Por trás dos games do BBB

As histórias de quando o reality show foi para o mundo virtual dos games

Giovanna Breve Colaboração para o START Guilherme Zamarioli/UOL

A edição de 2020 do Big Brother Brasil atingiu um sucesso como há muito tempo o reality show não via. Foi um programa cheio de celebridades e influenciadores digitais, gerou memes e quebrou recordes de votação do público. Tudo fruto do alcance que a edição tomou ao ser o centro de muitas conversas nas redes sociais.

Muitos anos antes desse retorno de popularidade, o Big Brother Brasil também se aventurou no mundo dos videogames e esteve nas telas de PC e celular no começo dos anos 2000.

Foi para descobrir mais sobre esses games que o START conversou com os brasileiros que desenvolveram os dois jogos oficiais do BBB. Aqui eles contam sobre desafios e curiosidades dos bastidores da criação desses jogos. Aproveitamos também para trocar uma palavra com Pedro Falcão, um gamer e ex-brother que esteve no olho do furacão e hoje se tornou criador de jogos.

Reprodução

O jogo oficial do Big Brother Brasil foi lançado em 2002, ano de estreia do programa de TV, que teve duas edições.

Porém, os personagens no game não são baseados em nenhum dos participantes reais. Em vez de controlar Kleber Bambam (BBB 1) ou Rodrigo Cowboy (BBB 2), é preciso escolher entre 12 Brothers e Sisters genéricos para jogar.

Comer, fazer exercícios e interagir com os outros participantes são algumas das atividades. Quanto maior a popularidade do jogador, maiores são as chances de ganhar.

Se você notou alguma semelhança com The Sims, não é mera coincidência, e o jogo brasileiro pode ser encarado muito bem como uma versão mais simplificada do jogo de simulação da Maxis.

O jogo do Big Brother Brasil foi criado pelo hoje extinto estúdio Continuum (conhecidos na época pelo jogo de estratégia Outlive) em uma parceira com a distribuidora de jogos Brasoft e a Rede Globo. A empreitada ainda resultou em outro game baseado em um reality show de sucesso da emissora: No Limite.

Alexandre Vrubel era gerente da Continuum e conta como produzir Big Brother Brasil (o jogo) foi uma correria, porque eles tiveram apenas duas semanas para entregar todo o jogo, antes da final do programa de TV.

O jeito foi usar muitos recursos e modelos de personagens já criados para o jogo de No Limite, que estava sendo feito em paralelo:

"A sorte é que ambos os jogos tinham uma mecânica semelhante baseados em reality shows, com votações para eliminação, logo boa parte da engine de um jogo pode ser usado no outro (no fundo, ambos os jogos eram uma derivação da engine do Outlive)", conta o ex-desenvolvedor.

Com o prazo curto e uma equipe pequena, Vrubel e os demais tiveram uma experiência de também quase confinamento para terminar o jogo. Ele confessa que chegaram a trabalhar mais de 14h horas no início da criação e não dormiram nos últimos dias, uma prática que é chamada de Crunch na indústria de jogos.

Reprodução/Arquivo Pessoal

Entrevista com Alexandre Vrubel

Trabalhou à frente do time de programação do jogo do BBB

START - O jogo do BBB é bastante parecido com The Sims. Houve algo que vocês tentaram fazer com o jogo que não deu certo?

Alexandre Vrubel: Como o programa BBB é baseado em relacionamentos entre pessoas, foi natural que o jogo acabasse parecido com o The Sims, que também tem essa premissa. Mas o jogo BBB era muito mais simples, e focado na mecânica do reality-show, por exemplo com os paredões, convencer os demais "participantes" a não mandar o jogador para o paredão, e tentar atrair a simpatia do público votante. Em outras palavras, assim como no programa de TV, muita manipulação e falsidade tinham que ser modeladas, algo que o The Sims não possuía. O grande problema foi que tivemos apenas duas semanas para desenvolver o jogo, o que limitou bastante a complexidade que conseguimos inserir.

START - Hoje, olhando para trás, acha que fizeram um bom jogo ou era só mais um "advergame" para cumprir contrato? E o que pensaria em fazer hoje se houvesse uma nova versão?

Alexandre Vrubel: Acredito que fizemos um bom jogo, apesar de ser simples e voltado para um público casual. Se tivéssemos mais tempo de desenvolvimento, o jogo poderia ter ficado mais interessante, com mais elementos, o que aconteceu por exemplo no jogo "No Limite", que foi lançado logo em seguida. Hoje, imagino que um jogo estilo BBB poderia ser multijogador, com o computador ou smartphone simulando a votação do público. É interessante essa mecânica, em que você tem que "convencer" o computador de que você merece continuar no jogo e não os seus adversários. Existe um desafio interessante de inteligência artificial, para fazer o computador simular o público, que, no fundo, é quem decide quem "ganha" o jogo.

Tiramos cochilos na frente do computador, nos revezando, mas conseguimos entregar o produto no prazo, sem bugs, e com razoável grau de diversão. Ficamos orgulhosos com o produto, principalmente devido às restrições que tivemos que superar para transformá-lo em realidade

Alexandre Vrubel, Um dos criadores do jogo Big Brother Brasil

Foi no Big Brother Brasil 5, realizado em 2005, que os brasileiros conheceram duas celebridades que muitos até esquecem que são ex-BBBs: Jean Wyllys, campeão da edição e hoje conhecido por sua carreira política, e a atriz Grazi Massafera, a vice.

Eles e o restante dos dez participantes do programa eram os protagonistas de Meu Big Brother, o segundo game oficial do reality, dessa vez feito para celulares.

O jogo era uma espécie de "Tamagotchi" baseado nos confinados na casa. Era preciso ter cuidados com alimentação, higiene e se dar bem nas atividades para se livrar do paredão.

O Meu Big Brother também disponibilizava notícias do programa, um Portal de Voz para escutar cada morador da casa, o fórum Big Chat e Big Quiz com perguntas e respostas sobre o programa. Tudo isso em uma época em que smartphones estavam longe de aparecer no mercado.

Um dos responsáveis pelo game foi Henrique Olifiers, hoje conhecido como diretor da Bossa Studios, desenvolvedora de Londres responsável por sucessos indies como Surgeon Simulator e I am Bread.

Antes disso, Olifiers trabalhou na Globo, cuidando da operação do Meu Big Brother, um jogo que ele diz ter sido revolucionário ao tentar trazer, em tempo real, informações dentro da casa para o celular.

"O Meu Big Brother tinha um time de conteúdo dentro da casa do BBB alimentando updates de minuto a minuto, fazendo com que os personagens no game refletissem o que os brothers estavam fazendo na vida real. Ele permitia interação como votar em paredões, brothers favoritos etc., literalmente levando o programa para dentro do jogo."

Olifiers lembra que, durante o período de produção, eles precisaram trabalhar com a tecnologia 2G e celulares que não tinham um padrão: cada marca e modelo tinha um desafio diferente. Por fim, o My Big Brother foi lançado para 35 modelos únicos. "Foi como lançar um game para mais de 30 plataformas ao mesmo tempo".

Apesar das adversidades, o game brasileiro fez bastante sucesso com o público, tanto que o projeto foi exportado depois para os Big Brothers da Austrália e Alemanha.

Divulgação/Bossa Studios

Entrevista com Beta Lucca

Junto de Henrique Olifiers, ela também foi responsável pelo game Meu Big Brother

START - Como surgiu a ideia para criar o Meu Big Brother?

Beta Lucca: Em 2005, a TV Globo estava fazendo o BBB 5. Até então, o produto principal que a área de Interatividade no Projac tinha criado pelo programa era o sistema de votação, que já era bem inovador comparado a outras dezenas de países onde o Big Brother era feito.

Nosso time de Interatividade e o time do site da Globo faziam vários projetos juntos, inclusive o sistema de votação que integrava votos vindos da web, os de mobile e telefone fixo. O Henrique era o cara de games que a gente precisava para experimentar uma interatividade com o público nunca visto no mundo de TV.

Fruto dessa colaboração veio a ideia de expandir o alcance de produtos (além de votação) e criamos o Portal de Voz, o Big Chat, o Big Quiz e o jogo Meu Big Brother. Esses novos produtos se tornaram extremamente populares, impulsionando o crescimento de uso de mensagem de texto em todo o Brasil por 1700%.

START - Vendo hoje em dia, acha que o BBB ainda rende um bom jogo?

Beta Lucca: Acredito que com a evolução do ser humano nas redes sociais, jogos que todos jogamos, e a experiência que eu e o Henrique acumulamos com o sucesso da Bossa Studios aqui em Londres, poderíamos fazer um jogo do BBB 100 vezes melhor. Assim como o game muito popular do Love Island aqui na Inglaterra (baseado no programa de TV), um jogo do BBB criado nesse ambiente hyper-conectado que vivemos poderia virar um jogão, com uma incrível vantagem competitiva —free marketing diário.

Dois dos brothers não gostaram do tratamento visual que eles receberam no game. Um, em particular, exigiu que certas proporções fossem... aumentadas.

Henrique Olifiers, Criador do game Meu Big Brother

Games baseados em reality shows

Reprodução

No Limite (2003)

Feito pela mesma equipe do primeiro jogo oficial do BBB, a Continuum, e também lançado para PC. A versão digital seguia a mesma estrutura do programa de TV, com divisão em equipes, provas e eliminações em cada etapa.

Reprodução

Big Brother Brasil 3D Online (2010)

Mais um jogo do Big Brother 100% brasileiro. Foi desenvolvido pela Green Land Studios, de Santos (SP). Além do visual 3D mais realista, trazia elementos online dos MMORPG que faziam sucesso na época. Porém, não foi um grande sucesso.

Reprodução

Big Brother: The Game (2000)

Baseado na versão alemã do reality, tinha o objetivo de controlar um participante e coletar itens em um labirinto. Curiosidade: Foi criado pela hoje conhecida Guerilla Games (Horizon Zero Dawn), na época com o nome de Lost Boys Games.

Reprodução

Big Brother: The Game 2 (2000)

Foi o segundo game da versão alemã do reality. Foca em minigames, como quebra-cabeça, coletar itens e fotografar o cenário do jogo. Além de ter pontuações online, traz vídeos extras do programa da edição que foi ao ar na época.

Paulo Belote/Divulgação TV Globo Paulo Belote/Divulgação TV Globo

Um Gamer no BBB

O BBB 17 foi marcado pela estreia de Tiago Leifert como apresentador do programa, mas também pela presença de alguém muito ligada a games entre os participantes: Pedro Falcão.

Na época em que participou do programa, Falcão era jornalista e cobria a área de games. Até mesmo a maneira como ele acabou entrando no BBB foi por causa de jogos.

Em entrevista ao START, ele conta que foi abordado por uma das produtoras do programa durante um torneio de Street Fighter. Falcão era comentarista da competição, que aconteceu em São Paulo, no mesmo hotel em que seria realizada a seletiva para o BBB 17.

Durante o período em que ficou confinado, ele revela que ficava fascinado de ver como eram feitas as provas do reality, que pegava no lado pessoal dos participantes, gerando muitos conflitos internos. "É muito legal entender o jogo como um todo com essa perspectiva", disse o ex-BBB, que ficou na casa por seis semanas, sendo o sexto eliminado naquela edição.

E não pensem que conhecer de games deu alguma vantagem no jogo do BBB, muito pelo contrário. Falcão afirma que não há nada comparado a participar da casa mais vigiada: "Não tem uma experiência nos videogames nem um pouco similar porque o BBB, para quem está dentro, é uma experiência psicológica. No jogo tem algum avatar para controlar, no BBB tem que ser você mesmo dando a cara a tapa."

Falcão é um ex-BBB, mas vai ser para sempre um gamer, prova disso é que, atualmente, ele é criador de jogos e trabalha no estúdio Rogue Snail, que está desenvolvendo o game de ação online Relic Hunters Legend, com data para ser lançado ainda em 2020.

Não tem um videogame que prepare para participar do BBB

Pedro Falcão, Ex-BBB e desenvolvedor de jogos

Topo