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OPINIÃO

Relembrando Dragon Quest, o RPG japonês mais tradicional de todos

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Imagem: Reprodução

André "Avcf" Franco

Do GameHall

27/05/2020 04h00

Quando pensamos em RPG japoneses, certamente títulos como Final Fantasy, Chrono Trigger ou Breath of Fire vem à mente. Os fãs mais entusiastas ainda citariam franquias como Ys ou Tales of, mas o fato é que Dragon Quest não apenas precede todos os títulos mencionados acima, como permanece como a franquia mais tradicional e longínqua já lançada em terras nipônicas.

Nenhuma outra série se mantém há tanto tempo como o estandarte do gênero, entregando sempre jogos jogos de alto nível, recheados de vastas aventuras e sagas épicas.

Andar por terras distantes

Dragon Quest - Reprodução - Reprodução
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O crescimento do mercado de microcomputadores pessoais entre o final dos anos 1970 e início dos 1980 fez surgir no Japão toda uma cena de editoras de revistas de programação. Essas publicações eram dedicadas a ensinar conceitos e compartilhar truques de programação de vários tipos de programas, e sobretudo jogos. Foi nesse contexto que surgiu a Enix, inicialmente uma dessas editoras, que posteriormente se transformou em uma empresa dedicada à publicação de games para computadores.

Foi esse contexto que atraiu o jovem Yuiji Horii a entrar e ganhar um concurso da Enix para publicação de games, com o título Love Match Tennis. Fã de mangás, animes e também de RPGs ocidentais, Horii se disse "viciado" em Wizardry, uma das primeiras representações de RPGs à Dungeons & Dragons feito para computadores, lançado originalmente em 1981.

Entretanto, os RPGs dessa época, como o também clássico e seminal Ultima, eram jogos complicados e exigentes, exatamente como eram os computadores daquela época. Aproveitando que a Enix estava de olho na expansão do mercado de consoles domésticos graças ao sucesso do Famicom, Yuiji Horii desejava fazer uma aventura que fosse mais acessível. O game designer explicou seu processo de criação no livro L'Histoire du RPG:

"Na época, os jogos RPG eram para os puristas, os apaixonados, os iniciados, mas eu queria fazer alguma coisa acessível a todos e que seja adaptado às capacidades limitadas do Famicom. Eu nunca li os manuais de jogo. Eu projetei o jogo nesse espírito, era preciso que nós pudéssemos compreender sozinhos o que fazer. É por isso que a aventura começa em um pequeno cômodo exíguo: na hora que o jogador saía, era a hora de aprender todos os comandos básicos. Era a minha abordagem."

A poucos meses do lançamento do jogo, o editor da Shonen Jump fez um acordo com a Enix: convocaria o mangaka Akira Toriyama, autor de mega-sucessos como Dr. Slump e Dragon Ball, a ilustrar o novo game em troca de conteúdo exclusivo para a revista. Nascia o fenômeno Dragon Quest.

Um pouco de mago, muito de herói

Dragon Quest foi um fenômeno multifacetado. Lançado exclusivamente para o Famicom, de cara, vendeu 1,5 milhão de cópias, um número impressionante para a época, batendo inclusive as vendas do peso-pesado The Legend of Zelda, da própria Nintendo. Além disso, DQ fez a tiragem da revista Shonen Jump saltar de 4,5 milhões para 6 milhões de cópias por semana, além de gerar milhões de dólares em produtos licenciados. O peso e a influência de Dragon Quest no Japão tomaram tal magnitude que Shigeru Miyamoto confessou em uma entrevista de 1989, traduzida pelo site Glitterberry:

"As fábricas não podiam nos produzir. Elas deviam antes produzir toneladas de Dragon Quest. Eu preferiria esperar para lançar meu jogo depois. Quando a febre Dragon Quest começa, é como se o ano tivesse acabado (para a concorrência)."

Três anos depois, em 1989, Dragon Quest foi lançado na América do Norte, rebatizado de Dragon Warrior, por conta de o nome "Dragon Quest" já pertencer a uma companhia de RPGs de mesa. Com pequenas melhorias gráficas, salvamento via bateria (um luxo em uma época cujo padrão eram os longos e truncados passwords) e inglês estilo arcaico ("If thou hast collected all the treasure chests?"), Dragon Warrior desembarcou na América após massiva campanha de marketing por parte da Nintendo, que chegou a dar cópias a quem adquirisse uma assinatura da revista Nintendo Power. Por sinal, a revista publicou extensas matérias com mapas e manuais para orientar seus leitores.

Convertido e republicado para uma série de plataformas ao longo dos anos, o Dragon Quest original hoje serve mais como registro histórico, pois sua aventura simplista e sistema de jogo arcaico envelheceram mal em face a títulos muito mais elaborados que temos acesso atualmente. Entretanto, a marca permanece poderosa, inclusive o último título, Dragon Quest XI, lançado para Nintendo 3DS, Nintendo Switch e PlayStation 4 foi lançado com grande sucesso. Dragon Quest também gerou vários jogos derivados, como Dragon Quest Monsters, Dragon Quest Heroes: Rocket Slime e Dragon Quest Builders.

Fly, Fly, Fly, é a paz que o inimigo destróóói?

Por fim, vale relembrar o anime Dragon Quest: The Adventure of Dai, que ficou conhecido no Brasil como "Fly, o Pequeno Guerreiro". Sucesso das manhãs de sábado dos anos 1990 no SBT, o desenho animado era uma adaptação do manga homônimo, contando com 46 episódios no total. A troca do nome do menino-guerreiro e protagonista Dai para Fly ocorreu por conta do manga ter sido rebatizado como Fly quando lançado na França, e então foi mantido quando foi posteriormente transmitido na emissora do seu Silvio. Boa sorte em desgrudar o refrão da cabeça.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL