Se Project CARS 3 fosse uma música, seria "Should I Stay or Should I Go", da banda punk inglesa The Clash.
O som fala sobre um relacionamento conturbado e, de certa forma, o game de corrida da Slightly Mad Studios também, depois do que a série se tornou agora e a reação da sua comunidade.
A série Project CARS é fruto de um financiamento coletivo no início dos anos 2010, com o primeiro game lançado em 2015.
E algo importante de notar é que o "CARS" do nome não significa "carros", mas sim as iniciais de "Community Assisted Racing Simulator", ou "Simulador de corrida com Apoio da Comunidade", a ideia é que ele seja um simulador de automobilismo.
Isso foi levado a sério pelos dois primeiros games da série. Mas o pessoal da Slightly Mad Studios parece ter ouvido bastante a música do The Clash durante o desenvolvimento do terceiro jogo e o resultado é um game que não sabe se vai para o lado de corrida arcade, ou se fica como um simulador.
O terreno proibido dos "SimCades"
Essa suposta crise de identidade do game não seria, necessariamente, um problema. Basta lembrar que Gran Turismo e Forza Motorsport são, justamente, um misto de game arcade com simulador.
Na prática, porém, ao mudar Project CARS 3 de categoria a Slightly Mad Studios arranjou duas tretas.
A primeira é com a base de fãs do game, mais inclinada a curtir jogos de corrida realista e com elementos de simulação mais intensos.
Já a segunda tem a ver mais com o game e ao que ele se dispõe. Em nenhum aspecto Project CARS 3 supera ou sequer se iguala a Gran Turismo ou Forza Motorsport.
E o "nenhum", aqui, é bem amplo, indo desde o visual - um grande apelo em games do tipo - até a jogabilidade.
Pode parecer, mas não estou sendo exagerado. Vamos começar pelo visual: o meu teste foi feito na versão para PC do jogo e, nele, Project Cars 3 de fato é um game bonito - há relatos, porém, que dão conta de sérios problemas visuais quando o game roda nas versões "básicas" de PlayStation 4 e Xbox One.
Os carros de Gran Turismo Sport parecem mais detalhados, bem como os cenários de Forza Motorsport 7 - em especial durante situações climáticas adversas - são mais bonitos.
Derrapando com o controle
E a jogabilidade? Bem, é inegável que PC3 faz um baita esforço para ser um game mais palpável para quem utiliza um controle convencional. E isso funciona.
O game pode ser totalmente aproveitado dessa forma, algo digno de nota considerando o quanto estranho era jogar o antecessor com essa forma de comando.
Durante o teste do game eu utilizei na maior parte de tempo um conjunto de volante e pedais (Logitech G27).
Mas, novamente, a concorrência sai na frente aqui. Tanto Gran Turismo quanto Forza 7 oferecem uma experiência de direção mais orgânica.
O game de Xbox, inclusive, é primoroso quando o assunto é ser capaz de agradar tanto quem joga no controle quanto quem usa volante e pedais.
Já o de PlayStation traz uma física mais "pesada" que o torna bem agradável de ser explorado com esses controles mais específicos.
Mesmo com melhorias em relação à demo, a física de Project CARS 3 se mostra indecisa.
Um exemplo disso: o game é exigente com o controle de carros com tração traseira, mas ao mesmo tempo não pune o jogador caso ele escorregue um pouco mais e acabe parando na grama.
Isso faz com que a parte "simulador" do game fique irritantemente desequilibrada. E, aqui, não cobro que o jogo traga uma física apuradíssima como a vista em títulos como RFactor 2 ou Assetto Corsa Competizione, mas limitar a simulação a "você precisa frear antes das curvas e acelerar com cuidado" não parece ser a melhor opção na hora de fazer um game de corridas do gênero.
O grande problema de uma jogabilidade inconstante é que isso afeta o jogo em todos os seus modos.
As corridas, por exemplo, se resumem a você ir ultrapassando blocos de adversários - e pode usar táticas "sujas" como se apoiar nos outros carros na hora das curvas - em um bate-bate interminável até você esteja na ponta. Entediante, para dizer o mínimo.
Também não ajuda que o modo carreira, um dos grandes chamarizes de PC3, não é lá muito inovador.
Começar com um carro barato, ganhar corridas, dinheiro e ir melhorando sua garagem para ter acesso a novas categorias é uma progressão lenta até demais.
Se por um lado isso acrescenta uma dose de longevidade ao game, por outro deixa ele um tanto repetitivo.
Por que jogar?
Durante todo o meu teste com Project Cars 3 eu me fazia uma pergunta que tradicionalmente faço quando estou avaliando um jogo: "por que eu deveria jogar esse game?"
A resposta para isso foi um longo silêncio. Nem um ronco de motor ou o fritar de pneus no asfalto. Só silêncio.
Vejamos: Project Cars 3 não supera o que já existe em nada do que se propõe.
Ele não tem o melhor visual, não tem a maior quantidade de carros, não oferece a melhor simulação e não é tão divertido quanto um game arcade.
Sem dúvidas a Slightly Mad Studios foi corajosa ao fazer a sua franquia mudar de rumo e tentar atingir uma nova parcela de jogadores. Alguns diriam que foi uma típica rebeldia, de ir contra o que já estava acostumado.
Seja coragem ou rebeldia, porém, isso nem sempre significa sucesso. Com uma série já estabelecida e contrato com "gravadora", eles viraram as costas para os fãs.
Assim, tudo que Project CARS 3 conseguiu é se tornar "mais um": um game genérico e que, infelizmente, "traiu" a comunidade.
Lançamento: 28/08/2020
Plataforma: PC (via Steam), PS4, Xbox One
Preço sugerido: R$ 199,90 (PC) e R$ 249,90 (PS4 e Xbox One)
Classificação indicativa: Livre
Desenvolvimento: Slightly Mad Studios
Publicação: Bandai Namco Entertainment
Jogue também: Gran Turismo Sport, Forza Motorsport 7
*A análise foi feita com uma cópia do jogo cedida pela Bandai Namco ao START
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