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Valeu esperar: acertos brilham mais do que erros em "Last Guardian" no PS4

Claudio Prandoni

Do UOL, em São Paulo

12/12/2016 16h22

No mesmo ano em que "Final Fantasy XV" virou realidade temos outra lenda dos games que enfim chega aos jogadores.

"The Last Guardian" foi revelado em 2009 como jogo exclusivo do PlayStation 3, mas sucessivos atrasos e problemas técnicos fizeram com que ele saísse só agora no final de 2016, apenas no PS4.

Valeu a pena esperar? Sim.

Nota - The Last Guardian - Divulgação - Divulgação
Com legendas em português, "The Last Guardian" é jogo exclusivo do PlayStation 4
Imagem: Divulgação

"The Last Guardian" honra a ideia inicial que apresentou anos atrás e o legado da grife que carrega, apresentando e refinando elementos vistos nos clássicos "ICO" e "Shadow of the Colossus", obras anteriores do produtor Fumito Ueda.

Porém, no esforço para entregar a visão artística original de Ueda, o jogo apresenta sérios problemas técnicos, como quedas nas taxas de quadros e controles confusos e imprecisos.

Vale destacar, os pontos positivos falam mais alto. Do caos entre erros e acertos surge algo único, uma experiência ímpar que poucos jogos oferecem. Quem tiver paciência para lidar com as falhas vai viver uma aventura especial e inesquecível.

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O brilho que vem do caos

"The Last Guardian" segue receita consagrada pelos antepassados. Em resumo bem simples, uma dupla explora um mundo em ruínas cheio de quebra-cabeças.

Aqui, um menino se vê preso em uma torre e acompanhado de uma enorme criatura chamada Trico, com chifres e traços de gato, cachorro, passarinho e outros animais.

Os dois devem colaborar para vencer os desafios e isso por si só já é um dos grandes enigmas do game. Trico é dotado de uma inteligência artificial muito elaborada que dá todo o charme de "Last Guardian".

Não basta dar ordens à criatura, é necessário cuidar de Trico para que os dois virem amigos e criem os laços de confiança necessários para enfrentar as adversidades pela frente.

Nem sempre é tarefa fácil: Trico é teimoso e um tanto quanto manhoso. Além disso, claro, ele e o menino não falam o mesmo idioma. Ele te entender é tão difícil e enigmático quanto é para quem joga entender os grunhidos e gestos de Trico.

Complicando isso tudo temos os problemas técnicos. Controlar o jovem é tarefa das mais complicadas. Em parte, ele parece ser um tanto quanto destrambelhado de propósito, justamente para acentuar o quanto ele não é um herói atlético, como o protagonista de "Shadow of the Colossus", mas sim um moleque que realmente depende de Trico para sobreviver.

Seus pulos são desajeitados e imprecisos e escalar qualquer plataforma parece uma dificuldade tremenda.

A taxa de quadros não ajuda nem um pouco, variando bastante e deixando os controles ainda mais complicados e desafiadores. Jogar no mais poderoso PS4 Pro até que diminui um pouco isso, mas o frame rate continua longe de ficar tão estável quanto deveria.

Para completar, a câmera tem momentos terríveis. Em ambientes abertos, o sistema de câmeras proporciona belas panorâmicas sobre as misteriosas exploradas por Trico e o menino, mas em corredores ela é confusa e irritante. Muitas vezes parece simplesmente não saber exatamente onde focar e como melhor mostrar a ação.

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Paciência e serenidade são elementos-chave para aproveitar "The Last Guardian" da melhor maneira. Vale a pena encarar todos os problemas para mergulhar em mais um mundo misterioso criado por Ueda e ficar imaginando as histórias possíveis de serem contadas pelas ruínas mágicas, símbolos estranhos e criaturas fantásticas habitadas por este mundo.

Mesmo os gráficos, claramente ultrapassados, têm certo carisma. O visual realista das ruínas contrasta com o estilo mais caricato do menino e Trico parece uma mistura dos dois estilos. Alguns podem achar o visual defasado, mas isso de maneira alguma compromete a experiência. Novamente, tanto em "ICO" quanto "Shadow" vimos este tipo de situação acontecer sem prejudicar o resultado final.

Uma jornada pouco apressada leva em média cerca de 15 horas, mas é possível tanto terminar em menos do que isso, caso você foque apenas em avançar, ou levar mais do que o dobro desse tempo, explorando cada cantinho e ruína da torre.

Avaliando de um ponto de vista puramente técnico, "The Last Guardian" pode ser uma obra difícil de indicar. Seu único atrativo está na desafiante relação entre Trico e o menino, há poucos extras para explorar e a própria história é cheia de pontas abertas para interpretação livre - algo que, aliás, já acontece em "ICO" e "Shadow of the Colossus".

No entando, "The Last Guardian" é destes jogos raros, que usam a plataforma digital para criar algo único e intangível, difícil de definir em poucas palavras ou mesmo algumas horas de jogo. A amizade entre Trico e o menino é algo especial e impossível de reproduzir em outras mídias com a mesma intensidade e envolvimento.