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OPINIÃO

Sem protagonista, Watch Dogs: Legion quer gerar empatia por causa rebelde

Watch Dogs Legion - Divulgação/Ubisoft
Watch Dogs Legion
Imagem: Divulgação/Ubisoft

João Varella

Colaboração para o START

24/10/2020 04h00

Watch Dogs: Legion terá como protagonista uma causa. Em vez de personagens específicos, o jogador poderá escolher qualquer pessoa no mundo para controlar e se juntar à missão. Pode ser um pedreiro, uma aposentada ou policial, a escolha é livre. Cada um vem com vantagens e desvantagens específicas.

A desenvolvedora Ubisoft apagou a letra "N" da sigla NPC (non-player character). Em termos de narrativa, é um caminho arriscado para esse que é o terceiro game de sua franquia. Os personagens de um jogador são um dos principais fatores de engajamento, principalmente em jogos AAA, as altas produções. Sendo um título de mundo aberto cheio de conteúdo, Watch Dogs: Legion terá de provar que tem fôlego para a maratona.

O START jogou uma demo de WD:L durante quatro horas e traz alguns destaques a seguir. Legion será lançado em 29 de outubro para PC, Xbox One e PS4, com versões para Xbox Series X/S e PlayStation 5 no futuro.

Os vídeos a seguir são de uma versão preview, e podem haver diferenças e mudanças até a versão final do jogo.

Privataria

O cenário do game é uma Londres futurista mergulhada em uma distopia liberal. Serviços públicos como policiamento foram privatizados. Caberá ao jogador "desfoder" a cidades, nas palavras de Sabine, uma das líderes do coletivo rebelde Dedsec. A sede secreta da organização fica nos fundos de um PUB.

Em termos de ambiente, o jogo traz um meio-termo entre a cinzenta Chicago de Watch Dogs, de 2014, e a colorida São Francisco de Watch Dogs 2, de 2016.

Estão presentes as traquitanas hacker que são marcas da série: a principal arma do jogador, por exemplo, é um celular superpoderoso, capaz de hackear veículos, câmeras e celulares alheios.

O mundo real ajuda Watch Dogs a ser cada vez mais crível. Carros estão mais fáceis de furtar, afinal muitos circulam pelas ruas de Londres sem motoristas. Outro elemento não muito distante é um robô aranha espião, que transforma Watch Dogs em um jogo de plataformas.

Ao mesmo tempo, alguns elementos de realidade aumentada são usados quase como magia. Por exemplo, há momentos em que a narrativa leva o jogador a reconstituir situações passadas com hologramas, exatamente como em The Division, da mesma Ubisoft.

Outro caso de ficção científica é uma habilidade destravável que permite ocultar corpos com o apertar de um botão —é como se o manto de invisibilidade do Harry Potter surgisse do celular dos personagens.

Falando isoladamente pode soar como forçação de barra, mas nada destoa do clima "Black Mirror" da narrativa (série criada por um britânico, olha só).

Onde está a política?

Watch Dogs Legion - Divulgação/Ubisoft - Divulgação/Ubisoft
Imagem: Divulgação/Ubisoft

Quando foi apresentado na E3 de 2019, Watch Dogs: Legion prometia abordar questões políticas polarizadas. Clint Hocking, diretor criativo do game, relacionou o título ao Brexit. O processo de saída do Reino Unido da União Europeia, que se arrasta há anos, foi mencionado no primeiro minuto da apresentação que fez no palco mais prestigiado da indústria dos videogames.

O comentário político do jogo não é tão agudo quanto o prometido. Há temas sensíveis, como migração, mas o viés maniqueísta, com uma divisão clara entre bem e mal, faz com que os tópicos não provoquem reflexões profundas. O jogo conta com alta dose de política, porém sem polemizar.

Tanto a Albion, a empresa que controla os serviços públicos e promove abusos policiais pela cidade, quando os mafiosos do clã Kelley, envolvidos com tráfico de órgãos humanos, são apresentados como vilões sem uma gota de bondade.

No entanto, não dá para prever como as pessoas reagirão, ainda mais considerando que um beijo em The Last of Us Parte II gerou uma celeuma enorme.

Independentemente do que aconteça na versão completa, a principal observação social do jogo é a que está clara desde o princípio. Ao permitir que qualquer um se junte à Dedsec —independentemente de idade, cor, classe social— Watch Dogs: Legion aponta para mais diversidade cultural, uma manifestação de esperança na convivência pacífica entre os distintos.

A própria Ubisoft pode aprender algumas lições disso e usar em suas práticas corporativas.

Um por todos e todos por um

Watch Dogs Legion - Divulgação/Ubisoft - Divulgação/Ubisoft
Imagem: Divulgação/Ubisoft

Em WD:L, a capital da Inglaterra mergulhou no caos depois de uma série de explosões criminosas que mataram milhares de inocentes. O dia dos atentados foi batizado de Zero Day, termo do jargão de programação para vulnerabilidades desconhecidas exploradas por hackers sem aviso prévio.

A culpa recaiu sobre a Dedsec, que agora precisa provar sua inocência e recrutar mais pessoas. Em termos de gameplay, basta se aproximar de uma pessoa na rua, conversar e cumprir algumas tarefas para passar a dispor do personagem e eventualmente controlá-lo nas missões.

Esse "jogue com qualquer um" é a mecânica central de Watch Dogs: Legion. E, aliás, vem sendo enfatizada em todas as peças de divulgação do game. Pudera, nunca se viu nada assim em títulos de mundo aberto, é a característica que faz o jogo ter personalidade própria. Não dá mais para chamar Watch Dogs de "Assassin's Creed hacker".

De vez em quando, Bagley, uma inteligência artificial ao estilo Jarvis, do Homem de Ferro, aponta pessoas interessantes para serem recrutadas. Uma advogada no grupo pode fazer com que membros da Dedsec presos sofram penas mais leves, por exemplo.

No entanto, muitos sistemas ao redor desse "jogue com qualquer um" foram simplificados. Não há seguidores, barra de energia hacker, roubo de dinheiro de transeuntes, para citar alguns elementos do jogo anterior. O combate, tanto corpo-a-corpo quanto nos tiroteios, não traz nada que já não tenha sido visto antes. Mureta, mira automática, botão de ataque, esquiva?

Essa limpeza ao redor da mecânica faz a inovação brilhar. Mesmo durante as cinemáticas (cutscenes), o personagem escolhido pelo jogador se mantém no centro da ação, inclusive nos diálogos.

Quem ficar atento vai perceber algumas consequências negativas. As falas não mencionam o nome do personagem. "Você é da Dedsec" é o máximo que os personagens dizem, sempre evitando colocar o nome do personagem ou citar alguma característica marcante. As expressões faciais pouco convincentes deve ser outro custo dessa inovação.

Cada personagem tem habilidades —muitas são passivas, para facilitar— e equipamentos únicos. Nada drástico ou que mude muito a jogabilidade. Melhorias adquiridas afetam todos os membros da Dedsec, não há progressão individualizada.

Entre as habilidades básicas, está a de distrair guardas com hacks nos celulares dos mesmos. Desde os assobios que conduziam os guardas de Assassin's Creed a mortes na moita não se via ferramenta tão poderosa. A distração no smartphone é capaz de fazer um guarda parar a busca por um suspeito em meio a alarmes de invasão. "Opa, chegou uma mensagem aqui no zap, depois eu vejo quem está roubando nosso cofre".

Algumas dessas características podem facilitar ou dificultar uma determinada missão. A Ubisoft não aparenta estar preocupada com isso. As missões não têm o típico roteiro estrito, permitem mais criatividade para os jogadores resolverem o problema. Se é preciso hackear um determinado servidor, será possível resolver de diversas maneiras, ao estilo Doom, com tiro em tudo o que se mexe, ou Assassin's Creed, com mais discrição, ou seja lá o estilo que der na telha do jogador.

Quer esmagar um guarda com um drone de carga gigante? Ou fazer uma invasão aérea com drone? Pode ser, a escolha é sua.

Watch Dogs Fashion Week

Se na mecânica os personagens são mais pasteurizados, a indumentária vai na direção oposta. A moda é a principal ferramenta de personalidade e individualidade.

Megan Wright, por exemplo, carrega uma chave inglesa, veste toca, short jeans e jaqueta com animal print —esse último item provoca efeitos bonitos de Ray Tracing na luz refletida.

Ex-representante sindical, Wright parece ter saído de algum filme do cineasta inglês Guy Ritchie. Ao entrar em uma área de missão, o personagem coloca uma máscara. Desde a típica balaclava até um extravagante elmo romano, aparentemente não vão faltar opções para montar os personagens —a loja de roupas não estava disponível na demo.

Já quem gostava da estética de hackers descolados, com piercings, tatuagens e cabelos multicoloridos dos jogos anteriores pode ficar tranquilo: Watch Dogs: Legion mantém vários personagens dessa estirpe circulando por Londres e pela Dedsec.

Primeira vez na nuvem

O evento da Ubisoft foi remoto. Joguei, pela primeira vez, um jogo por streaming. O carregamento rápido e os efeitos de Ray Tracing seriam um sonho distante para meu computador se não fosse por causa dessa tecnologia.

A única consequência negativa foi que em alguns momentos a imagem perdia resolução. No mais, não senti nenhum atraso nos comandos, a mais temível das consequências dessa nova modalidade.

Obviamente, há que se considerar que era um evento para a imprensa, com um público restrito. Mas fato é que os movimentos de Microsoft, Google e Amazon fazem cada vez mais sentido são cada vez mais viáveis.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL