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Estudantes de Jogos Digitais criam game sobre feminicídio

Game conscientiza e informa sobre violência doméstica - Divulgação
Game conscientiza e informa sobre violência doméstica Imagem: Divulgação

Giovanna Breve

Colaboração para o START

27/03/2020 04h00

Pensando em diminuir os casos de violência doméstica e conscientizar as pessoas, principalmente as vítimas, uma dupla de estudantes decidiu criar um game abordando o feminicídio e a violência contra a mulher.

O jogo está sendo desenvolvido pelos estudantes Tayla Tineu e Mario Henrique Silva, que fazem Jogos Digitais na FATEC (Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo) de Carapicuíba. O game faz parte do projeto interdisciplinar Smaug (Sistema Maximizado de Avaliação Unificada em Games), uma espécie de TCC do curso.

Alunos Fatec - Reprodução - Reprodução
Mario Henrique Silva e Tayla Tineu cursam Jogos Digitais na FATEC de Carapicuíba
Imagem: Reprodução

Tayla conta em entrevista para o START que a ideia surgiu durante as aulas e que se baseiam em histórias de mulheres que convivem com o abuso. "O jogo surgiu como uma forma de protesto mediante as situações que presenciamos no nosso cotidiano, com amigas, conhecidas, parentes, violências tanto físicas como psicológicas. Nossa principal mensagem é um apelo para que as pessoas intervenham, chamem a polícia ao mínimo sinal de que algo está errado."

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De um livro para o mundo real...
Imagem: Divulgação

Chamado de Illis, que no latim significa "por elas", o jogo trata a história de personagens de um livro sobre a caça às bruxas, que vieram parar de uma forma mágica no mundo real, e presenciam a violência sofrida pelas mulheres. "Eles [personagens] tentam impedir essa violência e a narrativa mostra como aprendem mais sobre as vítimas e os abusos sofridos por elas", explica Tayla Tineu.

Para Érika Caramello, professora e orientadora do projeto, esse tipo de temática é muito importante abordar em games por ser um assunto pouco explorado nessa mídia. "A gente [professores do curso] tem uma preocupação em oferecer games que tenham temáticas que não foram contempladas na indústria de games. Então essas temáticas sociais, olhar o cotidiano deles é muito importante e enriquecedor", explica em entrevista ao START.

Nossa principal mensagem é um apelo para que as pessoas intervenham, chamem a polícia ao mínimo sinal de que algo está errado
Tayla Tineu, estudante e uma das criadoras do projeto

Mesmo com os órgãos de defensoria e instituições tentando combater a violência doméstica, o número aumentou nos últimos anos. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, cerca de 1.206 mulheres foram vítimas de feminicídios, um crescimento de 11,3% comparado em 2018. Enquanto 263.067 casos de lesão corporal dolosa foram notificados, um aumento de 0,8% no período de 2018.

POR ELAS, PARA ELAS

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A ideia inicial do game surgiu durante uma aula
Imagem: Divulgação

Para o desenvolvimento, a dupla fez diferentes estudos para compor a história e a jogabilidade. Feito em pixelart em 2D e utilizando realidade aumentada (a mesma usada em Pokémon Go), o game está em fase de testes e inicialmente será lançado para Android.

Tayla e Mario se inspiram desde Paper Mario (Nintendo 64), Crossing Souls, animações como Steven Universo, O Mundo de Gumball e, principalmente, em mulheres da vida real que viram manchetes por situações graves de violência como o caso da Aisha Mohammadzai, a afegã que fugiu de um casamento forçado e teve o rosto mutilado pelo próprio marido.

Érika vê com bons olhos o projeto pois tentam abordar diferentes pessoas, uma vez que a violência pode estar presente em diversos lugares e atinge inúmeras vítimas. "Uma preocupação que eles [a Tayla e o Mario] tiveram foi de oferecer diversos tipos de personagens uma vez que o feminicídio não poupa ninguém. O Illis tenta abranger e esclarecer o que é feminicídio", conta.

A estudante explica que estão pesquisando exaustivamente sobre o tema, entre elas, trabalhando uma formas de abordar esse assunto sem deixar de ser lúdico como usar ogros e outras criaturas mitológicas como vilões em Illis.

A dupla também trabalha para disponibilizar a opção que desabilita a realidade aumentada para maior acessibilidade e o "Botão do Pânico" para encurtar o caminho da vítima para fazer denúncia. "Então quando uma vítima estiver com problemas, vai poder apertar esse botão, que fica no menu inicial do jogo e discará direto pras autoridades".

DO MOBILE PARA A PERIFERIA

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Illis vai ser em realidade aumentada e vai oferecer uma cartela de informações
Imagem: Divulgação

Recentemente, o game foi um dos selecionados para estar em exposição no Perifacon, a Comic Con realizada na periferia. Érika diz que tem contato com as cocuradoras na área de games do evento e indicou o "Illis", o game foi avaliado e aprovado para expor no maior evento nerd da comunidade.

Tayla afirma que se sente grata pela oportunidade e vê que essa conquista como uma chance de espalhar a mensagem. "Esse apoio é fundamental para atingir nosso objetivo que é utilizar o jogo, um produto cultural, como forma de chamar atenção sobre o tema".

A importância de Illis estar presente nesse espaço é mais relevante segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública do ano passado, em que 61% das vítimas de feminicídios eram negras e 70,7% tinham no máximo o ensino fundamental.

Os jogos conseguem chegar nas pessoas através do entretenimento e passar uma mensagem e é uma mensagem que pode salvar vidas
Érika Caramello, professora e orientadora do projeto

A professora espera que Illis chegue nas mãos não apenas de jogadores que vivem ou presenciam a violência doméstica, mas também para ONGs e serviços públicos para que também se torne um material de divulgação. "Os jogos conseguem chegar nas pessoas através do entretenimento e passar uma mensagem e é uma mensagem que pode salvar vidas."

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