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Tricampeão mundial e milionário aos 20, coreano Faker é o 'Pelé do eSport'

Melhor do mundo: Faker joga pelo menos 12 horas de "League of Legends" por dia e ganha mais de US$ 100 mil por mês - Divulgação/Riot Games
Melhor do mundo: Faker joga pelo menos 12 horas de "League of Legends" por dia e ganha mais de US$ 100 mil por mês Imagem: Divulgação/Riot Games

Theo Azevedo

Do UOL, em Los Angeles*

31/10/2016 10h20

Do alto de seus 20 anos, o coreano Lee Sang-hyeok, mais conhecido como "Faker" está para o eSport como Pelé para o futebol ou Michael Jordan para o basquete.

No último final de semana, vestindo sua característica jaqueta vermelha, Faker conduziu sua equipe, a SKT T1, ao tricampeonato mundial do "LoL" em Los Angeles, nos Estados Unidos. De quebra, o time embolsou um prêmio de US$ 2 milhões.

Considerado por muitos analistas o melhor jogador de "League of Legends" de todos os tempos, muitos de seus fãs preferem chamá-lo simplesmente de "deus". O coreano, que com seu estilo mudou o jeito de jogar "LoL", não possui um adversário à altura.

No topo aos 17

Por volta de 2011, Faker começou a jogar "LoL", game para PC jogado por 100 milhões de pessoas mensalmente, e já naquela época era difícil encontrar adversários à altura nos servidores coreanos, que seguramente podem ser considerados os mais competitivos do planeta.

Na Coreia do Sul, onde o eSport é oficialmente um esporte, há cerca de 12 mil lan houses, locais onde “treinam” milhares de potenciais pro players. Já nos anos 2000 os torneios de "Starcraft", que era sensação na época, eram transmitidos pela TV a cabo local. Logo o eSport se tornou mais popular que o beisebol entre os jovens coreanos, estabelecendo as bases da hegemonia do país nessa modalidade.

Criado pelo pai, Lee deixou os estudos na época do colegial para se dedicar à carreira. "Como pai sozinho, é meu dever apoiar meu filho", disse Kyung-joon em entrevista à ESPN. Além disso, a professora na época garantiu que ele seria capaz de se formar facilmente mais tarde.

Hoje, Faker não recomenda que sigam o mesmo caminho: "O futuro do eSport é brilhante, talvez até mais do que o de outros esportes. Porém, para se tornar um profissional é preciso correr muitos riscos. É melhor terminar os estudos antes de cair de cabeça nessa carreira", contou em entrevista à PC Gamer.

Faker SKT1 - Divulgação/Riot Games - Divulgação/Riot Games
Faker mudou a forma de jogar "LoL" e levou a SKT1 ao primeiro título mundial em 2011
Imagem: Divulgação/Riot Games

Faker estreou como pro player aos 17 anos, em 2013, e foi em grande estilo. Logo na primeira partida, sua primeira "kill" foi logo em cima de Kang “Ambition” Chan-yong, em uma jogada lendária. Na época, Ambition era a grande estrela do "LoL" na Coreia.

Naquele mesmo ano Faker seguiu assombrando os fãs de "League of Legends" com jogadas incríveis, levando a SKT1 ao título mundial, que rendeu um prêmio de US$ 1 milhão.

Mudando o jogo

O nível de destreza e raciocínio rápido do jogador beira o inacreditável. "Não passa nada pela minha cabeça [quando estou jogando]. Não estou pensando, apenas agindo. É quase como um instinto animal. Apenas faço o que preciso fazer", disse à PC Gamer.

Ele é capaz de jogar em alto nível com mais de 30 Campeões, o que costuma surpreender os adversários. De quebra, Faker consegue se adaptar facilmente às constantes alterações no balanceamento dos personagens que feitas regularmente pela Riot.

Mais que isso, Faker conseguiu a proeza de mudar o jeito de jogar "League of Legends": como mid lane ("meio"), ele muitas vezes trafega pela rota do meio, uma das três do jogo, segurando o avanço do adversário sem o apoio dos companheiros de time - função que, neste caso, costuma ser exercida pelo jungler ("selva").

Faker (de costas) - Divulgação/Riot Games - Divulgação/Riot Games
No começo, o estilo reservado de Faker gerou dúvidas se o pro player se adaptaria ao jogo em equipe da SKT1. Três títulos mundiais deixaram claro que não há nenhum problema.
Imagem: Divulgação/Riot Games

12 horas de treino por dia (pelo menos)

A rotina de treinos é pesada: Faker vive em uma game house em Seul, com seus companheiros, e treinam junto cerca de oito horas por dia. O pro player costuma complementar a carga com mais quatro horas de prática individual.

O estilo reservado, que contrasta com a fama, chegou a suscitar dúvidas no técnico da SKT1 sobre se Faker se adaptaria ao jogo em equipe: "Ele não falava muito, então não sabíamos se ele se daria bem em um ambiente de equipe", disse Choi "L.i.E.S." Byoung-hoon à ESPN. Claramente não foi um problema.

Estima-se que Faker ganhe mais de US$ 100 mil por mês, mas ele minimiza a importância do dinheiro: "O dinheiro da premiação é certamente uma fonte de motivação, mas o que eu quero mesmo é vencer", disse à PC Gamer. O pro player chegou a recusar uma proposta milionária para jogar na China, preferindo permanecer na SKT1.

O "sacrifício" valeu a pena: após um período em baixa em 2014, quando não conseguiu chegar às finais do Worlds, Faker e SKT T1 deram a volta por cima e faturaram o campeonato em 2015, na Alemanha.

SK Telecom T1 - Reprodução - Reprodução
Faker e a SKT1 comemoram o inédito tricampeonato mundial de "LoL"
Imagem: Reprodução

Na Coreia, há pouca tolerância com a derrota. É uma cultura muito competitiva. Aos 20 anos, mesmo para os padrões da carreira de pro player, na qual os jogadores costumam se aposentar por volta dos 25 anos, Faker ainda tem uma longa caminhada antes que a "idade" afete seus reflexos ou facilite contusões.

Porém, Faker reconhece que abrir mão dos estudos e de tantos aspectos da vida pessoal em nome da carreira é uma decisão que cobra um preço caro: "Acho que evoluí como pro player, mas não em minha vida pessoal. O estresse como pro player afeta muito a vida pessoal, então preciso achar meios de melhorá-la".

Porém, pelo visto a prioridade ainda será o "LoL", já que ainda no ginásio Staples Center, minutos após a final, Faker já falou sobre os planos futuros: vencer o próximo Mundial.

*O jornalista viajou a convite da Riot Games