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Passado preservado: streamer usa Minecraft para recriar museu destruído

Minecraft Museu da Língua Portuguesa 2 - Reprodução
Minecraft Museu da Língua Portuguesa 2 Imagem: Reprodução

Rodrigo Lara

Colaboração para o START

03/07/2020 04h00

Criado para ser um espaço interativo de celebração sobre o nosso idioma, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, teve vida curta: meses antes de completar dez anos de existência, um incêndio, no final de 2015, destruiu boa parte das suas instalações.

Desde então, ficou fechado: a previsão era que ele fosse reinaugurado no último 25 de junho, mas a pandemia do novo coronavírus adiou a reabertura. Graças a uma streamer, caso o museu não esteja aberto até o final do ano, os interessados em conhecer o espaço poderão fazer isso usando o Minecraft.

Por trás da iniciativa está Gracielle Martim, a MsPeekoni, que dedicou boa parte das suas transmissões no último um ano e meio para recriar a construção usando as ferramentas disponíveis no game.

O projeto faz parte do History Blocks, uma iniciativa da Unesco, o braço da Organizações das Nações Unidas dedicado à Educação, Ciência e Cultura. A ideia é aumentar o interesse sobre patrimônios históricos ao mesmo tempo em que imortaliza essas construções em mundos do game.

"Eu sempre tive interesse em arquitetura. Eu ganhei o Minecraft de um amigo e, meses depois, surgiu o History Blocks e eu fiquei sabendo do projeto por meio de administradores do Twitch. Achei a ideia legal e pensei que ela me daria um objetivo no jogo além de simplesmente sobreviver. E ter esse objetivo maior era justamente o que faltava para me apaixonar pelo game", diz a streamer.

Uma vez definida a participação, restava a Pee - como é conhecida pelos seus seguidores - decidir qual patrimônio ela reconstruiria usando os famosos bloquinhos do game.

Ela conta que teve várias ideias, sempre seguindo a lógica de representar lugares que não pudessem mais ser visitados em sua forma original, mas que fossem interessantes de serem "guardados" no game.

Museu 1 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

"Como eu moro em São Paulo, tentei pegar algo daqui, algo que me faça falta. E parei para pensar que a maioria das vezes eu ia em museus e esse tipo de lugar era durante excursão de escola e que provavelmente o último passeio do tipo que fiz tinha sido justamente nessas circunstâncias", relembra.

"É algo que eu gostaria de voltar a fazer, de valorizar mais. É a nossa história, o que formou a gente", complementa.

Foi justamente nesse momento que o Museu da Língua Portuguesa entrou na conversa. Afinal, ele reunia as características que a streamer queria para o projeto: era um lugar de importância histórica, afinal trata do nosso idioma, e estava fechado por conta do incêndio de 2015.

Bloco a bloco

Museu 2 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Definidos os primeiros detalhes, Pee começou a parte realmente complicada pro projeto: colocar em pé a versão de bloquinhos do museu.

O primeiro passo foi fazer um esboço usando uma planilha, algo útil quando se pretende criar algo em um mundo moldado por blocos.

"Eu consultei muitas fotos da fachada, alguns projetos em 3D. Eu queria fazer um museu mais fiel, com arcos arredondados etc. Mas da forma como ele ficou, no fim, ele já é enorme", conta.

Museu da Língua Portuguesa - Divulgação/AgênciaBrasil - Divulgação/AgênciaBrasil
Imagem: Divulgação/AgênciaBrasil

Além disso, a versão de Pee do Museu da Língua Portuguesa tem algumas mudanças em relação ao original, como a ausência da cúpula de vidro e da própria Estação da Luz - o museu e a estação ferroviária, a mais tradicional de São Paulo, formam uma espécie de complexo.

Museu 3 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A streamer também "bateu o martelo" sobre como a construção seria feita: apenas durante suas transmissões ao vivo, no modo survival e com o multiplayer ativo.

"Eu achei interessante porque esse projeto era algo que tinha a ver com o meu canal. Afinal, eu estou jogando, há a dificuldade para arranjar os materiais e erguer o museu e também há a ajuda de amigos", diz.

Além disso, ter a presença de colaboradores também ajuda naquilo que Pee considera a maior dificuldade em um projeto do tipo: conseguir materiais.

A escolha pelo multiplayer, no fim, acabou ficando restrita a três colaboradores. Apesar de dizer que uma das graças de usar o modo é, justamente dividir a experiência, deixar o jogo totalmente aberto pode criar problemas, já que erros ou pessoas mal intencionadas podem destruir o trabalho de anos.

Luz que faz a diferença

Museu 4 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Um dos pontos de mudança do projeto para Pee aconteceu recentemente, quando ela migrou o seu game da versão Java para a versão Windows 10. A troca teve uma razão "nobre": passar a utilizar a tecnologia RTX que a Nvidia levou ao game na segunda metade de abril.

Museu 5 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Feita a migração e aplicado o pacote de texturas, ela conta que levou um choque. "É como se o que eu tava vendo me falasse: 'Olha o que você está conseguindo fazer'. Eu não consigo explicar, foi algo muito significativo, deu uma enorme sensação de 'valeu a pena'", conta.

Isso ocorre devido ao uso de um pacote de texturas para o game criado especificamente para o uso do Ray Tracing, que torna a iluminação mais realista. Essa tecnologia, inclusive, é tida com um dos grandes chamarizes visuais de games da próxima geração.

Pee, inclusive, gravou um vídeo mostrando a diferença do museu com e sem o uso do RTX. "Com ele, o projeto ficou mais grandioso. A iluminação é diferente e torna turo mais realista. Dá a impressão que eu criei algo em uma ferramente muito mais profissional", diz.

"Eu pensei em criar algo simples e, no fim, virou algo com poder, algo grandioso".

E para o futuro?

mspeekoni - ArquivoPessoal/Instagram - ArquivoPessoal/Instagram
Imagem: ArquivoPessoal/Instagram

Os próximos passos de Pee no seu projeto de Museu da Língua Portuguesa é fazer o interior da estrutura. Uma vez terminada, o museu poderá ser visitado.

Prova de que ela tomou gosto por esse tipo de desafio é que a streamer já pensa em seu novo projeto. "Já pensei em fazer uma versão da Avenida Paulista, mas provavelmente farei o Coliseu. Vou consultar meus seguidores sobre isso", diz.

Independentemente da escolha, ela diz que a experiência que teve até aqui foi ótima e que criar algo assim no Minecraft, além ser uma experiência colaborativa e bem positiva, também é algo bastante relaxante. E que ajuda a mostrar que o "game dos bloquinhos" vai bem além do que muita gente pensa.

"Esse projeto mostra que o Minecraft tem muito potencial. Fica muito longe daquela imagem de jogo infantil que muita gente tem", conclui.

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