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De chaveiro a campeão de Street Fighter V: conheça o brasileiro Jah Lexe

Capcom Cup, o Mundial de Street Fighter V, acontecerá em 2021 nos Estados Unidos, com 18 regiões na disputa - Arte/UOL
Capcom Cup, o Mundial de Street Fighter V, acontecerá em 2021 nos Estados Unidos, com 18 regiões na disputa Imagem: Arte/UOL

Gabriel Sales

Colaboração para o START

10/10/2020 04h00

Por muito tempo Alexandro Rodrigues, mais conhecido na cena competitiva de Street Fighter como Jah Lexe, esteve à sombra de outros nomes brasileiros do game de luta da Capcom, como Brolynho, Keoma, DidimoKOF, Chuchu e Zenith.

Em 2020, o paulistano de 25 anos se consolidou como um dos principais pro-players da América do Sul e será o único representante do Brasil na Capcom Cup 2020, campeonato mundial de Street Fighter V previsto para o primeiro trimestre de 2021, nos Estados Unidos.

Após bater na trave com o terceiro lugar na CPT South America 1, quando foi eliminado pelo peruano Pikoro, Lexe superou o amigo e rival de longa data Chuchu na decisão da CPT South America 2, no último dia 27.

Fã dos jogos de luta - desde os tempos em que The King of Fighters era febre nos fliperamas de todo o país - Lexe entrou para o competitivo de Street Fighter IV: Arcade Edition no fim de 2012. Com a chegada de Street Fighter V em 2016, ele abandonou a rotina de torneios e até vendeu seu Xbox 360. Mas retornou no fim da segunda temporada do jogo ao ser presenteado com um PlayStation 4.

"Gosto muito de acampar, ficar em contato com a natureza e por quase três anos abandonei os campeonatos, precisava trabalhar e sabemos que não dá para viver de jogos de luta aqui no Brasil. Depois do nascimento do meu sobrinho, que mora comigo junto com minha irmã e meus pais, passei a ficar mais tempo em casa e voltei a treinar. Minha mãe foi fundamental para esse meu retorno e devo muito a ela por todo o apoio que ela sempre me deu", relata Lexe.

Perda se transformou em solidariedade

Lexe Street Fighter V - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues
Imagem: Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues

Longe dos torneios, o pro-player passou por um dos períodos mais difíceis de sua vida. Há seis anos, a perda do irmão mais novo, Christoffer, o fez enxergar a vida de forma diferente desde então, e a mudança de apelido de Lexe para Jah Lexe tem relação direta com essa transformação.

Jah Lexe e mãe - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Quem me deu o apelido de Lexe foi o meu irmão, pois quando ele era pequeno não conseguia pronunciar Alexandro. Depois da morte do Bú (apelido de Christoffer), me conectei muito mais com Deus, e desde então adotei o nick de Jah Lexe e deixei esses dreads crescerem de forma natural. Embora todos na minha casa gostem de reggae, os dreads não têm nada a ver com a música, e sim sobre a forma como eu passei a enxergar a vida
Alexandro "Jah Lexe" Rodrigues, pro-player de Street Fighter V

Com a morte de Christoffer, a relação de Lexe com a família ficou ainda mais forte, e essa dor se transformou em solidariedade. Célia, mãe do jogador, resolveu criar a ONG Christoffer Lee Bú, que ajuda moradores de rua, crianças e jovens da periferia de São Paulo, com entrega de marmitas, roupas e cestas básicas, além da realização de uma festa comunitária no dia das crianças.

Jah Lexe e família - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues
Imagem: Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues

"A perda do meu irmão foi muito difícil para mim e para toda a minha família, mas percebemos que a melhor forma de homenagear o Bú era ajudando pessoas que precisavam. Não somos ricos, mas fazemos o que está ao nosso alcance", detalha o pro-player.

Sintonia com Rashid e consolidação entre os melhores do país

Rashid Street Fighter V - Divulgação/ManualDosGames - Divulgação/ManualDosGames
Imagem: Divulgação/ManualDosGames

Não foi nada fácil retornar ao circuito competitivo, e o longo período de inatividade mostrou que enquanto os principais jogadores do país já haviam estabelecido seu estilo de jogo, Jah_Lexe precisava evoluir e encontrar um personagem que o deixasse exercer sua pressão sobre os oponentes.

Ken, seu "boneco" principal na era de Street Fighter IV, não estava tão forte em SFV. Foi aí que Lexe passou a investir em Rashid e melhorou sua performance. O quarto lugar no Treta Championship 2019, maior evento de jogos de luta no Brasil, e o título da Tiger Upper Cup mostraram a ele que estava no caminho certo para se tornar um dos principais jogadores do país.

Rashid Street Fighter V - Divulgação/Zerochan  - Divulgação/Zerochan
Imagem: Divulgação/Zerochan

Rashid suergiu como uma opção em partidas que eram ruins para o Ken, como a Menat, mas se tornou meu principal e único personagem. Nos jogos de luta, costumamos dizer que não basta nós escolhermos o personagem, ele também tem que nos escolher, e foi assim com ele. Hoje, me sinto totalmente seguro com ele
Alexandro "Jah Lexe" Rodrigues, pro-player de Street Fighter V

E se 2019 foi um ano de afirmação para Jah Lexe em Street Fighter V, 2020 o consolidou entre os melhores da América do Sul, ainda que a pandemia de Covid-19 tenha mudado radicalmente a rotina dos jogadores no mundo inteiro.

Com o fim das etapas presenciais do Tiger Upper Quarta, circuito semanal de torneios realizado todas as quartas-feiras em São Paulo, surgiu um novo desafio: a transição para campeonatos disputados exclusivamente online.

Entre torneios e trabalhos como chaveiro

Rashid Chaveiro Street Fighter V - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Das críticas da comunidade de Street Fighter V aos problemas de conexão - os famosos 'lags' - durante as partidas, a substituição das etapas presenciais da Capcom Pro Tour por torneios online se tornou motivo de preocupação para muitos jogadores, com alguns deles optando por não disputar nesse novo formato.

Em duas lutas contra Pikoro na CPT South America 1, tive muitos problemas de lag, porque a conexão do Brasil com o Peru costuma ser muito ruim. Para piorar, ele joga de Bison, um dos personagens mais difíceis de se enfrentar com lag, e acabei com duas derrotas no evento justamente para ele. Mesmo assim, continuei disputando o máximo de torneios online nesse período para me preparar para o CPT South America 2, e consegui encaixar o meu jogo para garantir a vaga na Capcom Cup

Apesar dos problemas do modo online, os torneios renderam bons frutos a Lexe para além da forte preparação para a Pro Tour. Em vários eventos, como o Pogchamp - organizado pelo jogador PauloWeb - e o WR Kumite do streamer Ryoran, Lexe acumulou premiações em dólar por meio da plataforma Matcherino, na qual a própria comunidade contribui para o aumento do "pote" do torneio.

Silvério, Keoma e Lexe na Tiger Upper Quarta #54, em outubro de 2019 - Reprodução/Facebook/FGCSãoPaulo - Reprodução/Facebook/FGCSãoPaulo
Silvério, Keoma e Lexe na Tiger Upper Quarta #54, em outubro de 2019
Imagem: Reprodução/Facebook/FGCSãoPaulo

O dinheiro obtido com vários títulos e presenças em Top 3 virou investimento para o negócio do jogador. Hoje Lexe concilia a rotina de treinos com o trabalho de chaveiro.

"Usei boa parte da grana das premiações nos últimos meses para comprar os equipamentos que eu precisava, e hoje consigo trabalhar de casa, saindo apenas para fazer alguns serviços por demanda. Isso permitiu que eu pudesse me dedicar mais aos treinos e evoluir meu jogo nesse período."

Ambição de fazer história no Mundial

Lexe Street Fighter V - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues
Imagem: Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues

O maior desafio de sua carreira será a Capcom Cup, e Jah Lexe sabe em quais aspectos precisa evoluir e focar nos adversários que irá enfrentar.

Sorteado no grupo D, o pro-player já conhece dois de seus oponentes: Xian, jogador de Singapura, campeão da 2ª Seletiva do Sudoeste Asiático. E AngyBird, representante dos Emirados Árabes e campeão da 2ª Classificatória do Leste Europeu e Oriente Médio.

Além deles, Lexe ainda enfrentará o campeão da 2ª Seletiva do Leste da América do Norte e outro jogador escolhido pela comunidade de Street Fighter.

Xian e Angrybird Street Fighter V - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

"Tanto o Xian quanto AngryBird jogam de Seth, um dos personagem mais fortes do jogo, mas não é tão usado no Brasil. Estou me preparando muito para essa match, sei que os dois conhecem Rashid e estão prontos para me enfrentar, tenho consciência de que algumas coisas que uso aqui não vão funcionar lá. Por isso, tenho que aprimorar meu jogo nos próximos meses", explica.

A luta de quem vem de baixo

Após uma série de bons resultados, Lexe conseguiu o apoio da marca de periféricos Razer e vive agora a expectativa de fechar um contrato para se tornar atleta da empresa. Na avaliação do jogador, a falta de apoio ainda é o principal obstáculo para a evolução da cena de jogos de luta no Brasil.

Lexe Street Fighter V - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues - Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues
Imagem: Reprodução/Facebook/AlexandreRodrigues

No Japão e Estados Unidos, os melhores jogadores conseguem se dedicar exclusivamente ao competitivo e isso tira deles a pressão de ter que ganhar um torneio por causa da premiação em dinheiro. Aqui, mesmo que você consiga um bom resultado, não há segurança financeira nenhuma, tanto que os melhores precisam trabalhar e alguns simplesmente pararam
Alexandro "Jah Lexe" Rodrigues, pro-player de Street Fighter V

Com a consciência de que chegará à Capcom Cup como um azarão, Lexe não pretende ir para lá "apenas para fazer figuração". Inspirado em pro-players com performances históricas como o brasileiro Keoma Pachecho, que chegou ao top 8 da Capcom Cup 2015, e o dominicano MenaRD, campeão mundial sobre o japonês Tokido em 2017.

Um por todos...

Jah Lexe e Keoma Street Fighter V - Divulgação/Team oNe - Divulgação/Team oNe
Imagem: Divulgação/Team oNe

Quando um brasileiro vai disputar em torneios internacionais, a comunidade se une em busca de um resultado histórico. E quando o assunto é se superar, Lexe assume que "é disso que eu vou em busca", conta o pro-player que tem como principal referência o japonês Gachikun, campeão da Capcom Cup 2018 com o mesmo Rashid que Lexe espera encontrar a chave para a vitória em sua primeira experiência fora do país.

Diferentemente de vários jogadores brasileiros, Jah Lexe nunca jogou fora do país. Portanto, ele quer aproveitar essa experiência ao máximo, "quero absorver todo o conhecimento que eu puder nos poucos dias que eu estiver lá", ressalta.

A Capcom Pro Tour (CPT) 2020 está acontecendo entre os meses de junho e novembro. Ao todo, são 18 torneios regionais disputando e distribuindo vagas para o mundial de Street Fighter V. Devido a pandemia do coronavírus, o evento está previsto para 2021 nos Estados Unidos.

Rashid Street Fighter V - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Imagem: Divulgação/Sony

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