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De Xenogears a Xenoblade: Entenda a série de RPGs sobre robôs e filosofia

Xenoblade é a mais recente encarnação da meta série Xeno - Divulgação
Xenoblade é a mais recente encarnação da meta série Xeno Imagem: Divulgação

Tiago Alcantara

Colaboração para o START

21/05/2020 04h00

Xenoblade Chronicles: Definitive Edition chega em 29 de maio para o Nintendo Switch. Esse é um remake do jogo original, lançado para Nintendo Wii, agora com visual e sistemas melhorados e novos conteúdos de história.

O lançamento da nova versão também é uma ótima oportunidade de entender a ligação entre Xenogears, Xenosaga e Xenoblade. As três séries foram desenvolvidas, praticamente, pelo mesmo time. Mas, calma, que a história é longa e cheia de reviravoltas.

Afinal, o que é a série Xeno?

Famosos por combinarem ficção científica com uma abordagem mais sombria, os jogos da meta série Xeno foram lançados em diferentes consoles, com diferentes nomes ao longo dos anos por questões de negócios. Os RPGs com o tal prefixo viraram sinônimo de boas histórias, enredos emocionantes e muitas horas de diversão.

Tetsuya Takahashi criador de Xenoblade - Reprodução - Reprodução
Tetsuya Takahashi
Imagem: Reprodução
Além dos aspectos temáticos similares, há também algumas características técnicas que unem as obras: algumas das trilhas sonoras mais épicas do gênero de RPG, o visual fortemente inspirado em animes e um desejo de se separar do "comum" das franquias do gênero. Tantas semelhanças só poderiam ser fruto de um universo criado pelo mesmo arquiteto. No caso, o desenvolvedor de games Tetsuya Takahashi.

Curiosamente, a saga Xeno começa pelo "final". No caso, pela ligação próxima de Takahashi e sua esposa, Kaori Tanaka, com a franquia mais famosa da então Squaresoft: Final Fantasy.

Xenogears: o Final Fantasy VII que não foi

Xenogears PlayStation - Reprodução - Reprodução
Xenogears é considerado um dos melhores RPGs do PlayStation
Imagem: Reprodução

Se a ideia do casal Takahashi/Tanaka tivesse sido bem sucedida, provavelmente o Final Fantasy VII Remake lançado neste ano teria um tom bem diferente. O projeto que o casal tinha nasceu como uma sugestão para ser o próximo Final Fantasy na época.

Ao que parece, o argumento oferecido pelo casal para um novo game era muito sombrio e complexo para um título da franquia criada por Hironobu Sakaguchi - mas isso não queria dizer que o conceito não era interessante. Assim, os diretores da Square aprovaram o projeto, mas deram a ele um nome diferente: Xenogears, que foi lançado em 1998 no Japão, para o primeiro PlayStation.

O jogo tem inspiração clara em animações de sucesso da época, como Evangelion e Gundam, mas consegue ir além das referências. Combinando mechas e acontecimentos apocalípticos, Xenogears foi contra uma série de tendências no mundo dos RPGs.

Talvez a mais chocante é que o game era visto por seu criador como apenas um capítulo em uma saga de seis episódios que se estenderia por milênios em um mesmo universo compartilhado. Apesar do sucesso de crítica, o jogo não vendeu tanto quanto esperado e nunca houve uma continuação aprovada pela Square.

Sentindo que sua franquia não teve a atenção necessária, que era dispensada para a Final Fantasy, Takahashi decide sair da Square e lançar seu próprio estúdio, o que nos leva ao próximo capítulo da saga Xeno. Ou, seria melhor dizer, da Xenosaga?

Xenosaga e Namco

Xenosaga PS2 - Reprodução - Reprodução
Na era PS2, Xenosaga teve três jogos principais
Imagem: Reprodução

Takahashi fundou a desenvolvedora Monolith Soft para dar continuidade ao seu objetivo de criar uma série de RPGs de ficção científica. O estúdio se tornaria uma subsidiária da Namco. E foi nessa casa que surgiu a franquia Xenosaga.

Aqui vale lembrar que os direitos do nome Xenogears ainda são da Square Enix, apesar da desenvolvedora ser bastante reticente em relação ao que fazer com a franquia e tratá-la como uma espécie de "universo expandido" de Final Fantasy. Sim, algo bem na linha da proposta inicial de Takahashi.

Xenosaga Kos-Mos - Reprodução - Reprodução
Kos-Mos é a androide que virou símbolo da série
Imagem: Reprodução

Voltando para Xenosaga: uma das pessoas que foi contratada pelo desenvolvedor foi justamente sua esposa, a game designer que também é conhecida por seu pseudônimo: Soraya Saga. A dupla trabalhou no lançamento de três games com a nova franquia para o PlayStation 2, além de spin-offs que adicionavam elementos à narrativa principal.

A recepção das inúmeras cutscenes do primeiro game não foi muito positiva, já que o jogo tinha cenas de mais de uma hora e foi criticado por não privilegiar tanto a jogatina em si.

Mais uma vez, a ideia era ter seis jogos contando uma única história, mas Xenosaga virou uma trilogia pelos motivos citados acima. Por outro lado, a marca conseguiu se expandir para games de celular, mangás e tem até um anime. Atualmente, os jogos são de propriedade da Bandai Namco.

Apesar da temática e mecânicas semelhantes, Xenosaga não é uma continuação ou prequel de Xenogears, sendo chamado de "sucessor espiritual". Guarde essa expressão, ela ainda vai ser usada algumas vezes. Sim, porque a Monolith Soft tinha ainda mais um reboot no caminho.

Xenoblade e os dias atuais

Xenoblade Chronicles - Divulgação/Nintendo - Divulgação/Nintendo
Imagem: Divulgação/Nintendo

Com a união das empresas Namco e Bandai, em 2006, o criador da Monolith sentia que estava perdendo a liberdade criativa e o sucesso apenas mediano de Xenosaga não ajudava. Após ouvir conselhos do diretor executivo da Nintendo, Shinji Hatano, a Monolith se torna uma subsidiária da Nintendo, que possui cerca de 80% das ações do estúdio.

Uma aquisição desse tipo não é algo comum para a empresa do Mario, mas foi justificada pelo presidente da companhia à época, Satoru Iwata, por conta das filosofias semelhantes das duas empresas no que diz respeito à design e desenvolvimento de jogos.

Monolith Studios - Divulgação/Monolith - Divulgação/Monolith
Estúdio já tem mais de 20 anos de história
Imagem: Divulgação/Monolith

Novo lar, nova sinergia: mesmo sendo agora um estúdio da Nintendo, a Monolith seguiu como parceira da Bandai Namco na criação de alguns jogos, além de ter colaborado no desenvolvimento de Super Smash Bros. Brawl.

Como uma forma de levantar o moral do time, Takahashi começou a pensar em sua nova empreitada: uma disputa entre dois titãs que daria origem à dois continentes habitados com criaturas bem diferentes. Em meio ao conflito entre essas duas raças estaria a Monado: uma espada lendária.

A ideia era propor algo na linha de seus RPGs anteriores: uma ênfase em narrativa, conflito reais e carga dramática acentuada. Algo como um sucessor espiritual das franquias anteriores, mas com diferenças essenciais: um mundo vasto e novas mecânicas de combate.

Calejado com o desenvolvimento com outras parceiras, Takahashi chegou até a sugerir algumas mudanças para reduzir o projeto que era "ambicioso demais". A Nintendo não só rejeitou a ideia como sugeriu um novo nome para o game - que até ali se chamava "Monado: the beginning of the world" —honrando o legado do desenvolvedor.

Surgia "Xenoblade Chronicles", lançado para o Wii em 2010, no Japão. O RPG só chegou ao ocidente em 2012, depois de muitos pedidos dos fãs e até uma campanha online para que Nintendo of America trouxesse o jogo.

Xenoblade Shulk personagem - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
A soma do lançamento tardio - no fim do ciclo de vida do Wii - com as notas elevadas de críticos deu ao primeiro Xenoblade uma "aura cult", apesar de não ter sido um estouro de vendas. A popularidade entre os gamers fez com que Shulk, protagonista da aventura, se tornasse um lutador em games da série "Super Smash Bros."

Alguns anos depois, a Monolith lançaria "Xenoblade Chronicles X": uma espécie de spin-off ou "sucessor espiritual", que traz um mundo belíssimo, mas dá ênfase nas mecânicas de batalha e tem uma história pouco digna de nota. Apesar do sucesso comercial e boas vendas fora do Japão, o game acabou sendo prejudicado pelas vendas aquém do esperado do Wii U.

Um dia o sucesso chega

Quem curte ler os créditos e fichas técnicas de games vai perceber que o estúdio também atuou com destaque no desenvolvimento de "The Legend of Zelda: Breath of the Wild" e "Splatoon 2", dentre outros. Com liberdade criativa e um console que fez sucesso instantaneamente, a Monolith parecia pronta para aproveitar sua chance.

O primeiro game da série a emplacar sucesso de crítica e venda foi Xenoblade Chronicles 2, lançado para o Nintendo Switch, em 2017. O RPG tem carga narrativa bastante forte, é inspirada no visual de animes de ficção científica e oferece uma mecânica de combate viciante.

Com quase 2 milhões de cópias vendidas até junho de 2019, o título se tornou o maior sucesso comercial da empresa fundada por Takahashi. O RPG ainda ganhou um DLC intitulado "Torna The Golden Country" que dá uma história de origem para um dos principais vilões do jogo.

A obra até inspira algumas teorias de possíveis ligações com todos os games anteriores entre os fãs. Finalmente, o "arquiteto" da série Xeno conseguia dar corpo para sua ideia de interligar games em um mesmo universo, com narrativas bem sucedidas. Com tanta persistência dá para entender porque a série de mais de 20 anos conseguiu manter sua fama, mesmo distribuída por diferentes plataformas e gerações.

Com a base instalada do Switch em crescimento e atenção total do marketing da empresa, Xenoblade Chronicles: Definitive Edition tem sua chance definitiva (com o perdão da repetição) de atingir a merecida aclamação no ocidente. E que Tetsuya Takahashi pode figurar entre os grandes nomes do gênero. Não poderia haver uma janela de oportunidade melhor.

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