O RPG que mudou tudo

Final Fantasy VII, que se tornou referência nos videogames na década de 90, agora ganha um aguardado remake

Bruno Izidro Do START, em São Paulo Reprodução

Final Fantasy VII foi um daqueles jogos que mudou a forma como videogames eram encarados. As animações em computação gráfica do jogo deixavam qualquer um de queixo caído na época e aproximavam a linguagem dos games com a do cinema.

O RPG despontou como o primeiro blocksbuster da indústria dos jogos eletrônicos, sendo uma das produções mais cara da época, que vendeu milhões de cópias e fez dos chamados JRPG (RPG japoneses) um gênero popular.

FF VII foi importante também para pavimentar o sucesso do PlayStation, por ser um título de peso exclusivo do primeiro console da Sony.

Para a série Final Fantasy então, o sétimo jogo foi um divisor de águas que nunca mais se repetiu na franquia, fazendo a transição para os gráficos 3D em voga, quebrando paradigmas e apresentando uma temática mais contemporânea. Uma fantasia baseada na realidade.

Com o tão aguardado remake de Final Fantasy VII lançado em 2020, o START se volta para o jogo original. Mostramos as razões para ele ser, até hoje, um dos games mais importantes, explicamos as obras derivadas do universo expandido, apresentamos o RPG aos novos jogadores e, para os nostálgicos, também revelamos bastidores da revista Gamers Book, que ajudou o game a se popularizar no Brasil.

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Parte 1 - O jogo original

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Os Pais de Final Fantasy VII

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Hironobu Sakaguchi (Produtor)

O criador da série Final Fantasy foi fundamental para o jogo ser lançado no PlayStation. Apesar de Sakaguchi ainda ser creditado nos games seguintes, FF VII foi o último em que ele esteve pessoalmente envolvido.

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Yoshinori Kitase (Diretor)

Kitase foi importante para deixar o game com características de cinema, principalmente nas animações em computação gráfica. Atualmente, ele é o produtor do Remake de Final Fantasy VII.

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Tetsuya Nomura (Designer de Personagens)

O "culpado" pelo visual mais moderno e com traços de anime dos personagens. Nomura fez parte do time criativo do game como um todo e, atualmente, é o diretor do remake de FF VII.

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Nobuo Uematsu (Compositor)

O famoso compositor da série foi o responsável por uma das músicas favoritas dos fãs até hoje: One-Winged Angel, tema da batalha contra o chefe final de FF VII, e a primeira música com vocal na história da franquia.

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Divulgação/Square Enix Divulgação/Square Enix
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A construção de um vilão icônico

O que faz de Sephiroth um vilão não só icônico dentro da série Final Fantasy como também nos videogames? O visual com longos cabelos brancos e ar misterioso certamente ajudam na popularidade, mas talvez a resposta esteja na construção do personagem na narrativa do jogo.

Mesmo sendo o grande antagonista da história, Sephiroth só aparece, de fato, após umas boas horas de jogo. Os jogadores, porém, sabem do vilão desde o início, em relatos e rumores ditos por outros personagens.

Sephiroth é uma figura lendária, um herói de guerra que é o orgulho da Corporação Shinra e um guerreiro que serve de inspiração até para o protagonista Cloud.

Com o decorrer do jogo, presenciamos as consequências dos atos dele e a percepção dos personagens em volta. Com isso, a narrativa cria na mente dos jogadores uma imagem poderosa do vilão, e mais forte que qualquer cena expositiva chegaria perto de causar.

Quando finalmente testemunhamos a queda moral de Sephiroth para uma loucura megalomaníaca, o clichê de destruição da humanidade e desejo de virar um deus, que até tem a ver com origem do nome na filosofia da Kabala, não chegam a decepcionar tanto.

Dentre todos as características que fazem Final Fantasy VII ser um clássico tão cultuado, a presença de Sephiroth como um vilão tão bem construído certamente é uma peça fundamental.

Ao retratá-lo (Sephiroth) como alguém cuja a grandeza você só ouve falar e nunca vê de fato, acho que conseguimos passar bem a percepção de ele ser essa figura monstruosa nas sombras

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Yoshinori Kitase, Diretor do Final Fantasy VII original

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Canção para o vilão

Uma das músicas mais famosas em Final Fantasy, One-Winged Angel marcou Sephiroth e muitos fãs da série

Parte 2 - O legado

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  • Crisis Core: Final Fantasy VII

    RPG de ação lançado para o portátil PSP. Na cronologia, é o primeiro jogo da compilação, com história que começa sete anos antes de FF VII e explora mais as figuras dos SOLDIER, o esquadrão de elite da Shinra.

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  • Before Crisis: Final Fantasy VII

    Um RPG simples, mas com bastante foco em história, mostrando eventos de seis anos antes de FF VII e protagonizado pelos Turks, a divisão de investigação e inteligência da Shinra. Foi lançado para celulares somente no Japão, mas é possível achar um remake feito por fãs.

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  • Last Order: Final Fantasy VII

    Um anime lançado em formato OVA (Original Video Animation) que reconta um dos eventos mais importantes no universo de FF VII: o incidente de Nibelheim, assim como também mostra mais da relação de Cloud com o SOLDIER Zack.

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O "marco zero" da compilação é um RPG tradicional com combates por turnos.

Na trama, o protagonista Cloud e o grupo AVALANCHE tentam impedir que a corporação Shinra acabe com todos os recursos do planeta ao extrair uma fonte de energia chamada Mako, o que também proporcionou um avanço tecnológico nunca visto: carros motorizados, eletricidade e a construção de megalópole Midgar.

A narrativa do jogo, porém, logo se volta para a ameaça do vilão Sephiroth e a busca por uma entidade chamada Jenova.

  • On a Way to a Smile

    Livro que revela o que aconteceu com diferentes personagens entre os eventos de FF VII e o filme Advent Children. O autor é Kazushige Nojima, responsável pelo roteiro do jogo original.

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  • On a Way to a Smile: Episode Denzel

    Uma adaptação em anime de um dos contos do livro. Conta as origens de Denzel, orfão que mora com Tifa e Cloud e que tem destaque no filme Advent Children.

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  • Final Fantasy VII The Kids Are Alright: A Turks Side Story

    Outro livro de Kazushige Nojima. Apresenta o detetive particular Evan Townshend, que tem uma misteriosa ligação com a Shinra. A história acontece pouco antes dos eventos do filme Advent Children.

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  • Final Fantasy VII: Advent Children

    Um filme de animação em computação gráfica que narra eventos de dois anos após o fim de FF VII. O mundo está assolado pela doença geostigma e Cloud precisa lidar com a ameaça de três misteriosos homens, que aparentam ter ligação com Sephiroth.

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  • Dirge of Cerberus: Final Fantasy VII

    Jogo de ação e tiro protagonizado por um dos personagens secundários de FF VII: Vincent Valentine. Cronologicamente é a obra mais avançada na linha do tempo e acontece três anos depois do jogo principal, mostrando o conflito contra os últimos remanescentes da Shinra: o Deepground.

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  • Dirge of Cerberus Lost Episode: Final Fantasy VII

    Um game mobile de tiro que complementa a campanha de Dirge of Cerberus, mostrando trechos da aventura não explorados no game de PlayStation 2. O jogo foi tirado do ar em 2018.

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A revista sobre FF VII que marcou época no Brasil

O sucesso de Final Fantasy VII foi tamanho, que refletiu nas revistas de videogame da época, fazendo com que o RPG começasse a dividir também as capas que antes eram dominadas por jogos de ação, luta ou esportes.

Entre essas publicações, a Gamers Book Nº 1 é a que vem à mente dos fãs de Final Fantasy até hoje. E não é à toa: a revista era um calhamaço com cem páginas, quase todas dedicas ao RPG da Square, trazendo um passo-a-passo para terminar a campanha, esmiuçando os sistemas do jogo e detalhando a história para muitos que ainda não dominavam o inglês.

Um dos idealizadores da Gamers Book foi Fabio Santana, o Fabão. Em entrevista ao START, ele diz que o motivo para publicarem a edição especial passou longe de fatores como apelo comercial ou a popularidade de Final Fantasy VII na época:

"Queríamos mostrar como aquele gênero entregava histórias fascinantes com personagens marcantes, e desmistificar um pouco o conceito de que eram jogos chatos e complicados".

Já Eric Araki foi a pessoa diretamente responsável pela Gamers Book, jogando e escrevendo cada palavra da revista. Na época um adolescente apaixonado por Final Fantasy, ele queria fazer da edição o equivalente aos guias oficiais do jogo no Japão, os Ultimania, que eram vistos como verdadeiros livros.

"Como todo fã, eu era ambicioso demais, apaixonado demais, com vontade demais de fazer algo à altura dessa paixão", falou Araki em entrevista ao START.

A Gamers Book de FF VII demorou nove meses para ser concluída e chegou às bancas em meados de 1998. Essa gestação, segundo os autores, foi marcada por noites mal dormidas, choros em momentos marcantes do game e muita Fanta Uva.

Leia a entrevista completa com os autores da Gamers Book.

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É surpreendente o número de pessoas que hoje comentam que conheceram a série Final Fantasy pela revista Gamers, e que terminaram Final Fantasy VII e se apaixonaram pela história e pelos personagens com a Gamers Book

Fábio Santana, o Fabão, Um dos autores da Gamers Book

Os bastidores da Gamers Book

Final Fantasy VII na cultura Pop

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Hora da Aventura

No episódio "Jermaine", a 33ª da sexta temporada da animação da Cartoon Network, Jake aparece com a Buster Sword em mãos, a icônica espada do protagonista Cloud.

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Detona Ralph

A animação da Disney possui várias referências a games e a de FF VII pode passar despercebida. Na pichação do lado esquerdo está escrito "Aerith Lives" (Aerith vive).

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Turma da Mônica Jovem

Na história "O Dono do Mundo", publicada em 2009, o personagem Anjinho interpreta Céufiroti, o Anjo de uma só asa, em um game online. Uma clara referência ao vilão Sephiroth.

Parte 3 - O Remake

Divulgação/Square Enix

Um remake de rumores e problemas

Da demo de PS3 até o lançamento parcial no PS4

Um remake de Final Fantasy VII é um pedido antigo dos fãs, que ganhou força na revelação do PlayStation 3 durante a E3 2005, principal evento de games do ano, quando a Sony exibiu uma demo técnica recriando a icônica abertura do jogo no então novo videogame.

A demo foi produzida pela própria produtora Square Enix, que afirmou ser só isso: um vídeo para demonstrar as capacidades do console da Sony. No passado, a empresa já tinha feito algo similar com uma demo técnica de Final Fantasy VIII para o PlayStation 2.

Mesmo assim, isso foi o suficiente para atiçar o desejo dos fãs. A partir daí, rumores de um remake surgiam de tempo em tempos e virou até piada, mais um mito dos games para fazer companhia a Half-Life 3.

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Foi somente dez anos depois, na E3 2015 e mais uma vez no palco da apresentação da Sony, que os pedidos foram finalmente atendidos. O remake de Final Fantasy VII realmente existia e seria lançado para PlayStation 4.

Nos bastidores, porém, o desenvolvimento do remake passou por algumas dificuldades. O estúdio CyberConnect2 (Naruto Ultimate Ninja Storm), que estava envolvido na produção, deixou o projeto em 2017, com a justificativa de que o game não estava atingindo as expectativas do diretor Tetsuya Nomura. A partir de então, o desenvolvimento passou a ser feito totalmente dentro da Square Enix.

O game que chega agora em 10 abril também é só a primeira parte do remake de Final Fantasy VII, cobrindo os eventos que acontecem na cidade de Midgar. Mesmo que a campanha de marketing ou mesmo o título não esclareçam isso, o projeto teve que ser dividido em mais de um jogo e ainda não há previsão de quando a próxima parte será lançada.

Ter mais de um jogo no projeto nos permite focar em deixar tudo o que as pessoas amavam do original e ainda adicionar mais detalhes e se aprofundar mais na história como nunca antes

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Yoshinori Kitase, Diretor de FF VI original e produtor do Remake

Antes e Depois

Divulgação/Square Enix

O Remake de Final Fantasy VII faz milagres

Versão 2020 do clássico supera as expectativas dos fãs e aponta um futuro promissor

O maior vilão de Final Fantasy VII Remake não está presente no jogo e é mais forte do que Sephiroth: o monstro da expectativa. A criatura se alimentou por anos com os desejos do fãs e, quanto maior ficava, maiores eram as chances de se tornar uma decepção.

Afinal, há todo o peso de o jogo original ser um dos RPGs mais importantes da história e o próprio remake ter uma fama de lenda, daquelas que muitos só vão acreditar quando jogarem de fato. Que ironia uma fantasia virar realidade e ainda mais saber que Final Fantasy VII Remake é, sim, um bom jogo. Parece até milagre.

Leia o review completo.

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