Topo

OPINIÃO

Focado na experiência solo, "Quantum Break" é tiroteio deslocado no tempo

É nas sequencias de ação que "Quantum Break" brilha mais forte - Divulgação
É nas sequencias de ação que "Quantum Break" brilha mais forte Imagem: Divulgação

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

01/04/2016 05h01

Novo game da Remedy Entertainment para Xbox One e Windows 10, "Quantum Break" é um ótimo game de tiro a moda antiga, e, ao mesmo tempo, uma experiência que arrisca introduzir novidades para o manjado gênero de jogos de tiro e ação em terceira pessoa.

"Quantum Break" conta a história de Jack Joyce, um rapaz capaz de manipular o tempo, e da Monarch Solutions, megacorporação responsável pelos poderes de Jack e por um acidente que provocará o fim do mundo. A trama do jogo é dividida entre as fases de ação e episódios de uma série com atores reais.

Tanto nas partes jogáveis quanto na série, os personagens são interpretados por atores famosos da TV e do cinema, como Shawn Ashmore (o Homem de Gelo de "X-Men") no papel de Jack e Aidan Gillen (o Mindinho de "Game of Thrones") como o vilão Paul Serene. O jogo utiliza uma versão melhorada da tecnologia de "L.A. Noire" para transferir as expressões dos atores para os modelos digitais.

Feito para um jogador

Em essência, "Quantum Break" é um jogo de tiro e ação totalmente concentrado na experiência solo. Desprovido de modalidades multiplayer ou de qualquer interação online (exceto por estatísticas que aparecem depois das tomadas de decisão), o game da Remedy se dedica ao máximo em oferecer uma boa experiência para o jogador - e consegue ótimos resultados, principalmente nos estágios de combate, planejados para mesclar o uso de cobertura com os super poderes de Jack.

Você pode usar os murinhos para se proteger dos tiros e ataques dos soldados da Monarch, mas a intenção da Remedy é tirar o jogador da zona de conforto: Tudo fica mais divertido quando você congela o tempo e corre ao redor de um inimigo enchendo a área de balas. O estrago causado quando a ação volta ao normal é sempre satisfatório. Em outro estágio, Jack precisa atravessar um campo aberto, lutando contra inimigos comuns enquanto está sob a mira de snipers. A solução? Entre um disparo e outro do atirador, usar os poderes do herói para correr até o sniper e nocauteá-lo.

Quantum Break 1 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Jack possui vários poderes e você adquire quase todos eles já na primeira fase, mas pode aprimorá-los com pontos de habilidade escondidos pelo cenário. Aliás, explorar as fases de "Quantum Break" rende uma compreensão maior da trama e dos personagens, além de ativar uma ou outra mudança nos episódios da série.

O tiroteio frenético e cheio de efeitos de câmera lenta é uma herança de "Max Payne", jogo que fez a fama da produtora Remedy. Leva um tempo para se acostumar com o peso e coice das armas. Pistolas parecem meio lentas de manusear, rifles de assalto e metralhadoras são armas quase incontroláveis, mas a intenção é que você combine isso com os poderes de Jack e o "bullet time" facilita bastante a pontaria.

O ponto fraco das fases de ação são os quebra-cabeças e trechos de plataforma, que parecem colocados lá só para quebrar o ritmo dos combates e dar uma amostra da confusão criada pela tal ruptura do tempo no mundo de "Quantum Break".

Quantum Break 2 - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Alguns são muito simples, como erguer uma plataforma e congelar o tempo para saltar por ela e alcançar o outro lado. Outros envolvem correr, saltar e usar os poderes de Jack para cruzar áreas bastante caóticas (como um navio se despedançando no porto da cidade em meio à ruptura do tempo). O impacto visual é incrível, com pedaços do navio e contâiners indo e voltando no ar e plataformas se formando conforme as placas de metal se retorcem. Atravessar essas áreas é um pouco frustrante, com mortes implacáveis por coisas simples como ser atingido por uma porta.

Pretensão cinematográfica

A narrativa em "Quantum Break" é dividida em três partes: fases de ação com Jack, fases de intersecção onde você decide entre duas alternativas e os episódios da série. As decisões mudam parte do que é exibido no seriado, mas não mudam o final do game - o último ato jogável acontece depois do episódio final da série.

Mesmo com valores de produção elevados e bacana de assistir, a série de "Quantum Break" mostra eventos paralelos aos do jogo, só que pela ótica da Monarch Solutions. É meio que um legado dos dias em que o Xbox One seria uma "plataforma de entretenimento" e não um simples videogame, e faz com que você consuma o jogo aos poucos - sim, você pode pular seus episódios e jogar o game de uma vez, mas vai ficar sem entender algumas coisas importantes.

Quantum Break - Divulgação - Divulgação
As fases do game são intercaladas com episódios estrelados por atores conhecidos do cinema e TV. A série é bacana, mas o 'streaming' do Xbox Live é cheio de gargalos: Baixe os episódios antes de assistir.
Imagem: Divulgação

Infelizmente, a interação entre a série e o game é pequena. Salvo a decisão tomada na primeira fase, as demais nao afetam o jogo, apenas mudam certos eventos no próprio seriado. Aliás, há muita coisa na série (como todas as cenas do agente Burke) que seriam ainda melhores se fossem sequências jogáveis.

O jogo conta com uma dublagem excelente, com falas bastante naturais e vozes bem conhecidas do público brasileiro. Apesar de um ou outro erro de gênero, inevitável quando se gravam as vozes sem assistir o que está rolando no game, atualmente "Quantum Break" oferece a melhor dublagem em um jogo da Microsoft, e olha que a empresa já é referência no assunto por aqui.

E, se você prefere jogar com as vozes originais, "Quantum Break" permite selecionar o áudio e as legendas separadamente, coisa rara em jogos mais recentes.

Deslocado no tempo

Os principais games da atualidade seguem certas regras: São totalmente online ou oferecem uma boa variedade de modos multiplayer. Mesmo experiências que parecem dedicadas aos jogadores solitários, como "Dark Souls" ou "Bloodborne", contam fortemente com a interação online em suas mecânicas. Jogos de ação como "Tomb Raider" e "Uncharted" possuem modos de jogo com vários jogadores meio que para cumprir tabela. Até "GTA" se rendeu aos encantos do multiplayer.

Diante disso, "Quantum Break" é uma produção de primeira categoria que parece estar deslocada no tempo. O jogo traz novas mecânicas para os shooters em terceira pessoa, mas em linhas gerais, é exatamente o tipo de game que você gostaria de jogar alguns anos atrás. Se o que você procura é uma experiência solo caprichada e cheia de ação, o jogo da Remedy é um dos melhores que vai encontrar.

SIGA O START NAS REDES SOCIAIS

Twitter: https://twitter.com/start_uol
Instagram: https://www.instagram.com/start_uol/
Facebook: https://www.facebook.com/startuol/
TikTok: http://vm.tiktok.com/Rqwe2g/
Twitch: https://www.twitch.tv/start_uol

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL