a primeira vovó hacker
Imagem: Reprodução

Ser uma "velhinha hacker" em Watch Dogs é uma piada que surgiu no trailer da E3 2019, que demonstrava como qualquer um no game poderia ser um personagem controlável. Assim, surgiu Helen, a vovozinha que virou meme.

Com Watch Dogs: Legion lançado e em mãos, resolvi levar a piada adiante e formar o meu grupo da DedSec só com "Helens".

As regras para entrar na equipe eram simples e claras:

  • Ter mais de 60 anos (quando se é considerado oficialmente da terceira idade pelo Estatuto do Idoso)
  • Ser mulher (cis ou trans)
  • Cozinhar um bolo de cenoura igual minha avó fazia quando eu era criança (opcional)
Game Watch Dogs Legion agentes idosas hackers - Reprodução/START - Reprodução/START
Imagem: Reprodução/START

Essas vovós não pedem pro neto ensinar a mexer no "zap", são elas que invadem o notebook para saber dos podres dos adolescentes.

É a experiência unindo forças com a tecnologia, uma combinação tão inesperada que nem Watch Dogs, e talvez nem eu, estava preparado. Como veremos, essa estratégia deixou muito mais evidente as "falhas na matrix" do game, mas também rendeu bons momentos.

Você tem um minuto para ouvir sobre a palavra do hacker?

Recrutar agentes para a DedSec versão Sênior significava bater perna, parando para perfilar os transeuntes, os chamados NPCs (personagens não controláveis, mas que agora são controláveis, sim) com o celular modernoso.

Tudo isso poderia ser uma atividade chata, mas fez com que eu apreciasse o melhor aspecto do jogo: a ambientação da Londres virtual.

Watch Dogs game sobre hackers - drone com vista para o Big Ben, em Londres - Reprodução/START - Reprodução/START
Todo mundo sabe que a melhor forma de visitar o Big Ben é em cima de um drone gigante
Imagem: Reprodução/START

Cada distrito, beco e monumento histórico é recriado de uma forma que faz você realmente imergir no lugar, ainda mais se estiver em um PS5 e Xbox Series X, com o ray tracing deixando o visual ainda melhor.

Watch Dogs, no final das contas, é o GTA da Ubisoft, e o sentimento de cidade viva está bem presente.

Porém, divago. Então vamos voltar para nossas velhinhas.

Supimpa. Ainda tenho muita lenha pra queimar. Simbora!
Frase que toda nova integrante idosa diz ao ser recrutada

Com o tempo, o trabalho de recrutar novas agentes ficou para um grupo específico: donas Teresa, Hannah e Naomi tinham um bônus de ganhar mais dinheiro cada vez que traziam mais uma senhora para o grupo, uma característica de vantagem que todo habitante do mundo de Watch Dogs possui, e que é usado como mecânica para escolher bem quem se junta à equipe.

Lugar de velho

Watch Dogs Legion velinha celular - Reprodução/START - Reprodução/START
É sempre chato parar a fofoca com as comadres para ter que salvar a cidade
Imagem: Reprodução/START

Como falei, Watch Dogs: Legion não estava preparado para o meu grupo da terceira idade, então rapidamente comecei a notar as limitações desse sistema de poder recrutar qualquer um na rua.

Os modelos das senhorinhas começavam a se repetir, por exemplo. Eu poderia jurar que dona Lawali é irmã gêmea da senhora Larkin, com a diferença de uma usar óculos e outra ter cabelo mais crespo.

Fora que chegar em velhinhas aleatórias pedindo para ser uma hacker pode ser tão efetivo quanto abordar estranhos no meio da rua querendo empurrar esquema de pirâmide.

Game Watch Dogs hacker velinha - Reprodução/START - Reprodução/START
Mais uma forte candidata para o grupo "hackers da terceira idade"
Imagem: Reprodução/START

O jogo transformou o recrutamento em missões paralelas. É o clichê manjado de videogames de "eu só te ajudo se você fizer essa quest aqui pra mim". O pior é que é sempre uma amiga ou conhecido que precisa ser libertado de uma gangue ou invadir um lugar para hackear algo. Fica chato bem rápido.

Outro exemplo de como o jogo limita as escolhas é forçar personagens específicos a entrarem na DedSec por razões de narrativa. Um deles era jovem, homem e nem ao menos sabia fazer bolo de cenoura. Não, millenial, aqui é lugar de velho.

Ainda bem que Watch Dogs: Legion trouxe a opção de morte permanente para os personagens. Então, foi fácil o novato sofrer um "acidente" e nunca mais vir com papinho de "ok, boomer".

Watch Dogs Legion game hacker - Reprodução/START - Reprodução/START
Imagem: Reprodução/START

Já em uma missão de história, o objetivo só poderia ser concluído com um agente homem, para seduzir uma mulher. Aí foi quando o game começou a perder a graça.

Calma, que eu sou idosa

Já parou para pensar que protagonistas de videogame nunca são pessoas velhas? Jogar Watch Dogs: Legion me faz perceber um pouco a razão disso.

Quase metade das agentes tinham a característica de mobilidade baixa, ou seja, não podiam correr nem usar cobertura na hora do "pega pra capar".

Inclusive, uma das piadas da inteligência artificial Beagley na hora de ativar algumas delas era saber se os novos remédios para a artrite estavam funcionando. Ah, o humor inglês.

Em um game de ação como Watch Dogs, colocar uma idosa sem supervisão de drones pode ser um problema.

As forças da Albion, o grupo paramilitar que tomou conta da cidade, também não têm nenhum respeito aos mais velhos e mandam chumbo nas vovós.

Watch Dogs game hacker ação - Reprodução/START - Reprodução/START
Imagem: Reprodução/START

Nesses confrontos, infelizmente, perdemos a senhora Beckinsale, que trocou seus 77 anos de vida para tentar salvar uma pessoa que estava apanhando de um guarda no meio da rua. Descanse em paz.

Mas as hackers da terceira idade também sabem se cuidar, e uma das atividades preferidas era entrar nas lutas clandestinas espalhadas pela cidade. Era bem engraçado ver as vovós de mais de 60 anos dando socos e voadoras em marmanjos com menos da metade da idade delas.

Watch Dogs: Legion - Luta da vovó

Start

Além disso, em muitas das missões do jogo não é preciso usar o contato físico. Estamos na era da tecnologia, afinal de contas, e táticas como o drone-aranha ou hackear câmeras de vigilância já bastavam.

Enquanto isso, quem passasse pela rua só veria uma senhora mexendo no celular, provavelmente mandando mensagem de bom dia para o grupo da família no "zap".

Watch Dogs Legion vovó no zap - Reprodução/START - Reprodução/START
"Deixa eu dar Bom Dia no grupo juntor com um vírus pra hackear aquele genro otário"
Imagem: Reprodução/START

Depois de algumas dezenas de horas com as minhas velhinhas, percebi que essa foi a melhor maneira de jogar Watch Dogs: Legion.

Mesmo que os pontos negativos do jogo ficassem mais evidentes pela limitação do elenco de heroínas, também foi por elas que me engajei bem mais na aventura. E olha, foi um esforço, porque a narrativa parece que deu um passo pra trás, voltando pro tom "quero ser sério" do primeiro Watch Dogs.

Eu ainda não terminei a história principal do game, por isso as vovós hackers continuam ON. Só não sei mais por quanto tempo, porque estamos na Inglaterra, e o chá das 17h não pode atrasar.

Watch Dogs - As Hackers da Terceira Idade

*A cópia do jogo foi enviado pela Microsoft ao START como parte dos testes do Xbox Series X

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