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OPINIÃO

Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 fica melhor com letras do Charlie Brown Jr.

Chorão é o grande personagem do remake de Tony Hawk"s Pro Skater - Arte/UOL/Simon Plestenjak/Folhapress
Chorão é o grande personagem do remake de Tony Hawk's Pro Skater
Imagem: Arte/UOL/Simon Plestenjak/Folhapress

Vinicius Amado

Do START, em São Paulo

20/09/2020 04h00

O remake dos dois primeiros jogos da série Tony Hawk's Pro Skater já era esperado só pela nostalgia repaginada com visual 2020 de ollies, flips e outras manobras, mas para os brasileirinhos foi ainda mais especial pela presença da música Confisco, do Charlie Brown Jr., na trilha sonora.

O vocalista Chorão foi importante para a cultura de skate no Brasil, tão importante que só uma música não seria o suficiente para ele deixar a marca em um game de skate. Por isso, é o Marginal Alado quem vai ser o nosso guia durante este review de Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2.

Alexandre Magno Abrão, o Chorão, morreu em 2013, então como podemos receber suas lições para mandar bem nos half pipes virtuais? Simples, com a música.

Pelo menos 30 letras de canções do Charlie Brown Jr. citam ou falam de skate (ironicamente, Confisco não é uma delas). Por meio delas e outras falas de Chorão, vamos tentar ser um "Ibiraboy, com Skaton na veia".

"Cada escolha, uma renúncia, isso é a vida" (Lutar pelo o que é meu)

Tony Hawk Pro Skater 1 + 2 começa com escolhas: controlar algum dos 22 skatistas profissionais ou criar seu próprio personagem?

Do game clássico, toda a galera segue disponível, como Chad Muska, Elissa Steamer e o próprio Tony Hawk, claro.

game Tony Hawk's Pro Skater  - Divulgação/Activision - Divulgação/Activision
Imagem: Divulgação/Activision

Representando os brasileirinhos, Bob Burnquist segue no jogo, e Letícia Bufoni, que é uma das principais referências do skate street hoje, entrou para a lista junto com outros 7 nomes da nova geração.

Porém, acabei criando eu mesmo, um Vinizinho dentro do game.

game Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 - Reprodução/Vinicius Amado - Reprodução/Vinicius Amado
Imagem: Reprodução/Vinicius Amado

Pena que a ferramenta de criação não seja lá das melhores, e chegou a ser frustrante quando tentei criar o Chorão no look do Acústico MTV. Mas se essa foi a renúncia para se ter um jogo de skate tão bom, então tudo bem.

O Vinizinho, diferente de mim na vida real, é muito bom em skate, isso por causa de outras escolhas que fiz sobre qual caminho seguir: algo mais streeteiro à la Letícia Buffoni? Talvez algo mais na pegada dos milagres no vertical do Bob Burnquist? Ou até aquele freestyle que o Chorão gostava de fazer?

Não é tão simples tomar essa decisão, porque para adaptar seu estilo é necessário gastar pontos de atributo, como num RPG. Então, se quiser um skatista voador, como Lincoln Ueda, vai ser preciso tomar a escolha de sacrificar seus pontos de equilíbrio ou switch.

"Não tão complicado demais, mas nem tão simples assim" (Champanhe e Água Benta)

O remake de Tony Hawk's Pro Skater nos fez lembrar o quanto os jogos eram "direto e reto": dois minutos, alguns objetivos na pista para completar e é isso.

Apertar um ou dois botões do controle já é o suficiente para começar a fazer manobras. Até que você abre o menu para ver os desafios e percebe que não está alcançando nem a metade da pontuação mínima. É, realmente executar todas as missões não é tão fácil.

De certa forma, isso faz parte da missão de THPS 1+2 entregar a mesma experiência de 1999, com gráfico atualizado para os padrões de 2020. Mesmo assim, eles seguem sendo jogos de PS1, e isso se percebe pelo próprio controle.

Algo "normal" para os gamers de hoje é usar os dois analógicos como os botões principais para a navegação no mundo. Já aqui, não é obrigatório o uso de nenhum dos dois.

Depois que você se adapta a um estilo mais simples de usar o controle, vai percebendo que, de fato, o jogo te empurra a melhorar os seus combos e as sequências. Prepare-se para errar bastante.

Para realmente ser bom no jogo, é preciso um certo empenho, não é tão simples assim como pode parecer de primeira. Fique sabendo que alguém realmente bom no jogo faz isto:

"Nem ganhar, nem perder, mas procurar evoluir" (Dias de Luta, Dias de Glória)

As quedas e frustações podem ser constantes para quem aprende a andar de skate, e isso também acontece em THPS 1 + 2.

Apesar da raiva, quem ouve Chorão tem esperança e fé no skate, porque o foco é evoluir, aos poucos, já que aqui não se trata de ganhar ou perder. Trata-se de andar de skate e se divertir.

Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2

No remake, assim como nos jogos originais, novas pistas só são liberadas após completar alguns objetivos e pontuações nas fases já abertas. Aí está a procura pela evolução de que Chorão tanto fala.

Refazer a fase quantas vezes forem necessárias é algo viciante, e mesmo tendo desbloqueado a próxima pista, você sente prazer de seguir ali para terminar de cumprir os desafios restantes.

Faz parte da essência da cultura de andar de skate ser colocado à prova para mandar uma manobra e seguir tentando até conseguir. THPS 1 + 2 sabe transmitir isso muito bem no remake.

"Em Pirituba é quase igual: Punk, Funk, pagodeiro, RZO e Charlie Brown" (A Banca)

A trilha sonora dos jogos da Tony Hawk é um aspecto à parte e tão importante quanto o jogo em si.

O remake traz de volta sons que ficaram muito marcados nos games originais, como Superman (Goldfinger), New Girl (The Suicide Machines) e Police Truck (Dead Kennedys). Tinha de tudo um pouco ali, mas com uma ênfase muito grande da cena do rock americano e diversas vertentes, do hardcore ao ska.

Mas é como se o remake tivesse absorvido um pouco da cultura Charlie Brown Jr. Não porque Confisco está no jogo, mas porque a banda fazia rolê no rap, no pagode, no emo e na MPB.

Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 - Divulgação/Activision - Divulgação/Activision
Imagem: Divulgação/Activision

A cena do skate por aqui tinha muito rock 'n roll, mas também era diversa no som. Com isso, você vai encontrar algumas coisas que são fora da casinha para nós, brasileiros, como o som dos rappers australianos Backchat e Baker Boy e a rapper persa-neozelandesa Chaii.

O remake soube se atualizar e expandir não só no visual e jogabilidade, como também pela influência da música, para até refletir o público mais diversificado que o skate atinge hoje em dia.

"Vá até uma banca e compre uma revista Trasher" (Aquele Velho Carteado e Algumas Manobrinhas)

Uma das coisas mais legais da cultura do skate é o lance de você sempre ter um parça contigo para filmar suas manobras ou tirar uma foto insana da sua série de manobras.

Revistas como a Trasher, citadas por Chorão, eram uma vitrine para essas produções, com fotos de skatistas que pareciam super-heróis voando nas pistas.

Outros jogos de skate já incorporaram isso como mecânica, como a série Skate, da EA. No caso do THPS, eu esperava que tivesse pelo menos um modo "foto style", para você poder capturar e editar o quadro perfeito, ou algo que fizesse alusão a essa cultura.

Demorou um pouco, mas fui percebendo que isso está lá, de maneira sutil. Toda vez que você cai do board ou vai para o chão depois de um giro errado no half, aparece um efeito de "glitch" combinado com um efeito sonoro de rebobinar.

O efeito dá a ideia de que a sessão é um take de vídeo sendo gravada pelo jogador, como se a pessoa com o controle fosse aquele parça filmando atrás a linha de manobras, esperando pelo melhor ângulo.

E quando você cai, é como se voltasse a gravação para retomar a manobra e seguir gravando. Algo poético para um jogo que não se propõe a tanto.

"Na coletividade, todo mundo unido" (Direto e Reto Sempre)

O mais precioso do rolê de skate na vida real é contar com alguns amigos e fazer novas amizades. Tem competição, mas tem parceria e coletividade.

No THPS clássico, a vibe era parecida. Quem não se lembra de chamar a rapaziada em casa para fazer um X1, com possibilidade de virar briga generalizada no fim dos rounds? Era coisa séria.

Esse modo continua no jogo, mas não estamos mais em 1999/2000 e, como parte da atualização dos jogos, o remake traz multiplayer online, que conta com 7 modos, como o Grafite e os desafios de pontuação e combo.

Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 multiplayer - Reprodução/Vinicius Amado - Reprodução/Vinicius Amado
Eu e os trutas esperando a próxima partida online
Imagem: Reprodução/Vinicius Amado

Preciso dizer que a melhor coisa do multiplayer é que as partidas são rápidas, assim como o modo campanha, e elas funcionam em um esquema de loop. Então, uma vez que você entrou em uma sala, o jogo vai arranjando jogadores e você pode ficar ali por horas.

Mas ainda assim, jogar com desconhecidos não é a mesma coisa que ter aqueles brothers para desafiar, ainda mais que a interação com os outros players é NULA.

Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 - Reprodução/Vinicius Amado - Reprodução/Vinicius Amado
No multiplayer é todo mundo na mesma pista tentando fazer o máximo de manobras possível
Imagem: Reprodução/Vinicius Amado

O problema de "todo mundo unido", como Chorão gostaria para jogar skate online, é que isso depende dos amigos gastarem R$ 200 no lançamento do jogo. E não está fácil pra ninguém ultimamente.

Para dificultar ainda mais o rolê, o game ainda não tem cross-play. Ou seja, se você tem o THPS para PC e quer jogar comigo, manda uma DM, estou precisando de amigos!

"Skateboard Amor Eterno" (Não Viva em Vão)

É com essa frase de amor ao esporte que se encerra o clipe mais marcante do CBJR pra mim, e essa paixão de Chorão era tanta que ele chegou a construir uma pista de skate em Santos, o Chorão Skate Park.

THPS 1 + 2 também deixa você fazer isso. O modo de criação te deixa livre para criar o circuito que quiser, do simples ao mais impossível, de um skate park padrão a uma montanha-russa.

Só que, para ser bem sincero, isso não é para todos, já que exige bastante tempo e paciência, e os menus do game são extremamente problemáticos.

Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 criação de pistas - Reprodução/Vinicius Amado - Reprodução/Vinicius Amado
Imagem: Reprodução/Vinicius Amado

Achei muito difícil encontrar as peças e plataformas, fazer a edição delas e posicionar da maneira perfeita de acordo com a minha ideia.

Por isso, passei mais tempo me divertindo com as pistas que as pessoas criaram. Tem de tudo: circuito extremamente difícil, pista com paisagem legal e até umas coisas meio malucas, como a montanha russa.

Pena que, nessas pistas criadas, não é possível colocar desafios ou segredos, o que faz delas só um local para dar uma passeada rápida e pronto.

Ainda assim, o fato de já haver membros ativos da comunidade criando essas fases é o verdadeiro amor eterno ao skateboard virtual, o que também pode estender o interesse do público. E, se você conhece a cena de "modders" de Tony Hawk, sabe que eles são capazes de coisas incríveis.

Creio que o amor eterno ao skate, do THPS e das ruas, é o que manteve a paixão do público por esse jogo mesmo depois de 20 anos. Esse mesmo amor é o que também dá forças para os fãs do Chorão mesmo após sua morte.

Seguindo o beat de suas músicas, ainda vou andar muito de skate na vida, e agora, com Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 revigorando muito bem essa vontade, também no videogame.

capa do game Tony Hawk's Pro Skater 1 + 2 - Divulgação/Activision - Divulgação/Activision
Imagem: Divulgação/Activision

Lançamento: 04/09/2020
Plataformas: PC (Epic Games Store), PS4 e Xbox One
Preço sugerido: R$ 199,00
Classificação Indicativa: 12 anos (Violência, Linguagem Imprópria)
Desenvolvimento: Vicarious Visions
Publicação: Activision
Jogue também: Skater XL, Skate 3

*A cópia do jogo foi cedida pela Activision ao START

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