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OPINIÃO

Hideo Kojima faz aniversário: o mais "hollywoodiano" dos criadores de games

Hideo Kojima - Reprodução
Hideo Kojima Imagem: Reprodução

André "Avcf" Franco

Do GameHall

24/08/2020 04h00

"Genial", "revolucionário", ou ainda, "superestimado", não há meio termo quanto aos adjetivos empregados para avaliar o game designer Hideo Kojima e suas obras, seja a mais conhecida, a série Metal Gear, ou a mais recente, Death Stranding.

Kojima faz aniversário em 24 de agosto e, nesses mais de 55 anos de vida, ele foi capaz de construir uma carreira impactante no mundo dos videogames. Por isso, vamos desvendar mais do porquê "a Kojima game" se tornou uma grife tão importante para o mundo dos jogos.

Solidão, filmes e sonhos

Oriundo de uma família humilde, Hideo Kojima se via constantemente sozinho em casa ao voltar da escola antes dos pais retornarem de seus respectivos trabalhos.

Com os pais quase sempre fora, a televisão foi uma grande companheira de sua infância, como Kojima declarou em entrevista a revista EDGE: "Eu assistia tudo obsessivamente: programas de variedades, culinários, programas sobre vida selvagem, anime - não importava o assunto."

Com o tempo, Kojima começou a desenvolver o gosto por escrever romances e a dirigir curtas com um amigo que tinha uma câmera 8mm.

Porém, a rígida cultura japonesa, que pressionava a investir em trabalhos considerados tradicionais e na busca por empregos mais estáveis e bem pagos, acabou por tirar Kojima do sonho de ser diretor de cinema, e a ingressar na faculdade de economia.

Durante o curso, o passatempo com videogames nos momentos de lazer fez Kojima reconsiderar suas decisões profissionais e a buscar uma carreira nessa área.

Isso era nos anos 1980 e, diferentemente de hoje, essa escolha era mal vista pelos japoneses mais conservadores, que não consideravam esse ramo profissional como "sério". Apesar da pressão contrária, Hideo Kojima entrou para a divisão de jogos para MSX da Konami.

Máquinas mortíferas espaciais

Após trabalhos como assistente em games que já estavam em andamento, Hideo Kojima teve a oportunidade de assumir o projeto de um certo Metal Gear e dar sua direção ao jogo.

Diferente da maioria dos games da época, Kojima deu um tom mais adulto à história, investiu em diálogos mais trabalhados e deu "peso" ao personagens, sobretudo ao protagonista Solid Snake.

Temas como guerra fria e armas nucleares, assuntos muito presentes em discussões políticas dos anos 1980, estavam presentes na trama do jogo.

Mas o aspecto mais lembrado desse título é seu game design voltado à infiltração e o incentivo a evitar o confronto direto com inimigos, o chamado "stealth action".

O sucesso de Metal Gear, lançado em 1987 para o MSX2, levou a Konami a lançá-lo para o NES, conversão que não contou com a participação de Kojima, e terminou sendo um game excessivamente difícil e frustrante.

Kojima seguiu então para games autorais, em que sua veia de romancista ficou bastante evidente. São os casos de Snatcher e Policenauts, lançados em 1988 e 1994, respectivamente.

Ambos são jogos de aventura gráficos, com enredos de ficção científica futuristas cheios de elementos cyberpunk, mas também com visíveis influências dos longa metragens famosos de suas épocas.

No caso de Snatchers, sua trama e estilo geral derivam bastante de clássicos como Blade Runner e Exterminador do Futuro (sobretudo no design dos inimigos).

Policenauts, por sua vez, é praticamente um "Máquina Mortífera" do futuro, com um protagonista inspirado no personagem Martin Riggs, estrelado por Mel Gibson no cinema, e incluindo, inclusive, sequências sonorizadas por um saxofone de fundo, uma das marcas do clássico de ação dos cinemas.

Ainda que ambos os títulos tenham sido convertidos para várias plataformas da época, apenas Snatcher recebeu um lançamento para mercados ocidentais, mas a tiragem limitada para o Sega-CD, que por sua vez foi um acessório que nunca fez muito sucesso, fez com que tanto Hideo Kojima quanto seus jogos ainda ficassem desconhecidos do grande público ocidental por alguns anos.

Das engrenagens do sucesso às engrenagens corporativas

O reconhecimento do grande público à obra de Hideo Kojima viria em 1998, com o lançamento de Metal Gear Solid, para PlayStation.

Sucesso de crítica e com mais de 6 milhões de cópias vendidas, Metal Gear Solid ainda hoje é considerado um dos melhores jogos do PS1, e novamente apresentou uma trama mais densa que a média da época.

Dessa vez com a adição de cenas animadas e extenso uso de dublagem, sobretudo o trabalho de David Hayter, que entregou uma performance inesquecível no papel de Solid Snake.

O sistema de jogo stealth foi plenamente transportado para o plano tridimensional, que inclusive virou uma grande inspiração para vários outros jogos nos anos seguintes.

Metal Gear Solid  - Divulgação - Divulgação
Metal Gear Solid
Imagem: Divulgação

Metal Gear Solid se transformou em uma das franquias de maior sucesso da Konami, contado com 5 jogos da linha principal e vários títulos derivados lançados para uma porção de plataformas.

Infelizmente, o lançamento de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain em 2015 marcou o fim da parceria entre Hideo Kojima e a Konami.

Deu P.T.

O encerramento de relações de Kojima com a Konami foi um verdadeiro divórcio, culminando em uma série de hostilidades por parte da empresa.

Primeiro, a Konami retirou de circulação o então demo conhecido como "P.T" (abreviação de Player Teaser), uma parceria de Kojima com o diretor Guillermo del Toro e o ator Norman Reedus que previa a criação de um game de terror.

P.T Konami Silent Hills - Reprodução - Reprodução
P.T.
Imagem: Reprodução

Além disso, naquele ano, a Konami passou por uma grande reestruturação, redirecionando seu foco ao mercado mobile e encerrando as grandes produções para os principais consoles (com exceção de Pro Evolution Soccer). Essa situação também afetou a equipe de Kojima, que, segundo notícias vinculadas na imprensa, sofreu um progressivo processo de alienação e abuso, chegando mesmo e ser retirado da produção de Metal Gear V antes que o jogo pudesse ser finalizado.

Para completar o desrespeito, a Konami anunciou Metal Gear Survive, primeiro título da franquia sem a participação de Kojima desde o derivado Snake's Revenge, lançado para NES em 1990.

Sem a direção de Kojima, Metal Gear Survive contou com uma bizarra trama envolvendo universos paralelos e zumbis. O título terminou sendo um desastre comercial.

Vida após a morte

Após a saída da Konami, Kojima manteve sua marca Kojima Productions e estabeleceu-se como uma produtora independente.

Em novembro 2019, Kojima e seu estúdio entregaram a versão PlayStation 4 de Death Stranding, um game de ação com trama pós-apocalíptica. Kojima aproveitou para refazer a parceria com o ator Norman Reedus, adicionando outras estrelas holywoodianas ao elenco do jogo, como os atores Mads Mikkelsen e Léa Seydoux.

O game recebeu várias indicações para prêmios, e assim como outras obras de Kojima, as reações do público e crítica não tiveram meias palavras, indo de "revolucionário" a "walk simulator".

Seja como for, Hideo Kojima permanece ativo e é dono de uma carreira que conta com uma variedade de grandes títulos, indo além de Metal Gear. Jogos como Zone of the Enders, Boktai, Castlevania: Lords of Shadow, em que ele particiou mesmo que indiretamente, como consultor. Fazem parte de um portfólio variado e que guardam muitas horas de diversão nos mais diversos estilos de jogos.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL