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Bem Feito: um jogo de "fazendinha" que une terror e O Pequeno Príncipe

Reginaldo é o protagonista de Bem Feito: ele precisa realizar tarefas como regar a horta, tirar o lixo e dar uma olhadinha no esgoto... - Divulgação/oiCabie
Reginaldo é o protagonista de Bem Feito: ele precisa realizar tarefas como regar a horta, tirar o lixo e dar uma olhadinha no esgoto... Imagem: Divulgação/oiCabie

Makson Lima

Colaboração para o START

13/10/2020 04h00

Quem joga no PC está acostumado com plataformas como Steam ou Epic Games Store, mas é em lugares como Itch.io que encontramos jogos como Bem Feito, que aparenta ser mais um game de gerenciamento de "fazendinha", mas que logo foge dos clichês do gênero.

Bem Feito se inspira em creepypasta (lendas urbanas de internet), no livro O Pequeno Príncipe e em outras influências que a criadora, Carla "oiCabie" Gabriela, explica ao START. Uma mistura com resultados muito interessantes.

Creepypastas conspiracionistas

oiCabie desenvolvedor de jogos - Reprodução/Arquivo Pessoal - Reprodução/Arquivo Pessoal
Carla "oiCabie" Gabriela é criadora do game Bem Feito
Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

Carla "oiCabie" é fascinada por terror. ARG (realidade alternativa, misturando ficção e realidade) e creepypastas são suas formas de terror preferidas.

E Bem Feito seria como um jogo-creepypasta, ou creepypasta-jogo? "Pode ser que o jogo seja a sua própria creepypasta. Então tudo é uma grande referência a essa cultura", responde a artista, que também trabalhou na programação, junto com outros três amigos.

Mas por que não misturar nesse caldo um pouco de teoria da conspiração? "A gente criou um microverso se baseando em algumas chaves das teorias conspiracionistas como Mandela Effect; mistura com um senso meio de paródia de uma certa empresa japonesa grandona".

Histeria coletiva, ou memórias de eventos que nunca de fato ocorreram, mas que existem de alguma forma no imaginário coletivo, compõem Bem Feito de alguma forma. Intrigante.

Assim nasceu a história por trás do jogo: "presente no emulador GAROTRON, em forma de ARG que conversa com o jogo e é uma investigação 'criminal' sobre a MEGASOFT."

Bem Feito jogo indie - Divulgação/oiCabie - Divulgação/oiCabie
Imagem: Divulgação/oiCabie

GAROTRON, no caso, é o emulador de JOGAROTO, o portátil criado dentro desse microverso —é como se houvesse uma realidade alternativa ao Game Boy e sua criadora, a Nintendo.

Pode até parecer assustador, mal-assombrado e um pouco confuso, mas "é tudo ficção, criada por nós (ou será que não? Hmmmm hahah) e tem um toquezinho de crítica social", completa oiCabie.

E pensar que, superficialmente, Bem Feito é um simulador de fazendinha em que Reginaldo, o protagonista, precisa realizar tarefas como regar a horta, tirar o lixo e dar uma olhadinha no esgoto.

Um asteroide para chamar de fazenda

Já sobre o clássico livro infantil, o próprio local onde o jogo se passa, chamado B-613, é uma referência direta do asteroide lar do príncipe, o B-612. E não é a única", revela oiCabie.

Bem Feito game tela principal - Divulgação/oiCabie - Divulgação/oiCabie
Imagem: Divulgação/oiCabie

"Bem Feito tem como chave temática a 'responsabilidade afetiva' pautada pelo livro (de um parâmetro crítico), e o Reginaldo talvez seja uma leitura do Pequeno Príncipe".

Ou seja, são vizinhos intergalácticos. Reginaldo como regente desse microcosmo de simulador de fazenda.

Frases tiradas do Pica-Pau e muito da decoração da casa, comuns no Brasil, correspondem à vida de oiCabie. "Tem altas 'piadocas' com referências a minha construção na cultura pop", comenta.

Mas também traz um elemento vindo do outro lado do mundo. Aprendizados tirados de jogos como Yume Nikki também permeiam Bem Feito. O indie japonês remete diretamente ao termo hikikomori, que diz respeito a pessoas excluídas socialmente, isoladas.

Regando pixels para colher jogos no futuro

Bem Feito contou com um processo criativo nada ortodoxo, explica oiCabe: "Simplesmente, do nada, sem explicação, eu começo um debate idiota e sem pé nem cabeça com quem está próximo (normalmente meu namorado) e a gente começa a levantar apostos sobre o assunto."

A perversidade por trás dos ciclos criados dentro do jogo —como isso acontece, como é a busca por satisfação e recompensa— serviu de gênese a Bem Feito. É aquele efeito catártico e súbito, um tanto explosivo, que dá origem a uma ideia.

Foi exatamente o que oiCabie pensou: "Nossa, isso é tão assustador, como ninguém retrata isso como terror? Ops, ALGUÉM vai fazê-lo".

Bem Feito fazenda - Divulgação/oiCabie - Divulgação/oiCabie
Imagem: Divulgação/oiCabie

oiCabie e mais os colegas Yukohhh, Nonamefornowsoft e Kazemyers, que fundaram uma cooperativa, levaram cinco meses criando o game, e o resultado agradou bastante a perfeccionista desenvolvedora.

"O público que joga me emociona todos os dias! Todos muito afetuosos comigo, com a gente, com o jogo; brincando junto com a lore de creepypasta e nos enchendo de elogios e mimos, tá sendo viver um sonho".

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