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Compositor de The Last of Us 2 escondeu do filho gamer que estava no jogo

Gustavo Santaolalla, o compositor do jogo, aparece em The Last of Us Part II - Reprodução
Gustavo Santaolalla, o compositor do jogo, aparece em The Last of Us Part II Imagem: Reprodução

Giovanna Breve

Colaboração para o START

05/08/2020 04h00

Gustavo Santaolalla não se considera um gamer, mas seu trabalho como compositor da trilha sonora de The Last of Us tocou muito jogadores, inclusive o próprio filho —este, sim, um gamer. Imagina, então, saber que seu pai ganhou uma versão digital em um dos games mais esperados dos últimos tempos?

Só que Santaolalla precisou guardar o segredo de sua participação em The Last of Us Part II por um ano. Essa foi uma das curiosidades que descobrimos em uma conversa com o músico argentino, que também tem uma ligação com novelas brasileiras.

"A coisa mais difícil foi manter em segredo do meu filho por um ano" conta Santaolalla, em entrevista ao START. O compositor aparece logo no início de The Last of Us Part II, ainda em Jackson. Ele é o senhor barbado, sentado tocando um banjo.

Quem é Gustavo Santaolalla?

Nascido na Argentina, Santaolalla e a família foram forçados a fugir para os EUA em 1978, por causa do período de ditadura militar que assolava o país. O exílio, porém, não impediu que Gustavo levasse suas raízes nas músicas.

Compositor The Last of Us 2 Gustavo Santaolalla - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Santaolalla usa muitos instrumentos considerados mais "rústicos" para compor
Imagem: Reprodução/YouTube

Hoje o músico é veterano na composição de trilhas sonoras para cinema, tendo recebido diversos títulos e indicações a prêmios, além de ser vencedor de dois Oscars por Melhor Trilha Sonora: em O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e Babel (2006).

Esse currículo chamou a atenção do estúdio californiano Naughty Dog na hora de escolher um compositor para a experiência cinematográfica de The Last of Us, que foi o primeiro trabalho de Santaolalla com games.

Esse jogo permitiu me conectar com um público totalmente novo
Gustavo Santaolalla, compositor de The Last of Us Parte II

No documentário Grounded, que conta os bastidores do primeiro jogo, Santaolalla relata que usou canos de PVC (utilizados em construção), instrumentos com cordas desafinadas e até gravou em banheiro para ter a melhor acústica.

Apesar de The Last of Us se passar nos Estados Unidos, Gustavo utilizou o ronroco, um charango (instrumento de corda) de origem andina além de outras melodias e ritmos de origem da América do Sul, o que combinou com a obra. Para compor a segunda parte, foram adicionados os acordes do Oud (instrumento árabe semelhante ao alaúde) e do banjo, aproximando o som da cultura americana.

Ligação com o Brasil

Além de compor trilhas sonoras, o "hermano" Santaolalla é um dos fundadores da Bajofondo, banda de tango eletrônico que ficou conhecida no Brasil com músicas presentes novelas.

É deles o tema de abertura de A Favorita, por exemplo, além da canção "Infiltrado", tema da vilã Carminha da icônica Avenida Brasil.

Sua relação com o Brasil vai além da teledramaturgia. Em entrevista ao START Gustavo diz que já fez apresentações no país e é amigo de artistas brasileiros, como a cantora Marisa Monte e o diretor Walter Salles, com quem já trabalhou nos filmes Diários de Motocicleta (2004), Linha de Passe (2008) e Na Estrada (2012).

Confira a entrevista completa:

START: The Last of Us Parte II tem uma história muito densa e com muitos momentos de violência. O que te inspirou na hora de compor a trilha sonora? Como foi o processo de criação?

Compositor Gustavo Santaolalla vertical - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook
Santaolalla: Meu trabalho é muito semelhante em filmes porque a maneira como trabalho em filmes não é a maneira mais convencional. Geralmente a composição é a última parte do processo, quando o filme já foi filmado e já passou, provavelmente, por um ou dois cortes, nos quais o diretor e o editor usam música temporária de outros filmes e outras coisas e, em seguida, o compositor busca isso e tenta, no meu caso, compor para filmes.

Eu faço a maior parte da música mesmo antes de qualquer coisa ser filmada, apenas inspirado no roteiro, nos personagens e na visão que o diretor me transmite, seja falando ou explicando para mim.

Então, no caso de um videogame, é a única maneira de trabalhar, porque essas coisas levarão anos para serem renderizadas. Na verdade, a música se torna parte de um processo, como Neil [Druckmann, diretor de The Last of Us Part II] mencionou há algum tempo, em que algumas músicas o inspiraram a escrever outras músicas e partes do jogo que ele não tinha antes em mente. Portanto, é muito colaborativo e muito criativo.

START: No começo de The Last of Us parte II encontramos um homem sentado com um banjo, e quem te conhece sabe que é você. Como foi saber que você estaria no jogo?

Santaolalla: Eu não sou gamer, mas meu filho é. A coisa mais difícil foi manter em segredo do meu filho por um ano. Eu acho que esse jogo permitiu me conectar com um público totalmente novo, porque minha carreira é muito diversa.

Eu sou um artista, sou membro da banda Bajofondo, produzo inúmeros "sotaques alternativos" que foram muito bem-sucedidos em muitos Grammys e músicas para filmes. Isso me deu uma audiência bastante ampla, com diferentes tipos de origens, pessoas diferentes, mas o jogo expandiu.

Ele me conectou com as crianças de 12, 14 anos que amam música e que realmente se conectam de uma maneira muito apaixonada com a música. O que acontece também nas outras áreas, mas com videogames... não sei se é porque há tanto investimento emocional.

START: Uma das inovações nesse segundo jogo é que Ellie pode tocar violão. Você participou disso de alguma forma? Chegou a ver os vídeos do pessoal tocando e compondo outras músicas nas redes sociais?

Santaolalla: Na verdade, não. Eu sabia o que estava acontecendo e eu meio que os ajudei a dar alguns conselhos, mas foi realmente a viagem de Neil que eu adorei, acho fantástico.

Na verdade, tem alguém com quem estou trabalhando em outro projeto, e ela me enviou um vídeo da Ellie tocando "O Segredo de Brokeback Mountain" no violão (risos). Eu adorei.

START: Você foi selecionado para participar da produção da série da HBO. Acredito que você não pode revelar detalhes, mas gostaria de saber o que os fãs podem esperar dessa nova produção.

Santaolalla: A única coisa que posso dizer é que fui contactado por Neil [Druckmann, diretor do jogo e um dos responsáveis também pela série] para trabalhar nisso e estou muito feliz por continuarmos trabalhando juntos e expandindo isso.

O mundo de The Last of Us traz novos elementos e isso expandirá. É um mundo tão rico. Eles [produtores] entendem esse universo e se traduz também na música. Estou realmente empolgado por continuar expandindo isso.

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