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A explosão de "Free Fire": de fenômeno mobile até a expansão em eSports

Jogo mobile estilo Battle Royale conta com 50 milhões de jogadores e chama a atenção de times profissionais - Arte/UOL
Jogo mobile estilo Battle Royale conta com 50 milhões de jogadores e chama a atenção de times profissionais Imagem: Arte/UOL

Bruno Izidro

Do START, em São Paulo

18/07/2019 04h00

Resumo da notícia

  • "FF" é um Battle Royale gratuito, que fatura alto com a venda de itens e acessórios
  • Game de tiro para iOS e Android foi o app mais baixado no Brasil em 2018
  • Além dos recordes de download, o jogo vem crescendo a audiência nos torneios de eSports
  • Times já estabelecidos no Brasil, como INTZ, Vivo Keyd e Red Canids já investem em suas equipes de "FF"
  • O brasileiro Ariano Ferreira, o "Kronos", foi eleito o melhor jogador do último mundial

Você pode nunca ter jogado "Free Fire", ou simplesmente "FF", mas saiba que esse Battle Royale para celulares vem tomando conta do mercado. De acordo com a produtora Garena, com sede em Singapura, são cerca de 50 milhões de jogadores no mundo. E, segundo pesquisas, ele foi o game mais baixado nas lojas de aplicativos em 2018 no Brasil.

Esse exército de jogadores não está aí por acaso: "Free Fire" combina elementos comuns de jogos populares como "Fortnite" e "PUBG", acrescenta seu próprio tempero e, claro, conta com a penetração dos celulares no Brasil para expandir sua base.

Com esse crescimento, o game de tiro está virando uma aposta interessante para os eSports: já temos um brasileiro eleito o melhor jogador do mundo, e equipes grandes como INTZ, Vivo Keyd e Red Canids, já estão investindo em suas equipes de "FF".

Tiro Livre

Free Fire  - Reprodução - Reprodução
Booyah! O objetivo no modo solo é ser o último sobrevivente na ilha
Imagem: Reprodução

Logo de cara, "Free Fire" parece mais uma versão de "PUBG", com todas as características de um Battle Royale: jogadores saltam em queda-livre em uma ilha, procuram armas e itens pelo cenário, a área de jogo vai se fechando, e vence quem sobreviver por último. Esteticamente, porém, ele é mais vivo, colorido e com skins diversas, o que o aproxima mais de "Fortnite".

Entre as particularidades, "Free Fire" tem drones que revelam a localização dos jogadores no mapa e personagens desbloqueáveis com habilidades diferentes, mas nada que faça tanta diferença no mercado. Então, como ele se tornou um fenômeno?

Um relatório da empresa de análise Sensor Tower revelou que "Free Fire" foi o aplicativo mais baixado e rentável no país em 2018, à frente de apps como Netflix e Tinder. Já a pesquisa de junho de 2019 da Panorama Mobile mostrou que "Free Fire" é o game mais popular por aqui em plataforma móvel, superando "Candy Crush Saga". O jogo segue o modelo de negócios "free to play", como "League of Legends": é grátis para jogar, mas conta com venda de personagens e acessórios.

A publicadora Garena não divulga números do jogo por aqui, mas alguns elementos dão pistas de onde vem toda a popularidade de "Free Fire" no país.

O jogo foi desenvolvido desde o início para plataformas mobile e com a filosofia "sem tempo, irmão" de quem procura partidas rápidas. Por exemplo, os dois mapas do jogo, Bermuda e Purgatório, são consideravelmente menores do que os de "PUBG" e "Fortnite".

Isso, aliado ao número menor de jogadores no mapa, 50 em vez dos habituais 100, faz com que uma partida de "Free Fire" não dure mais que 15 minutos. Afinal, o objetivo principal é sobreviver, mas sem acabar com a bateria do celular.

Free Fire - Divulgação - Divulgação
"Free Fire" foi pensado para o mobile: com mapas menores e 50 jogadores por rodada, as partidas são mais rápidas
Imagem: Divulgação

Para além do game design e das mecânicas de jogo, porém, surge outro grande apelo de "Free Fire": ele não exige um equipamento robusto para rodar numa boa.

Enquanto as versões mobile de "PUBG" e "Fortnite" exigem um smartphone com, no mínimo, 2GB ou 3GB de memória RAM, e armazenamento de mais de 1GB, "Free Fire" roda liso em celulares com 1GB de RAM, e "pesa" pouco mais de 600 MB. Claro que isso significa um game visualmente mais limitado, mas que também pode ser jogado por qualquer um que possua um smartphone simples. Nessa matemática, o jogo da Garena tem um potencinal de público bem maior.

Nesse embalo, o Brasil contribuiu com 30% dos US$ 90 milhões que o jogo rendeu para a Garena só nos primeiros quatro meses de 2019, de acordo com dados divulgados pela plataforma Sensor Tower. E parte dessa grana já é investida para tentar formar um cenário competitivo de "Free Fire" forte no mundo e no Brasil também, claro.

Free Fire - Loja - Reprodução - Reprodução
"Free Fire" é grátis, mas oferece uma vasta vitrine de itens à venda na loja
Imagem: Reprodução

Liga Profissional

Depois da realização de alguns torneios tímidos e até problemáticos em 2018, o cenário de eSports de "Free Fire" começou a ganhar forma mesmo agora em 2019. O principal campeonato no país é a Free Fire Pro League Brazil, realizada pela Garena em parceria com a empresa BBL, dando um caráter oficial para a competição.

Assim como acontece com a Pro League de "Rainbow Six Siege", por exemplo, o torneio acontece em formato de temporadas, que duram apenas algumas semanas. Ainda assim, tanto o campeão quanto o vice ganham vaga para o mundial de "Free Fire". A competição acontece no modo Squad do game, ou seja, com equipes de quatro jogadores -- em vez de teclados, mouses e monitores, eles jogam no celular mesmo. A fase de grupos é realizada online, e as finais presenciais, até agora, aconteceram em São Paulo.

Pro League Free Fire - Leonardo Sang/BBL - Leonardo Sang/BBL
Finais da primeira temporada da Pro League Brazil de Free Fire
Imagem: Leonardo Sang/BBL

Na primeira temporada da Pro League, que rolou de fevereiro a março de 2019, o campeão foi o time Tropa M3C (hoje Red Canids), e o vice ficou com a GPS Veteranos (hoje Vivo Keyd). Ambos representaram o Brasil no mundial, realizado na Tailândia, em abril, mas não conseguiram se sair bem.

Já a segunda temporada, que teve um impressionante número de 1728 equipes participantes, terá suas finais presenciais neste sábado (20), em São Paulo, só com os 12 melhores times e premiação total de R$ 35 mil, sendo R$ 14 mil para a equipe campeã.

As transmissões da Free Fire Pro League Brazil mostram uma boa audiência nos canais oficiais do YouTube e Facebook.

Free Fire Mobile - Leonardo Sang/BBL - Leonardo Sang/BBL
Sem mouse, nem teclado: todos os comandos são na tela do celular mesmo
Imagem: Leonardo Sang/BBL
A transmissão da primeira temporada teve pico de 250 mil pessoas e quase 2 milhões de usuários únicos, segundo a BBL. Já na transmissão em português do mundial foi registrado pico de 403 mil usuários simultâneos e 5 milhões de usuários únicos ao final da transmissão.

Em uma comparação aproximada, temos números divulgados pela Riot Games sobre o Campeonato Brasileiro de League of Legends, torneio de eSports que acontece no Brasil desde 2012. Na Primeira Etapa de 2019 foram 600 mil espectadores únicos, nos canais de YouTube e Twitch, por um período de 60 minutos, segundo a Riot -- sem contar a audiência da transmissão na TV pelo SporTV.

Uma Associação Nacional

Apesar de a Pro League ser a competição principal de "Free Fire" no Brasil, ela não é a única. A National Free Fire Association, ou NFA, criada também em 2019, tem o intuito de ajudar no "desenvolvimento e profissionalização das equipes dentro do cenário", segundo o CEO Bernardo Assad.

A NFA conta com times associados por franquias e realiza diversos campeonatos independentes e separados por temporadas, com premiações que vão de R$ 1 mil até R$ 10 mil. Recentemente, inclusive, foi anunciado um torneio só com equipes femininas.

Organizações como INTZ (da qual o CEO da NFA, Assad, também faz parte como gerente), Vivo Keyd, STARS e outras que participam da Pro League são associadas à NFA. Porém, os campeonatos da associação não têm apoio direto da Garena, apesar de manterem uma boa relação com a publicadora, de acordo com o Assad. "Mas estamos próximo disso [do apoio]. Assim espero", comenta o CEO.

Grandes competições, grandes organizações

Uma amostra de quanto o cenário competitivo de "Free Fire" está indo bem é o interesse de organizações estabelecidas nos eSports, em especial Vivo Keyd, Red Canids e INTZ, que já possuem times competindo.

É verdade que apostar em novas modalidades não é tão raro assim. A Vivo Keyd, por exemplo, tem times em "League of Legends", "CS:GO" (masculino e feminino), "Rainbow Six Siege" e, agora "Free Fire", ao contratar os jogadores que eram da GPS Veteranos, vice-campeões da primeira temporada da Free Fire Pro League Brazil.

Free Fire Red Canids - Leonardo Sang/BBL - Leonardo Sang/BBL
Campeões da Pro League Brazil agora fazem parte da Red Canids
Imagem: Leonardo Sang/BBL

As organizações viram na popularidade de "Free Fire" uma forma de entrar no cenário que só tende a crescer, como diz Wender Roberto, diretor de Operações da Vivo Keyd, em entrevista ao START: "Esse cenário, por mais que ainda seja um espaço novo, desbrava e expõe grandes números para se tornar uma das maiores febres no nosso país".

O CEO da INTZ, Lucas Simon, diz que o time de "Free Fire" começou como aposta, por ter a possibilidade de ir ao mundial, mas que rapidamente se tornou um foco maior dentro da organização. "Quando eles fazem o bootcamp para participar de alguma qualificatória, usufruem de toda a estrutura do QG, além de comissão médica e técnica", revela Lucas.

A nossa intenção é contar com eles residindo em São Paulo e treinando daqui em breve
Lucas Simon, CEO da INTZ

"Eu vejo de perto o sentimento e o carinho"

Diego Hads Caster Free Fire - Divulgação/BBL - Divulgação/BBL
Diego Hads é caster da Pro League de Free Fire
Imagem: Divulgação/BBL
Os narradores e comentaristas da Pro League Brazil, Felipe "Felpy" Cardoso e Diego Hads, comentam que a entrada de grandes organizações é importante não só para dar mais confiança para a cena, mas também pelo apoio em estrutura para jogadores, muitos deles ainda adolescentes.

"A presença das principais organizações de eSports garante aos jogadores uma estrutura única", fala Felpy. "Local para treinamento, salários, preparo psicológico e a presença de um manager para administrar a rotina da equipe são cruciais para elevar o nível das equipes".

Porém, dada a popularidade de "Free Fire" no Brasil, ambos também concordam que esperavam mais times de peso no cenário, mas isso é só uma questão de tempo.

Free Fire é um fenômeno. Eu vejo de perto o sentimento e o carinho das pessoas por esse jogo e acredito que várias outras organizações vão entrar muito em breve para o cenário.
Diego Hads, caster de Free Fire

Enquanto isso não acontece, o cenário de "Free Fire" já traz equipes com forte torcida na comunidade, e personalidades que são os queridinhos da galera, como o youtuber e streamer El Gato.

O time da Loud, por exemplo, nasceu há poucos meses, criado justamente para competir na Pro League Brazil, e já possui investimentos bem grande da plataforma Nimo.TV, com direito a uma mansão como Gaming House. Eles também estão entre os finalistas da segunda temporada da Pro League.

Melhor do mundo é do Brasil

Se não temos uma equipe de projeção internacional, pelo menos já temos o melhor jogador do mundo: Ariano Ferreira, mais conhecido como "Kronos".

Free Fire Kronos - Leonardo Sang/BBL - Leonardo Sang/BBL
Kroonos foi vice-campeão brasileiro na primeira temporada da Pro League de Free Fire
Imagem: Leonardo Sang/BBL

O brasileiro foi escolhido como o melhor jogador do mundial de "Free Fire", realizado em abril na Tailândia. Kronos defendia o time da GPS Veteranos, que ficou lá no meio da tabela. Ainda assim, ele foi eleito o MVP do mundial por ser o que mais causou danos em outros jogadores durante todo o torneio.

Atualmente jogando pela VIVO Keyd, Kronos tem agora a chance de conseguir ser campeão brasileiro neste sábado, quando disputa as finais da segunda temporada da Pro League Brazil de "Free Fire".