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OPINIÃO

"Resident Evil: The Darkside Chronicles" completa 10 anos e deixa saudades

Makson Lima

Colaboração para o START

23/11/2019 04h00

Quando uma franquia de games atinge o sucesso e se expande para muito além de seu conceito inicial, coisas estranhas podem acontecer. Foi assim com "Resident Evil", que nasceu como horror de sobrevivência, mas se aventurou depois por caminhos pantanosos.

Um desses caminhos levou a "Resident Evil: The Darkside Chronicles", que completou 10 anos de lançamento neste mês de novembro. Foi um capítulo obscuro da franquia de aberrações genéticas da Capcom. Vamos falar sobre ele e também sobre seu antecessor, "The Umbrella Chronicles", que buscava mostrar momentos icônicos da franquia sob diferentes perspectivas, assim como trazer à tona novos eventos.

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Shooter on rails: um gênero em extinção

Resident Wesker - Divulgação - Divulgação
Albert Wesker no centro das atenções em “The Umbrella Chronicles”
Imagem: Divulgação
Foi-se o tempo dos fliperamas, e quem viveu aquela época sente muita saudade. É inevitável. Entre gabinetes de "Street Fighter", "Mortal Kombat", "Daytona" e todos aqueles pinballs maravilhosos, destacavam-se também os dos "shooters on rails" ou "light gun games".

"Virtua Cop" popularizou a coisa toda para o 3D, com seus polígonos grosseiros e revolucionários, mas "Mad Dog McGree" já amontava filas de curiosos pelo FMV e pelo revólver de velho oeste, o joystick da vez, muito tempo antes disso. Assim como fez "The House of the Dead", outro grande fenômeno dos fliperamas. A Sega sempre foi e sempre será a rainha da coisa toda.

Por mais que existam formas de jogar tais petardos noventistas nos consoles caseiros, o gênero definhou nos anos 2000. Não era legal controlar a mira com um d-pad ou analógico. Foi o Wii e a popularização de controles de movimento, como o Move e Kinect, que exumou o cadáver. A Sega manteve "The House of the Dead" vivo com "Overkill", além de remasterizações da terceira e quarta continuações; a Visceral Games surpreendeu com seu ótimo "Dead Space: Extraction"; e claro, a Capcom não poderia ficar de fora, e é aí que entram os "Chronicles".

Masachika Kawata - Divulgação/Capcom - Divulgação/Capcom
Masachika Kawata participou de "Umbrella Corps", "Operation Raccoon City" e também de "Umbrella" e "The Darkside Chronicles"
Imagem: Divulgação/Capcom

Masachika Kawata é um nome que desperta os mais diferentes tipos de emoções nos fãs mais cabeçudos de "Resident Evil". Envolvido com a franquia desde tempos do primeiro PlayStation, ele foi incumbido da tarefa um tanto quanto ingrata de ousar. Foi ele quem encabeçou a aberração "Umbrella Corps", o complicado "Operation Raccoon City" e agora está envolvido no duvidoso "Project Resistance".

Mas também foi ele quem produziu tanto "Umbrella" quanto "The Darkside Chronicles", e ambos são nada além de pérolas não só da franquia, como também dos "shooter on rails", contribuindo - e muito! - nesses últimos momentos de vida de um gênero moribundo.

Resident Zumbis - Divulgação - Divulgação
Quando os zumbis ainda eram a maior ameaça
Imagem: Divulgação

Mesmas histórias, outras perspectivas

Os "Chronicles" marcaram uma parceria entre a Capcom e a falida softhouse japonesa Cavia (que, na época, era casa do lendário game designer Yoko Taro, de "NieR" e "Drakengard"). Apesar de embarcarem na cartilha do gênero - estilo arcade de ser, com vidas contadas, ranking de desempenho e foco no cooperativo - esses jogos apresentaram uma profundidade de conteúdo inédita para jogos desse tipo. Chegar até o final de cada um dos capítulos é só o começo: um bom desempenho leva a subcenários, ficha técnica de todas as criaturas e arquivos desenrolando mais da trama.

No caso específico de "The Darkside Chornicles", revisitar os capítulos de Leon e Claire sobrevivendo aos horrores de Raccoon City, assim como os pesadelos de Rockfort Island originalmente vividos em CODE: Veronica, confere visões distintas àquelas já conhecidas. É bem sabido que Leon e Claire traçaram caminhos próprios após se separarem no acidente do caminhão, ao contrário do que vemos aqui.

Resident crocodilo - Divulgação - Divulgação
Cuidado com o crocodilo -- e com a labirintite!
Imagem: Divulgação

"The Umbrella Chronicles" havia construído essa ideia com diferentes focos. Lá, os holofotes estavam todos no vilão mais icônico da franquia, Albert Wesker, com capítulos novos e específicos do personagem. Na continuação, Leon é o destaque (o personagem se tornou imensamente popular após o sucesso de "Resident Evil 4", inclusive protagonizando dos filmes em CGI, "Degeneração", de 2008, e "Condenação", de 2012).

Destaque para a versão ainda mais psicótica e doentia de Alexia Ashford, aqui, assassina de seu próprio irmão, Alfred, e altamente manipuladora, lidando com Claire e Chris como se fossem animais aprisionados num experimento sádico. É também bastante marcante a revelação da forma humana do pai de Alfred e Alexia, Alexander - até então, só conhecíamos sua forma desfigurada no monstruoso Nosferatu.

Crônicas de morto-vivo

"The Darkside Chronicles", por decisão de Kawata, buscou se ater mais a elementos de horror e isso está traduzido na alta dramaticidade existente na forma como o jogo recria a ideia de primeira pessoa. Muito mais que uma mera câmera flutuante, assumir o papel de Leon, Claire, Steve, Chris ou até Krauser (num capítulo inédito, exclusivo desta versão) é algo que vai até as últimas consequências. Os confrontos contra William Birkin, aqui chamado G pela primeira vez (como também visto na versão 2019 de "Resident Evil 2"), chegam a causar enjoo e mal estar em quem joga. É a simulação da perspectiva mais verossímil já vista num jogo do gênero, ainda a ser superada.

É a simulação da perspectiva mais verossímil já vista num jogo do gênero, ainda a ser superada

Os gráficos colaboram muito com essa ideia, e o lado sombrio das crônicas remete às famílias, dos Birkin, dos Ashford e dos Hidalgo: foram impressionantes para a época, ainda mais quando levado em consideração o hardware limitado do Wii. Testemunhar, mais uma vez, os momentos finais do maldito Brian Irons tem um sabor especial em "The Darkside Chronicles". E é bom lembrar que "Resident Evil 5" (que continua o mais vendido da história da franquia) havia sido lançado alguns meses antes.

Resident Leon - Divulgação - Divulgação
Leon e Krauser confrontam os terrores da família Hidalgo
Imagem: Divulgação

Mas o que torna o aniversariante de novembro verdadeiramente digno da atenção dos fãs é mesmo o capítulo inédito "Operation Javier". Já sabíamos da inimizade existente entre Leon e Jack Krauser por conta de "Resident Evil 4", mas como se conheceram?

Operation Javier coloca os dois personagens, juntos, na fictícia região de Amparo, na América do Sul, antes de Sadler e seus asseclas sequestrarem a filha do presidente dos Estados Unidos. Há indícios do uso de armas biológicas na região por um poderoso traficante de drogas, Javier Hidalgo. Leon, já veterano quanto a esse tipo de confronto, tenta alertar Krauser, que segue incrédulo.

Lá, se veem envoltos na tragédia da família Hidalgo, a mutação de Hilda, esposa de Javier, vítima de uma doença terminal, e os efeitos de um dos mais poderosos vírus já criados pela Umbrella, o T-Veronica, na pequena Manuela, sua filha, acometida pela mesma enfermidade incurável.

Assim como com a querida subfranquia "Revelations", não se sabe o futuro dos "Chronicles". Há muito potencial no formato para desenvolver capítulos perdidos da série, como "Revelations" também se predispõe a fazer. Enquanto a forma mais acessível de revisitar tais jogos seja através da coletânea HD na PSN do PlayStation 3 (edição física dessa versão, só mesmo no Japão), e sendo o Move um acessório quase indispensável para se aproveitar os jogos de forma plena, seria muito bem-vindo um relançamento. Talvez aproveitando essa leva de "Resident Evil" chegando ao Switch?

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL