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HyperDot: o jogo "de um homem só" que passou de 200 mil downloads no Xbox

HyperDot tem um conceito simples, mas que exige reflexos e agilidade - Divulgação
HyperDot tem um conceito simples, mas que exige reflexos e agilidade Imagem: Divulgação

João Varella

Colaboração para o START

03/10/2020 04h00

HyperDot é um jogo simples de entender e difícil de zerar. O jogador controla um ponto e deve fugir das formas geométricas que aparecem incessantemente na tela, por todas as partes. Cada tentativa leva poucos intensos segundos. De vez em quando, HyperDot parece um quadro animado do artista Piet Mondrian ou Wassily Kandinsky. Ou um remake de Geometry Wars sem os efeitos brilhantes. O desafio mais severo, porém, aconteceu nos bastidores do desenvolvimento.

O americano Charles McGregor fez o jogo inteiro, da programação à música, sozinho. Ele tem 26 anos e é negro, minoria na indústria dos games. Ainda mais em se tratando de cargos de chefia.

Charles McGregor HyperDot - Divulgação - Divulgação
Charles McGregor é o criador de HyperDot
Imagem: Divulgação

Soube que fundei o primeiro estúdio de jogos de um negro em Minnesota, mas não quero que seja assim. Tenho orgulho de ajudar a pavimentar o caminho para outras pessoas como eu
Charles McGregor, criador de HyperDot

A empresa que McGregor fundou, a Tribe Games, é um raro caso de estúdio conduzido por um negro. Sokay Games e Napalm Entertainment são alguns dos outros poucos exemplos. Ele trabalha sozinho nela.

Pesquisa da Associação Internacional de Desenvolvedores de Jogos (IGDA, na sigla em inglês) aponta apenas 2% de negros trabalhando no segmento. "Fundei o primeiro estúdio de jogos de um negro em Minnesota [estado da região centro-oeste dos EUA], mas não quero que seja assim", afirmou ele em entrevista ao START.

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Ele levou três anos para desenvolver HyperDot. O jogo tem campanha com uma centena de fases, co-op, editor de mapas e alguns segredos. As atualizações não pararam. Recentemente, foi disponibilizado um modo com vidas limitadas —o próprio McGregor só consegue chegar até a fase 32 com uma vida.

Lançado em janeiro deste ano, três meses depois HyperDot entrou no catálogo do Xbox Game Pass tanto para PC quanto para console. Foi baixado mais de 200 mil vezes.

HyperDot - Divulgação - Divulgação
HyperDot lembra Geometry Wars, jogo que nasceu como easter egg em 2003 no game de corrida Project Gotham Racing 2
Imagem: Divulgação

Pane no sistema

O primeiro game de McGregor foi Glitch in the System. Jogo de tiro, havia sido lançado para Android e iOS, mas atualmente está disponível apenas na Microsoft Store para PC e celular — fica a dica para os raros donos de Windows Phone.

Depois de lançar HyperDot, McGregor foi convidado de alguns dos eventos mais importantes da indústria dos games, como a GDC (Game Developers Conference), que neste ano foi virtual. Em sua palestra, McGregor falou sobre a importância de finalizar projetos e descreveu como passou de um amador a um profissional da indústria dos games.

Na entrevista abaixo, McGregor revela um pouco mais de sua trajetória:

START - Como foi desenvolver Glitch in the System, seu primeiro jogo?

Charles McGregor: Eu o fiz originalmente para uma feira de clubes da nossa faculdade, onde os alunos tentam recrutar pessoas para se associarem ao seu clube. Tive a ideia de tentar fazer um protótipo de jogo em que as pessoas pudessem jogar enquanto visitavam nosso estande para atrair mais pessoas. Esse protótipo acabou se tornando Glitch in the System. Passei cerca de dois meses trabalhando nele depois disso e então o lancei. Foi meu primeiro jogo completo, o que abriu muitas oportunidades para mim. Eu passei a saber como "terminar" um jogo.

START - E HyperDot?

Charles McGregor: Na maior parte do desenvolvimento, consegui progredir em um bom ritmo com novos recursos, fases e conteúdo. Originalmente, começou como um projeto paralelo, trabalhando apenas em meu tempo livre. Tornou-se meu "segundo" projeto quando me formei na faculdade, quando trabalhava por contrato. Foi apenas na semana anterior à conferência da E3 do ano passado que consegui trabalhar no HyperDot em tempo integral até o lançamento do jogo.

START - Qual foi o maior desafio?

Charles McGregor: Tentar atingir os 100 níveis do jogo. Eu era ambicioso demais quando comecei a dizer que faria uma centena de fases, demorei muito tempo tentando fazer tudo e criando a ferramenta para me ajudar nisso.

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START - Quanto de dinheiro foi investido?

Charles McGregor: Inicialmente, quase nenhum dinheiro foi investido. Eu apenas trabalhava no meu tempo livre. Foi assim até a Glitch, minha publisher, entrar no projeto. O jogo então ficou mais ambicioso em termos de plataformas em que iria ser lançado. Eles investiram em marketing e testes com usuários.

Charles McGregor Tribe Games - Reprodução/Tribe Games - Reprodução/Tribe Games
Charles McGregor em evento indie para divulgação de games
Imagem: Reprodução/Tribe Games

START - Como você enxerga o futuro da Tribe Games? Você ainda trabalha sozinho?

Charles McGregor: Ainda trabalho sozinho. Não tenho problemas em trabalhar com outras pessoas, gosto de colaborar com outras pessoas em jogos e projetos. Só sei que, se quiser ter outra pessoa na equipe, quero ter uma visão muito concreta para onde estou indo. Ao longo dos anos, posicionei a Tribe Games para ser um portfólio ou um negócio. Ainda não estou totalmente seguro de qual é o próximo passo. Mas eu não planejo não trabalhar nas coisas da Tribe Games, mesmo se eventualmente começar a trabalhar em outro lugar. A grande questão é como colocar a Tribe Games para me sustentar por um tempo. Percebo que tenho feito essa pergunta há alguns anos [risos].

Recebi muitos conselhos de minha família, mas o que tenho em mente são os exemplos dentro dela. De meus pais, meu irmão, minha tia e meus tios, há muitos exemplos de excelência negra em minha família e espero levar isso adiante
Charles McGregor

START - Como você vê o problema da sub representação de negros na indústria dos games?

Charles McGregor: É algo que te irrita com o tempo, mesmo que você não reconheça. Porque são nos momentos em que você percebe a representação que você começa a perceber que não está sendo representado. Soube que fundei o primeiro estúdio de jogos de um negro em Minnesota, mas não quero que seja assim. Tenho orgulho de ajudar a pavimentar o caminho para outras pessoas como eu. Mas também é revelador que demorou tanto para isso acontecer.

START - Como sua família lida com isso?

Charles McGregor: Recebi muitos conselhos de minha família, mas o que tenho em mente são os exemplos dentro dela. De meus pais, meu irmão, minha tia e meus tios, há muitos exemplos de excelência negra em minha família e espero levar isso adiante. Eu não acho que haja uma solução fácil, "basta fazer isso e ficaremos bem", é mais sutil do que isso. Mas apresentar equipes mais diversificadas com uma variedade de experiências ajuda a encontrar soluções com mais nuances.

Hyperdot  - Divulgação/Tribe Games - Divulgação/Tribe Games
Imagem: Divulgação/Tribe Games

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