Um Clássico Moderno

The Last of Us transformou uma história de apocalipse em sucesso do PlayStation

Bruno Izidro e Giovanna Breve Do START e Colaboração para o START Carol Passos/UOL

Foi em 2013 que conhecemos Joel e Ellie, no PlayStation 3, e ainda hoje nos emocionamos com a aventura deles. Longe de serem super-heróis, mas personagens em um mundo pós-apocalíptico de um game, criaram entre si uma poderosa relação que transformou The Last of Us em um clássico moderno.

Sobrevivência, morte e, principalmente, humanidade são os temas que a obra do estúdio Naughty Dog apresentou tão bem aos jogadores, conquistando milhões de fãs.

Com a Parte II chegando ao PlayStation 4, o START se debruça sobre o perturbador e fascinante universo de The Last of Us. Conversamos com fãs e pessoas envolvidas na produção do novo jogo, abordamos os problemas internos durante o desenvolvimento e damos um gostinho do que esperar da continuação mais aguardada dos videogames em 2020.

The Last of Us em 10 momentos

The Last of Us vai além do conceito de "game de zumbis" com combates violentos. Os diretores Neil Druckmann e Bruce Straley queriam apresentar aos jogadores dois protagonistas totalmente distintos, que se conhecem de forma adversa. Ao longo da jornada, acompanhamos um vínculo sendo criado.

Alguns jogos, em especial The Walking Dead (2012), da Telltale Games, também faziam um ótimo trabalho com esse mesmo conceito, mas nada foi tão forte e significativo como a relação de Joel e Ellie.

Joel, um sobrevivente nesse mundo caótico, só assume a responsabilidade de levar a "menina não infectada" para o grupo Vaga-Lumes como último pedido da parceira Tess, uma herança para trazer a esperança de volta. Não para a humanidade, mas para o próprio Joel.

Talvez ele visse o otimismo inocente que ainda havia em Ellie e a rejeitasse no começo. Talvez, para Ellie, ele seria só mais um que se livraria dela na primeira oportunidade.

Ambos não querem se apegar para não perder tudo de novo como antes. Assim, The Last of Us nos apresenta o conceito mais triste e lindo de que "a vida continua", mesmo que os personagens vivam um constante luto: das pessoas que partiram, da vida que tiveram ou que poderiam ter.

Só que era inevitável. Com o tempo, a garota começa a fazer brincadeiras com assovios, momentos de descontração com piadas ruins. Ela vai ganhando a confiança de Joel para ajudar no combate contra inimigos. Logo, o tratamento impessoal e distante desaparece entre eles.

Ellie poderia enfrentar uma cidade inteira para salvar um Joel doente e ferido. Ele poderia matar, torturar e arriscar o futuro de todos por causa dela. E assim eles fazem.

O ato de Joel no final do jogo é o que o torna tão egoísta como também tão humano como nenhum personagem de videogame jamais foi.

Ellie precisava de Joel. Joel precisava de Ellie. E nós precisávamos de ambos para The Last of Us se tornar tão marcante.

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The Last of Us em outras mídias

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Animação

O projeto, infelizmente cancelado, recapitularia a história do primeiro game e também serviria de ponte para a sequência. A animação teria cerca de 20 minutos e se tornou pública após imagens serem acidentalmente publicadas pelo estúdio Oddfellows, responsável pela produção.

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Quadrinhos

A HQ American Dreams (Dark Horse Books) foi lançada pouco antes de The Last of Us. Escrito pelo roteirista do game, Neil Druckmann, e dividido em quatro edições, o gibi conta uma história inédita e anterior ao jogo, narrando como Ellie conheceu a amiga Riley, que aparece no DLC Left Behind (2014).

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Série de TV

Uma série da HBO baseada em The Last of Us foi anunciada em 2020. A produção vai ter envolvimento do criador e roteirista dos games, Neil Druckmann. Sem previsão para estreia, a série vai abordar os acontecimentos do primeiro jogo, com alguns detalhes também da continuação.

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Cordyceps

O fungo real que causou o fim do mundo em The Last of Us

The Last of Us tem um cenário pós-apocalítico causado pela infecção de um fungo, o Cordyceps, que não foi inventado pelo jogo: ele existe de verdade e pode ser encontrado no Brasil.

Assim como no game, o fungo é um parasita que controla o hospedeiro, dando um aspecto de cogumelos que se proliferam pelo corpo da vítima.

O doutor em Biologia de fungos Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos contou ao START como o Cordyceps pode ser mortal:

"Quando a gente fala de Cordyceps, não só falamos de matar, mas de um fungo altamente especializado que altera os comportamentos da vítima e faz com que procure lugares específicos para morrer. Lugares com potencial adequado para o fungo produzir esporos e manter o seu ciclo de vida", explica Elisandro.

Ou seja, as áreas no jogo cheias de fungos nas paredes e esporos foram baseadas nesse processo.

A grande diferença da ficção é que, na vida real, o Cordyceps só ataca insetos como vespas, formigas e aracnídeos, como aranhas. Já nós, humanos, temos um sistema imunológico hostil a eles. Ufa!

Em The Last of Us, o surgimento de um novo tipo de fungo faz com que humanos sofram da Infecção Cerebral de Cordyceps (CBI, na sigla em inglês). As pessoas são infectadas pela mordida ou pelos esporos, transformando-se em "zumbis" e suas evoluções.

Mas, e se algo acontecesse assim de verdade? O biólogo faz uma comparação com a situação de pandemia causada pelo novo coronavírus agora em 2020.

Se aparecesse um fungo capaz de atacar seres humanos, levando como um paralelo da Covid-19, seria impactante e bem brutal

Ainda assim, ele conclui que, aos poucos, apareciam pessoas que "tolerariam" a presença do fungo, assim como acontece com Ellie no game, já que ela é imune à infecção.

A música de Gustavo Santaolalla

Os acordes bucólicos de sons graves, ruídos e batidas rudimentares amplificam as sensações no jogo

Divulgação/Sony Divulgação/Sony
Luke Fontana/Reprodução

Conversamos com Halley Gross

Corroteirista de The Last of Us Parte II

Halley Gross veio da TV, com o trabalho mais reconhecido na primeira temporada de Westworld, da HBO. Em 2016, ela entrou para a Naughty Dog para trabalhar pela primeira vez com videogames.

A missão? Ser a responsável por continuar a história de Ellie e Joel em uma das sequências mais esperadas da indústria. Ao lado do diretor Niel Druckmann, a roteirista ficou quatro anos construindo a trama, personagens e diálogos para The Last of Us Parte II.

Na conversa com START, a roteirista falou um pouco desses desafios e do que os fãs podem esperar na continuação. Tudo SEM SPOILERS, podem ficar tranquilos.

START: Foi a primeira vez que você trabalhou em um game. Quais outros jogos lhe inspiraram enquanto fazia The Last of Us Parte II?

Halley: Tentamos criar os personagens mais verdadeiros e autênticos que os jogadores já viram em um game. Então, mais do que tudo, tentamos nos basear na vida real e em pesquisa. Os artistas foram para Seattle e tiraram fotos para deixar tudo realmente imersivo. Então, acho que a inspiração veio muito mais da vida real. E também, pessoalmente, eu gosto de jogar coisas que são completamente diferentes do que estou trabalhando. Na maior parte do tempo eu ficava jogando Fortnite (risos).

START: O primeiro jogo tem um final bem memorável e impactante. Como vocês trabalharam para prevenir que a continuação da história não deixasse esse final menos significativo?

Halley: O que é tão especial sobre o final do primeiro jogo é que você está junto de Joel e Ellie esse tempo todo, e aí o Joel faz essa decisão incrivelmente difícil e aterrorizante. Você pode discutir se foi uma decisão certa ou errada, mas você entende por que ele fez essa decisão, desse lugar de amor bem profundo por essa criança.

Nosso objetivo com o segundo jogo foi muito de honrar esses mesmos temas, de que a vida é cheia de decisões difíceis e todas elas têm consequências.

Para honrar isso, honrar o final do primeiro jogo, o mundo que construímos agora tem que fazer a mesma coisa, tem que mostrar personagens que não são completamente bons ou completamente maus, e nenhuma das decisões que eles tomam são fáceis. Tudo tem um custo, tudo tem uma consequência e tudo tem que estar alinhado com esse tema.

START: De qual aspecto da narrativa você acha que os fãs vão gostar mais?

Halley: Eu não quero falar pelos fãs, mas acho que os personagens. Enquanto eles têm falhas, são também cheios de esperança e amor. Então, espero, que todos que jogarem achem um personagem que se conecte e converse com eles.

A gente tinha um final diferente do que está na versão final do jogo. Esse final existiu até uns dois anos atrás

Halley Gross, Corroteirista de The Last of Us Parte II

Cão travesso

Os problemas e polêmicas dos bastidores em The Last of Us Parte II

A Naughty Dog, estúdio responsável por The Last of Us, se diferencia de muitas desenvolvedoras na forma como produz seus jogos.

Todos os departamentos, da arte à programação, do design à animação, trabalham sem a presença de um produtor —a pessoa responsável por acompanhar e administrar o andamento do jogo. Todos respondem diretamente aos diretores do jogo.

Apesar de essa filosofia ajudar criativamente no desenvolvimento, também traz um mal, que resulta em longas jornadas de trabalho, atrasos e períodos de Crunch. Foi o que aconteceu no desenvolvimento de The Last of Us Parte II.

Uma reportagem no site Kotaku expôs muitos desses problemas. Funcionários e ex-funcionários relataram, em anonimato, que os períodos de trabalho excessivo se tornaram frequentes à medida que o lançamento do jogo se aproximava.

Por um lado, essa cultura da empresa é o que faz de The Last of Us Parte II um jogo sem precedentes por suas qualidades técnicas impecáveis. Mas a que preço? Profissionais envolvidos no game pediram demissão durante o desenvolvimento do projeto.

A Naughty Dog e a Sony não se pronunciaram sobre esses casos.

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Outra polêmica de bastidores foi o vazamento de The Last of Us Parte II, que aconteceu em abril de 2020. Imagens, cutscenes e aspectos do gameplay se espalharam pela internet. Em um jogo em que a narrativa é tão importante, a situação foi a pior possível.

Sobre isso, as empresas falaram.

A desenvolvedora pediu aos jogadores que evitem e não espalhem os vazamentos, e diz para aguardar o lançamento, pois "no final, vai valer a pena".

Já a Sony fez uma investigação, descobriu os responsáveis por espalhar as imagens e confirmou que não são filiados à Naughty Dog.

Todas essas polêmicas parecem não ter abalado as expectativas para o jogo. The Last of Us Part II já é um sucesso de vendas antes mesmo de ser lançado. No Brasil, o título é a maior pré-venda no varejo entre jogos exclusivos da PlayStation, superando God of War, de 2018.

Divulgação/Sony Divulgação/Sony

Em The Last of Us Parte II, a vingança é plena

O grande tema de The Last of Us Parte II é a vingança. Todos os confrontos contra infectados e inimigos, obstáculos e objetivos que precisamos superar no game são motivados por esse sentimento.

Mas a vingança de Ellie, agora protagonista, só funciona porque passa a ser também a vingança de quem joga, e aí a mágica da interatividade e imersão dos videogames entra em cena. The Last of Us Parte II sabe fazer essa mágica muito bem.

Leia o review completo.

Kit de sobrevivência

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