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Como o estrategista-chefe de Trump usou videogames para espalhar o ódio

Steve Bannon: o estrategista que fez de Donald Trump Presidente dos EUA - Reprodução
Steve Bannon: o estrategista que fez de Donald Trump Presidente dos EUA Imagem: Reprodução

Pedro Henrique Lutti Lippe

Do UOL, em São Paulo

19/10/2017 04h00

Uma extensa reportagem investigativa publicada no início do mês pelo site BuzzFeed News revelou como o estrategista-chefe da Casa Branca de Donald Trump, Steve Bannon, utilizou um movimento de ódio nascido entre gamers para cultivar e espalhar conceitos de supremacia branca e do nazismo entre jovens americanos.

Em posse de uma sequência de emails trocados entre editores do site Breitbart - "a plataforma para a alt-right," nas palavras de seu dono, Bannon -, o repórter Joseph Bernstein traçou uma linha temporal mostrando como o veículo aproveitou-se da frustração de jogadores, em sua maioria homens brancos, com a crescente presença de mulheres e LGBTs na indústria dos games para 'recrutar' jovens para causas da extrema direita.

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O texto original, em inglês, ainda fala sobre outras formas de ataque da "máquina mortífera" de Steve Bannon contra os liberais americanos, e merece uma leitura. Mas o que eu quero destacar é o envolvimento do GamerGate - movimento reacionário contra a inclusão nos games - na chamada "guerra cultural" que levou Trump ao poder.

Sob instruções de Bannon, Milo Yiannopoulos, então editor de tecnologia do Breitbart e figura-chave do GamerGate, iniciou um esforço calculado no site e nas redes sociais para desmoralizar ativistas liberais, como Shaun King, um expoente do Black Lives Matter.

O objetivo era mobilizar potenciais eleitores contra o que eles consideravam exemplos do "politicamente correto fora de controle."

Zoë Quinn, a desenvolvedora de games que foi o primeiro alvo do GamerGate, e Anita Sarkeesian, ativista feminista conhecida por discutir a presença de mulheres na indústria, também se tornaram vítimas.

Milo Yiannopoulos - Reprodução - Reprodução
Milo Yiannopoulos: ícone do GamerGate e arma de Steve Bannon nas redes sociais
Imagem: Reprodução

Eventualmente, jogadores que começaram a seguir Milo no Twitter por ele se dizer contra feminismo nos games passaram a ser expostos a propaganda nazista e teorias da conspiração contra Hillary Clinton, como o 'Pizzagate'.

Os emails publicados pelo BuzzFeed News provam que Milo consultava figuras notáveis da extrema direita para direcionar seus esforços. Devin Saucier, um dos editores da revista online que promove o nacionalismo branco American Renaissance, Curtis Yarvin, um proponente da volta do feudalismo, e Vox Day, escritor que foi expulso de um respeitado coletivo de escritores de fantasia e sci-fi por chamar um colega negro de "salvagem ignorante," são alguns exemplos.

Em agosto, por desavenças internas, Steve Bannon foi removido de seus cargos na administração Trump. Milo Yiannopoulos deixou seu cargo no Breitbart para fundar suas próprias iniciativas.

Mas o estrago, coordenado por pessoas como Andrew "Weev" Auernheimer, administrador de sistemas do site neonazista Daily Stormer que propôs que seus seguidores atrapalhassem o funeral de Heather Heyer, a vítima da tragédia em Charlottesville, e outro dos correspondentes de Milo, já estava feito.